Nesta quarta-feira (12), a Justiça Federal ouviu o publicitário Ricardo Hoffmann, réu em uma ação da Operação Lava Jato, que se colocou à disposição para um acordo de delação premiada. A proposta, no entanto, teria sido negada pelo Ministério Público Federal (MPF).

Hoffmann foi preso na 11ª fase da Operação Lava Jato, quando pela primeira vez as investigações, então exclusivas na Petrobrás, chegaram a outros órgãos públicos, como Caixa Econômica Federal e Ministério da Saúde – clientes da então Borghi Lowe, hoje Mullen Lowe. Na ocasião, o ex-deputado André Vargas e o irmão dele, Leon Vargas, também foram presos – eles também seriam ouvidos nesta quarta-feira, mas preferiram se manter em silêncio.

O publicitário contou em depoimento que participou de três reuniões com integrantes da Lava Jato, que não demonstraram interesse no acordo de delação premiada, negado no último encontro. