Pesquisa da Wake Creators mostra amadurecimento, profissionalização e urgência por remuneração justa no marketing de influência

Por mais que o glamour, as festas e os “recebidos” ainda façam parte do imaginário coletivo sobre o trabalho dos influenciadores digitais, o Censo 2024 da Wake Creators expõe uma realidade mais complexa. Realizada com mais de 4.500 criadores de conteúdo de todo o Brasil, a pesquisa revela os bastidores da creator economy no país, com dados que devem acender o alerta (e o interesse) de marcas e agências.

Microinfluenciadores

Apesar do fascínio em torno dos grandes nomes, o marketing de influência no Brasil é hoje majoritariamente formado por criadores com até 100 mil seguidores, que somam 83% dos entrevistados. Esses microinfluenciadores são vistos como mais autênticos e têm poder comprovado de conversão: geram até 22 vezes mais conversas sobre compras do que o consumidor comum.

A era da influência em massa está sendo substituída por comunidades mais nichadas, leais e engajadas, onde o criador é um elo direto com o consumidor.

Estabilidade

A pesquisa escancara um abismo entre expectativa e realidade quando o assunto é monetização: apenas 9% dos creators vivem exclusivamente da renda gerada pela criação de conteúdo. O restante atua com campanhas pontuais ou, em muitos casos, nunca sequer foi pago por um job. A permuta segue como principal forma de remuneração – 67% já aceitaram produtos no lugar de cachê.

"Ter 40% dos criadores formalizados com CNPJ é um sinal claro de que muitos já encaram a influência como profissão — o que é superpositivo. Mas ainda existe um abismo entre isso e a sustentabilidade real da carreira. Para que o ecossistema evolua de verdade, é preciso avançar em educação de mercado, valorização financeira e diversidade nas campanhas", explica Julia Affonseca, diretora de negócios e operações Wake Creators.

Além disso, 86% gerenciam suas carreiras sozinhos, acumulando funções de criação, negociação, edição, relacionamento e planejamento. Ser influenciador é mais próximo de empreender do que parece, só que com menos estrutura e segurança.

"Apesar da imagem positiva e inspiradora que muitos influenciadores transmitem nas redes, a realidade por trás das câmeras pode ser desafiadora. Sentimentos como ansiedade, frustração, solidão e sobrecarga fazem parte da rotina de quase 30% dos criadores entrevistados. Esses desafios emocionais, que nem sempre são compartilhados, reforçam a importância de criar redes de apoio e ambientes mais acolhedores", completa Julia.

Para a diretora, o papel das plataformas e agências, nesse contexto, deve ser o de cuidar também da saúde emocional dos criadores, promovendo uma relação mais humana e sustentável com o trabalho.

O que eles esperam das marcas?

Em um mercado que deve atingir US$ 480 bilhões até 2027, segundo o Goldman Sachs, a relação entre marcas e creators precisa amadurecer.

A maioria dos entrevistados aponta a remuneração justa (61%) e respeito ao estilo de criação (47%) como os principais fatores para fechar parcerias. Em contrapartida, 62% recusam jobs com marcas cujos valores não se alinham aos seus.

A liberdade criativa, embora prometida, ainda não é uma realidade para todos. 41% dizem que raramente ou nunca puderam exercê-la plenamente em publis.

TikTok x Instagram

O Instagram segue como a plataforma mais usada para criação de conteúdo (97%), mas o TikTok vem logo atrás (79%), com forte adesão da geração Z. Os vídeos curtos dominam: 54% dos creators preferem formatos de até 3 minutos. Ainda assim, cresce o movimento de retorno ao YouTube, impulsionado pela busca por conteúdos mais densos e relações duradouras com a audiência.

Comunidade

O estudo também mostra que 73% dos influenciadores fazem mais sucesso com públicos de nicho e 52% desejam aprofundar esse posicionamento. A era das comunidades chegou: mais do que audiência, os creators querem conexões reais.

Na visão dos próprios criadores, o futuro da influência exige menos foco em métricas de vaidade e mais valorização da qualidade de conteúdo e da relação com a audiência. Regulamentação, diversidade e educação sobre o mercado também aparecem como caminhos para uma economia mais saudável e profissional.

Ignorar microinfluenciadores ou enxergá-los apenas como “mídia barata” é um erro estratégico. Eles não só impulsionam narrativas, como moldam a percepção das marcas em suas comunidades. E como bem lembra o relatório: "Marcas que não se lembram dos microinfluenciadores, também não serão lembradas por eles.”