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Volta e meia deparo-me com conselhos de supostos especialistas para profissionais em busca de colocação ou recolocação. E fico pensando no mico que esses profissionais pagarão se seguirem esses conselhos à risca. Mas, e por outro lado, também penso e concluo: quem se submete a esse festival de tolices, merece.

No correr de minha vida profissional e empresarial, já entrevistei e contratei aproximadamente uns 500 profissionais. Sempre mediante um papo informal e descontraído, nas dependências da empresa, e 80% do tempo procurando conhecer a pessoa por trás do curriculum para, só depois, me debruçar sobre experiência e qualificações. Sempre acreditei e continuo acreditando que é melhor ter ao seu lado uma pessoa forte, verdadeira, de caráter, ambiciosa, ainda que com menos experiência e preparo, do que o contrário. Mega big profissionais que deixam muito a desejar como pessoas.

Em todas as minhas entrevistas sempre valorizo muito mais a história de vida do profissional, sua família, seus amigos, seus hábitos e costumes, sua curiosidade, seus hobbies, leituras, filmes, peças de teatro. E a maneira como se coloca para falar sobre tudo isso, como olha, como se movimenta, como transmite sua identidade, quem verdadeiramente é. Claro que cometi alguns erros, mas, três ou quatro no máximo.

E aí leio entrevistas de especialistas em recrutamento e seleção e me apavoro diante do festival de tolices. Alguns se vangloriam de terem se disfarçado de frequentadores de bares e boates para observarem o comportamento do possível candidato nesses ambientes. Uma recrutadora contando a história que se fez passar por garota de programa e ficou até altas horas conversando com o profissional para ver sua capacidade de sedução e convencimento…

Triste e lamentável outros recrutadores que treinam profissionais para possíveis perguntas inusitadas ou bizarras, do tipo “Você acredita em Papai Noel?”, ou “Sua mãe acha você bonito?”, ou ainda “Você se considera um anão?”. E as respostas que recomendam são de lascar: “Sim, já acreditei em Papai Noel, mas hoje faço por merecer os presentes que a vida me dá”, ou “Minha mãe, além de me achar bonito, me considera o melhor de seus filhos”, ou “Não me importo de ser baixinho. Se tamanho fosse documento, Toulouse-Lautrec jamais se consagraria por quadros de grande porte”. Ou seja, um festival de imbecilidades sem tamanho.

Em síntese, nada de interpretar, de viver um personagem que você não é e jamais será. Comporte-se naturalmente, mesmo porque a entrevista é apenas a porta de entrada. O que vai garantir sua continuidade na empresa é a correspondência entre o que você falou ser, disse acreditar e como se comportaria, confrontado com a realidade dos dias, semanas e meses pela frente na empresa. Quanto maior for a correspondência, quanto maior a autenticidade, maiores as possibilidades de crescimento, realização, sucesso e, acima de tudo, felicidade.

Seja apenas e tão somente quem você é. Essa pessoa você conseguirá entregar naturalmente. Ou jamais seja quem você não é. “Fakes” e simulacros são de curta duração.

*Consultor de marketing, sócio e presidente da MadiaMundoMarketing