Por exemplo, em uma delas, o Instituto Datafolha perguntou aos entrevistados o que acham do governo Bolsonaro.

As respostas pertenceram a três blocos: bom, regular e péssimo, com porcentagens praticamente idênticas na coleta das opiniões em cada bloco: um terço dos entrevistados votou pelo bom. Um terço pelo regular e um terço pelo péssimo, com pequena margem de diferenças entre os totais apurados.

De forma distorcida, alguns noticiários divulgaram que o atual governo perdeu feio nessa pesquisa, sem se darem conta de que regular é muito distante do péssimo, curiosamente se aproximando mais do bom. Mesmo que esta questão semântica não seja levada em conta, teríamos na pior das hipóteses um empate técnico, que não justificaria os comentários finais acerca das pesquisas, retratando-os como uma derrota para Bolsonaro.

Esse tipo de interpretação facciosa de uma pesquisa compromete a seriedade da mesma, porque revela uma manifestação de torcida, o que um trabalho sério como ser qualquer pesquisa e muito mais quando o tema pesquisado, além de ser de interesse nacional, pode, com a sua distorção interpretativa, conduzir a erro de julgamento da opinião pública.

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Deve-se respeitar o resultado das urnas, quaisquer que fossem, como já ocorreu no passado recente, com partidos políticos agora derrotados, mas que ganharam de forma sucessiva as eleições realizadas. Que fique bem claro que não estamos defendendo o governo atual. Acreditamos mesmo que nele há muitas falhas, principalmente uma certa confusão continuada no alto comando, que acaba perdendo quando quer causar, como fazia o finado Jânio quadros, renunciante me 1961 após apenas sete meses de governo, abrindo as portas para o país desembocar no 31 de março de 1964 (alguns preferem o 1º de abril), com todas as suas terríveis consequências.

Como esta publicação trata de propaganda, que aliás é a sua própria denominação e por ser uma das mais antigas revistas dedicadas ao mercado publicitário brasileiro, um dos mais criativos (que o diga o Cannes Lions) e também um dos mais poderosos do planeta em movimentação de verbas, cabe-nos observar ao novo governo brasileiro um dos seus erros capitais desde quando empossado: recusar-se a praticar a atividade publicitária em larga escala, preferindo ações curtas e despretensiosas, que não tem dado a todo o país o mesmo recado que um poder de fogo maior na utilização da mídia poderia dar.

O mais complicado nessa relutância do governo federal em lançar mão do arsenal publicitário brasileiro (agências, meios, profissionais reconhecidos mundo afora, alcance de todo o país pelos principais meios etc.).

Não dá para entender essa postura, principalmente porque Bolsonaro é o reverso de uma moeda que custou muito caro ao país, em virtude de erros impensáveis e do assalto hoje bastante conhecido do erário público, o que deslustra qualquer governante.

Já sabemos de há muito que a esquerda é ótima na oposição e péssima no governo. Isso vem de longe e nossos avós já sabiam. Portanto, que se mantenham apontando os erros de quem esta no poder, para que possam ser mais rapidamente corrigidos. Só esse tipo de bons serviços prestado valoriza a meu ver a atuação da esquerda.

Mas, como dissemos, tem limites. Eles se situam na linha divisória entre governantes e governados. É exatamente nesta última condição que as esquerdas se consagram, com a coragem crítica que seus líderes e seguidores sempre tiveram.

Aí reside um bem que pode permanentemente ser feito ao nosso país.

 

Armando Ferrentini é presidente da Editora Referência.