Eduardo Sirotsky Melzer: concorrência saudável é sempre positiva

 

Fundado há 55 anos por Maurício Sirotsky Sobrinho, o Grupo RBS é uma das maiores empresas de comunicação multimídia do país e a mais antiga afiliada da Rede Globo em atividade. Há três meses passou por uma importante mudança em seu corpo diretivo, quando Eduardo Sirotsky Melzer, o Duda, assumiu a presidência executiva do grupo no lugar de Nelson Sirotsky — hoje presidindo o conselho de administração do grupo e também o comitê editorial das empresas do RBS —, que há 21 anos ocupava o cargo. Com Duda, o processo de expansão da empresa continua, sendo que um dos passos mais importante é o lançamento de uma operação, agora em outubro, em São Paulo, que irá fortalecer a atuação da companhia no mundo digital. Nesta entrevista, Duda fala sobre essa e outras ações, como o fortalecimento do Grupo RBS no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, e o projeto relacionado a educação, com foco na formação de profissionais. O executivo ressalta: “gente é o principal ativo de qualquer empresa”.

 

Como você avalia o relacionamento de um grupo de comunicação consolidado, fundado há 55 anos, com o mercado?
Eu não acho que o mercado estabeleça respeito por idade. Em pleno 2012, num momento em que o Brasil está inserido num ciclo de crescimento, se sobressaindo até em relação a outras economias, essa maturidade também estabelece as relações do mercado. Valoriza quem agrega valor. E eu sou muito mercado orientado. Sou muito focado nos clientes, fornecedores, internautas, ouvintes e telespectadores. Tenho muito tranquilidade de ter trânsito aberto no mercado e uma ampla rede de relacionamentos que desenvolvi ao longo da minha carreira profissional. Esse network é um ativo importante. Com tudo isso consigo cumprir meu papel de presidente da empresa. Não é uma visão unilateral. Tenho reciprocidade do mercado.

Quais são os planos futuros da RBS?
Estamos desenhando um planejamento estratégico que tem três frentes: o fortalecimento das nossas operações no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina com televisão, rádio jornal e as suas extensões em internet; a nossa inserção no mundo digital; e a área da educação.

De que forma o grupo quer se fortalecer no Rio Grande do Sul e Santa Catarina?
Nossa operação de mídia vem sendo desafiada sob vários aspectos. Queremos aproveitar os avanços tecnológicos com as mudanças de hábito do consumidor, a inserção de uma nova classe de consumidores na economia e que a nossa penetração e impacto no dia a dia dos gaúchos e catarinenses seja cada vez maior. Trabalhamos muito para fortalecer jornal, televisão, rádio e internet e a relação dos veículos desses meios com o nosso público. Acreditamos em conteúdo de qualidade e a especificidade de cada meio. O jornal impresso, por exemplo, representa um tipo de relação com o leitor, a internet representa outro tipo de relação. O que permeia tudo é qualidade, credibilidade e força da marca. A gente tem de ter capacidade de adaptar a mensagem e o formato para as distintas plataformas.

Quais os principais investimentos nos dois estados?
O investimento mais robusto nestes dois mercados já foi feito, estabelecendo uma consolidação e uma presença muito relevante nos locais. Mas ainda há espaço. E este investimento não necessariamente passa por novos veículos. Formação e qualificação de pessoas para que as pessoas produzam mais e melhor, como já foi dito, também é importante. Estamos fazendo agora um grande projeto de Copa do Mundo que, além de uma série de ações, também estamos trazendo para Porto Alegre o Jogo Contra a Pobreza, organizado pela ONU, na Arena do Grêmio (ver matéria na página 22). É o maior projeto comercial da história da RBS e nosso grande programa visando o Mundial de 2014. Fazemos isso pelo nosso compromisso com o mercado. Queremos pegar este evento e fazer com que e a Copa do Mundo no Rio Grande do Sul seja inesquecível. Podemos contribuir neste sentido, ao trazer a partida que marca o confronto entre os Amigos do Ronaldo e Amigos do Zidane. Outras ações, como trazer shows internacionais para Porto Alegre e Florianópolis, também demandam grandes investimentos, caso de Paul McCartney, que se apresentou na capital gaúcha em 2010. E ainda temos vários projetos de expandir com os veículos que já temos.

Quais são estes projetos?
Estamos criando a Rede Gaúcha. Lançamos a Rádio Gaúcha em Santa Maria e Caxias do Sul, e até o final do ano vamos lançá-la também em Rio Grande. Isso é a expansão de um negócio que já existe. Um negócio consagrado e consolidado que vai aumentar ainda mais nossos pontos de contato com o público. Temos vários projetos deste tipo, como novos cadernos para os jornais, por exemplo. É um processo permanente. Também lançamos a nossa empresa de eventos no Sul. Tem uma quantidade fantástica de investimentos que simbolizam objetivamente a nossa crença e nosso compromisso com RS e SC.

