Na semana passada, estive envolvido na organização do roadshow Gestão Total, organizado pela Fenapro e Sinapros. Foram realizadas as etapas de Recife e São Paulo. Agora virão as etapas do Rio (3/5) e BH (11/5). O evento propõe uma profunda discussão de quatro vertentes da gestão para agências de propaganda: Financeira, Operacional, de Conteúdo e de Projetos. As apresentações, os debates e participação ativa e interessada dos gestores de agências presentes demonstram a pertinência do tema nos dias de hoje.
De fato, a conjuntura econômica brasileira demanda, hoje, maior rigor com a gestão de negócios. Aliás, independentemente do momento econômico, os negócios em geral – incluindo o setor de agências – precisam não só de maior atenção à gestão, como também a flexibilidade para mudanças constantes de modelo e de forma de atuação. Que tal restartup?
Estamos convivendo com um movimento mundial das startups. Jovens (ou não) empreendedores intrépidos que se encantam com a ideia de gerar negócios inovadores e se transformarem em novos Bill Gates, Steve Jobs, Mark Zuckerberg, Jack Dorsey, Jeff Bezos ou ElonMusk.
Esse é um movimento que atrai cada vez mais talentos, hipnotizados pela ideia da grande tacada, que os façam sair de garagens e reuniões noturnas entre pizzas para o estrelato no mundo dos negócios. O Nirvana é conquistar investidores ou partir para um IPO e ficar milionário em pouco tempo.
Mas não é só isso que atrai jovens talentos. É também o ambiente descondicionado, o entendimento de que tentar, errar, tentar novamente e reiniciar o ciclo criativo fazem parte do processo.
São negócios e processos que nascem de sessões de design thinking e são apresentadas ainda em desenvolvimento, para que o aprimoramento surja da interação com os stakeholders que aparecem ao longo da jornada da sua viabilização. Muitos ficam pelo caminho, é verdade. Os sonhadores se espelham nos nomes que aparecem em capas de revista de economia, mas se esquecem dos tantos e tantos anônimos que viram seus conceitos fracassarem antes de emergirem à luz do sol. Mas o que me motivou a escrever esse texto foi a discussão em torno da gestão nos eventos recentes que me referi.
Um dos palestrantes – o experiente profissional da área de finanças em agências Antonio Lino Pinto – enfatizou que, na sua jornada profissional de décadas, não presenciou mudanças significativas na forma de operar das agências de propaganda. O processo continua se repetindo, como se o mundo dos negócios não estivesse em intensa revolução por aí afora. Daí a minha proposta expressa neste artigo.
Que tal restartar sua agência? Não digo jogar fora tudo o que de bom se construiu e se aprendeu, mas ter o desprendimento de tentar mudar processos. Num evento recente sobre economia criativa, vi uma apresentação de uma empresa gigante (se não me engano, a GE) que decidiu criar uma empresa com objetivo de “matar” a empresa mãe.
Isso mesmo: criar embaixo do mesmo guarda-chuva do grupo uma “inimiga”, uma concorrente feroz, que apresente conceitos inovadores, disruptivos. Algo para se pensar.
Que tal criar uma agência que atue de forma totalmente diferente da sua para concorrer com você mesmo? Sei lá, uma que esteja baseada nos princípios de consultoria. Ou na geração de ideias, projetos ou produtos proprietários, que não nasçam necessariamente de um briefing de um cliente…
Sei que já tem gente fazendo isso, mas é ainda um movimento tímido e cauteloso demais. Não digo chutar o balde. Repito que devemos tomar cuidado para não jogar o bebê junto com a bacia de água do banho.
Há conquistas importantes que o setor das agências conquistou que merecem ser preservadas. Talvez um bom caminho seja dar mais atenção às startups que estão nascendo por aí. Sabemos de diversas iniciativas de agências que estão abrindo suas portas para receber startups e, no mínimo, aprender com elas. O importante é não ficar parado, vendo a inovação passar do outro lado da rua.
Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda)
alexis@fenapro.org.br