As apostas sobre quanto tempo dura a indústria do papel e em qual intensidade as revistas devem migrar para o digital dividiu editores brasileiros dos principais grupos de comunicação do país, que estiveram reunidos nesta quarta-feira (24) para o VI Fórum de Revistas da Aner (Associação Nacional dos Editores de Revistas), em São Paulo. No encontro, publishers nacionais e estrangeiros debateram sobre como reinventar as publicações em papel, a importância da credibilidade para o negócio e as mudanças à frente com um leitor cada vez mais digitalizado.
Thomaz Souto Corrêa, vice-presidente do conselho editorial do Grupo Abril, afirmou que o principal desafio para as revistas é a reinvenção das publicações no papel. Ele pediu que os editores tenham fé na permanência do impresso e que dediquem-se a melhorar a qualidade do conteúdo jornalístico, com pautas que surpreendam o leitor. “Não descuidem da revista impressa para tomar o caminho do digital. Não abandonem o que sabemos da arte e da técnica de fazer revista”, aconselhou. “Temos décadas de revistas impressas pela frente. Pelo menos mais 80 anos”, disse.
Sua apresentação contrapôs as falas de Timothy O’Brien, editor-executivo do The Huffington Post. O HuffPost é o portal de notícias com a maior audiência da internet nos Estados Unidos, à frente de tradicionais publicações como o Wall Street Journal, segundo números próprios. O’Brien alertou os editores brasileiros sobre o aumento incontornável do número de leitores que buscarão notícias em plataformas móveis e digitais. “O preço da internet ainda é caro no Brasil, assim como o preço de tablets e smartphones, mas a tendência é que esses produtos tornem-se mais acessíveis. O negócio de vocês precisa estar preparado para um tsunami”, disse.
Em junho, o HuffPost lançou uma revista desenhada essencialmente para iPad, com a integração entre texto e vídeo e privilegiando imagens e infográficos. O motivo para o novo produto é a quantidade de usuários de internet que possuem tablets nos EUA, hoje em 29%. “O que complica a nossa indústria é que esse percentual irá apenas acelerar. Como editor, precisamos estar nos dispositivos. Não é uma questão científica saber quando se deve agir. Ninguém sabe qual é o momento certo, mas precisamos correr riscos”, afirmou.
Roberto Mulayert, presidente da Aner, lembrou das dificuldades da indústria do papel na Inglaterra, que decresceu em valor 26% nos últimos cinco anos. Rupert Heseltine, ceo da Haymarket, da Grã-Bretanha, mostrou como sua empresa logrou a queda da circulação e da receita financeira ao migrar para países emergentes, onde a indústria do papel ainda é forte, como na Índia. Sua companhia tem hoje 75 revistas, distribuída em oito países, todos fora da Europa.
Dados apresentados pelo executivo mostram que a circulação de publicações impressas caiu de 1,2 bilhão de cópias em 2007 para pouco mais de 810 milhões de cópias neste ano, uma retração de 35%. A queda também impactou o faturamento, que saiu de 1,9 bilhão de libras em 2007 para 1,4 bilhão neste ano. “Esse não é o momento mais fácil para a indústria do papel em meu país, tanto pela crise econômica que nos assola quanto pelas revoluções provocadas pela mídia digital. Contudo, há oportunidades”, frisou.
O executivo defendeu que as mudanças na indústria da mídia, como o avanço tecnológico dos dispositivos móveis e sua rápida popularização, são incontroláveis. Ele argumentou que a forma de obter sucesso é com foco nas necessidades do leitor. “Você pode controlar a qualidade do seu produto e do seu time editorial, mas não pode controlar o que o time de Steve Jobs está fazendo. Não há nada a fazer sobre isso. Apenas assegurem que vocês irão adaptar-se”, aconselhou.