A RBS já investiu R$ 200 milhões no mundo digital. Qual é o projeto de expansão para a área?
A partir de São Paulo, vamos lançar uma nova empresa que será o grande guarda-chuva de todos os investimentos que temos feito nos últimos três anos e que faremos nos próximos no mundo digital. Trata-se de um grande projeto, previsto para ser lançado agora em outubro. A operação paulista é a materialização de um negócio que nós acreditamos e que nasceu em decorrência do planejamento estratégico. Nós identificamos que a tecnologia, o mundo digital e o mobile poderiam apresentar uma plataforma de crescimento substancial para o grupo, desde que gerido de forma adequada: aproveitando a credibilidade e a robustez do grupo e respeitando as especificidades que empresas do mundo digital têm. O ciclo de vida deste negócio é bem diferente. A maturidade é outra. A agilidade na tomada de decisões é outra. Não é melhor nem pior, é específica. Então para isso, a gente tinha que criar as condições para aproveitar no limite máximo as oportunidades do setor. Desde então começamos a fazer investimentos em empresas bem sucedidas. Também montamos negócios do zero. Estamos construindo um portfólio de empresas que estão configuradas em três pilares: e-commerce, segmentos verticais e mobile. Estamos com mais de 600 profissionais atuando em São Paulo.

E na área da educação executiva? 
Também está sendo tocada a partir de São Paulo. Iniciou-se com a aquisição da HSM do Brasil e lançamento da HSM Educação, um caminho bacana de expansão e relacionado com o ciclo de crescimento do nosso país. A formação de profissionais é um dos gargalos, e achamos que temos um papel legal para cumprir, a medida que estamos qualificando pessoas e alavancando carreiras. Além da contribuição para economia, está muito vinculado ano nosso DNA, que é formação e conhecimento.

De que forma você vê o mercado publicitário no Brasil e no Rio Grande do Sul – que em menos de um ano recebeu a chegada de duas importantes agências do Grupo ABC em sua capital: DM9 e Morya?
A minha visão do mercado publicitário do Brasil é positiva. Tem muitos desafios que estão postos a partir da proliferação de oportunidades que os clientes têm. Os consumos de mídia e entretenimento crescem significativamente. Os anunciantes, cada vez mais, vão precisar se posicionar e estabelecer uma relação objetivo com seus clientes. As oportunidades são gigantescas. É um mercado que demanda muita qualificação, muito investimento. Os desafios do mercado publicitário se assemelham com os desafios dos grupos de comunicação que é da renovação, inquietação, reinvenção, da capacidade de antecipar as oportunidades. Não dá para ficar parado. Quanto às novas agências, acho altamente positivo. É uma competição que qualifica o mercado. A concorrência saudável é sempre positiva.

Qual é a sensação de assumir o lugar que foi ocupado durante 21 anos consecutivos por Nelson Sirotky, um profissional conhecido por sua competência e carisma?
Não que seja fácil, mas para mim é muito bom. Esse processo não pegou ninguém de surpresa, pois foi planejado. Há cerca de 10 anos, quando a empresa começou a pensar na sucessão, foi criado o cargo de vice-presidente executivo. O primeiro nome a ser pensado foi o de Pedro Parente. Por várias razões, numa boa, foi decidido que ele não ficaria. Há três anos, me convidaram para o cargo. Foi um desafio muito grande. Comecei então a  incorporar outras áreas e receber o apoio e o suporte do Nelson. Nós temos uma relação única, além de uma admiração recíproca. Não somente por sermos da mesma família, mas por gostarmos muito um do outro. Toda a minha vida eu sempre me apoiei em pessoas mais experientes que eu. Sempre procurei aprender com pessoas que já tinham passado pelo desafio que eu estava passando e aproveitei cada uma destas oportunidades. Sem nenhum orgulho. Para repetir os acertos e não fazer os mesmos erros de quem já tinha experiência. O Nelson é um aliado.

Como é o “estilo Duda Melzer” de presidir?
Em primeiro lugar, eu tenho muita paixão pelo que faço, e transfiro essa paixão para o dia a dia. A minha crença absoluta é nas pessoas. Acredito que o desenvolvimento empresarial se dá a partir das pessoas. Gente é o principal ativo de qualquer empresa. Se o grupo está motivado, as pessoas se realizam mais e agregam mais valor à empresa. Sigo por esta direção para que a gente tenha os melhores profissionais e dê condições de trabalho para que consigam desenvolver suas atividades. A empresa precisa iluminar o que as pessoas tem de melhor. É preciso criar o ambiente para poder atrair e reter talentos de muita qualidade. Procuro ter uma aproximação muito grande com todos numa condição de colega. Quero fazer um trabalho de equipe para valer. Sou muito orientado para isso por que realmente acredito muito nas pessoas. Paralelamente a isso, também temos de estar muito antenados para as questões externas. É importante saber o que está acontecendo no mercado, estar a par das tendências, de gestão, etc.