1. Este editorial foi redigido na última sexta-feira (11), portanto antes dos dois últimos jogos da Copa da Fifa: o de sábado, pela disputa do terceiro lugar e a grande final de domingo, que apontou a seleção campeã do mundo pelos próximos quatro anos.
Há na crônica esportiva brasileira uma discussão sobre a importância desse jogo de sábado, quando os derrotados nas semifinais se defrontaram em busca da medalha de bronze.
Embora não se trate de tema do âmbito editorial do propmark, permitimo-nos dar uma opinião na qualidade de integrantes – no caso do Brasil – de uma comunidade de 200 milhões de pessoas que sabe quem é a bola, como cutucava o genial Nelson Rodrigues, muito citado nestas últimas semanas em razão das suas máximas sobre o esporte rei.
Essa disputa (pelo terceiro lugar) deve prosseguir nas próximas Copas, porque se por um lado aumenta a dor de quem perde, por outro alivia o sofrimento de uma derrota quando tudo ainda era festa. Além do mais, um jogo entre semifinalistas, mesmo que perdedores, se reveste de inegável importância pelo fato de terem deixado vinte e oito outras seleções para trás.
E o Brasil? Se venceu a Holanda, amenizou em parte a decepção da pátria pelo desastre diante da Alemanha, o que ajudará Felipão e seus auxiliares técnicos a reforçarem a narrativa do apagão, que os advogados criminalistas costumam usar em defesa dos seus clientes denunciados por faltas graves contra o Código Penal. É a chamada perturbação dos sentidos, mais aceita pelos tribunais em épocas passadas, mas sempre uma possibilidade a mais de redução da responsabilidade.
Porém, atletas experientes, regiamente pagos e, acima de tudo, convocados para o uniforme pentacampeão do mundo, não podem coletiva e objetivamente ter esse tipo de diminuição da capacidade de discernimento. Mesmo se a violenta falta que retirou Neymar do jogo anterior tivesse ocorrido nos instantes iniciais da partida contra a Alemanha.
Deixamos, no entanto, para os especialistas a possível explicação para o massacrante 7 a 1, permitindo-nos apenas entender que revelou de um lado uma capacidade extraordinária em busca do objetivo do jogo e do outro lado exatamente o oposto: uma incapacidade idem.
2. Vida que segue, porém. Tudo passa e tudo sempre passará, como diz a canção. Lamentamos apenas pelo choro das nossas crianças, que ainda inexperientes (desgraçadamente, nem todas) em face às desilusões da vida, apostaram suas crenças na vitória final, embaladas por um clima diverso do período pré-Copa.
Com o início da disputa, a nação se vestiu de verde e amarelo, contagiando até os mais pessimistas e de forma arrebatadora o público infantil brasileiro.
Sentimos muito por eles, mesmo com os profissionais da mente e do comportamento opinando que são as derrotas que preparam para a vida. Compreendemos o que querem dizer, da mesma forma que vislumbramos nisso uma alternativa em busca do conformismo. E nesse quesito não podemos exagerar, sob pena de comprometermos o ideal da luta pela vida.
3. Quanto à comunicação do marketing, tema central das pautas do propmark, tivemos três momentos distintos, como sempre ocorre em ocasiões como esta de incertezas, adesões e decepção total.
Não muito antes da Copa, o país viveu de incertezas quanto à sua realização dentro dos critérios organizacionais estabelecidos pela Fifa, tão rigorosa com eles e tão contraditória a respeito de determinados desvios de conduta.
Com o jogo de abertura do Brasil contra a Croácia, no Dia dos Namorados, o povo mudou de opinião diante das imagens espalhadas pelo mundo, mostrando a beleza de um estádio repleto, com habitantes de muitos outros países além dos dois em disputa e a alegria gerada pelas cores das roupas e fantasias que os mais soltos se dispuseram a vestir.
Apesar das ofensas de baixo calão à pessoa da presidente da República, que alguns especialistas, desculpando, poderiam recorrer a uma espécie de apagão daqueles que se dispuseram a isso e que, todavia, merecem repúdio, a festa transcorreu bem com um final feliz e vitória brasileira.
Alguns senões ao show de abertura, muito distante do que a tevê costuma mostrar em outros megaeventos.
A partir daí, a Copa passou a contagiar o país até então em dúvida.
A mídia e a publicidade – exercendo o seu papel – influenciaram de forma definitiva no levantamento do ânimo da população diante da Copa. A adesão foi total.
Com a derrota diante da Alemanha, a Copa acabou para os brasileiros, mesmo faltando a disputa acima defendida pelo terceiro lugar.
A publicidade acompanhou o desânimo público e só restou a mídia, observando e questionando os fatos, com os acertos e erros próprios de um trabalho que tem muito de opinativo.
4. O Brasil retoma a sua vida normal, a publicidade de todos os anunciantes e produtos/serviços volta a ocupar seus lugares na mídia, muitos tentando recuperar o tempo perdido, cuja contabilidade jamais poderá ser feita. Feriados locais, jogos, festas, CarnaCopa, tudo serviu para dar um tempo na sexta economia mundial.
O país adormeceu e sonhou um sonho possível. O alegado apagão dos jogadores estourou o balão dos sonhos, como nos desenhos animados onde sempre um distraído faz a história ser interrompida.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2506 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 14 de julho de 2014