Nunca o termo resiliência foi tão apropriado como agora, nesses tempos de pandemia – e da famigerada crise advinda dela. Depois de mais de um ano de home office forçado e muitos setores penando para fazer algum dinheiro com os seus negócios, podemos dizer que esses empresários que resistem bravamente são verdadeiros heróis. E também são muito criativos na forma de resistir.

Alguns reduziram sua estrutura ao mínimo, abrindo mão da sede pomposa, da qual tanto se orgulhavam. Outros partiram para as soluções cabíveis, modificando radicalmente a oferta de serviços, buscando novas ferramentas e novas formas de otimizar processos de comunicação e marketing.

É o caso, por exemplo, das agências organizadoras de eventos. Na impossibilidade de realizar eventos presenciais, a solução foi se estruturar da melhor maneira para prover boas soluções virtuais. Fácil de falar, mas bastante complicado de praticar. De fato, não é simples.

O check-list de eventos presenciais pode ter centenas de itens e, com o tempo, as agências especializadas dominaram a administração de cada um desses recursos para gerar uma entrega de qualidade. E, de repente, o check-list é outro e envolve uma caixa de ferramentas de outros tipos.

Desmonta-se então uma rede de colaboradores – internos e externos – para formar outra, de características e demandas diferentes. O agravante é que os valores também são outros.

Os contratantes descobriram que é possível realizar eventos virtuais alternativos com muito menos recursos – às vezes reduzidos a um décimo, quando comparados com os eventos presenciais.

É claro que não é a mesma coisa. Não se substitui a rica experiência proporcionada por um evento presencial por outra viabilizada por intermédio de telas, sem o olho no olho e o envolvimento incomparável das interações físicas.

Mas, se o objetivo é de treinamento ou de passagem de conteúdo, simplesmente, é inegável que a opção do virtual é bastante satisfatória. Mas, sabemos, eventos têm muitos outros objetivos, além de apresentar um conteúdo. Eventos podem motivar, engajar, educar, entreter, agregar, envolver, vender, estreitar relações…

Tenho ouvido de clientes que foram obrigados a partir para o virtual que sentem falta da experiência completa, ainda que seja híbrida, para garantir um bom resultado dos seus eventos.

Tão logo tenhamos uma imunização eficaz, não tenho dúvida de que os eventos presenciais voltarão com tudo, mas enriquecidos com o aprendizado do híbrido. Ou seja, a experiência física será complementada pela virtual, alcançando muito mais gente e gerando uma opção alternativa de participação em eventos.

Saindo da área de eventos para a propaganda. Não necessariamente em função da crise da pandemia, as agências de propaganda se veem acuadas pela pressão dos seus clientes, exigindo novos formatos de relacionamento, colocando em xeque um modelo histórico, baseado na remuneração advinda da mídia.

Haja vista a recente saída da ABA, representante dos anunciantes, do Cenp, deixando manco o tripé Cliente-Agência-Veículo. Independentemente desse movimento da ABA, o mercado já vinha se adaptando a novas formas de remuneração, baseadas em fee, pessoa/hora, por performance ou custo por projeto.

O que acelerou esses novos formatos foi a dinâmica da comunicação digital, que ignora o desconto padrão como forma de remuneração às agências. As agências de propaganda e de serviços de marketing, de uma maneira geral, já vêm sofrendo pressões por revisões de modelos de atuação, mas a crise da pandemia teve um efeito catalisador importante.

Sem falar nas suas instalações físicas, que passam agora por uma transformação revolucionária, em função do regime de home office, que dá pinta de permanecer, ainda que parcialmente, mesmo depois da imunização de todos.

E prevalece o dito de Nietzsche: “O que não nos mata, nos faz mais fortes”.

Alexis Thuller Pagliarini é presidente-executivo da Ampro (Associação de Marketing Promocional) (alexis@ampro.com.br)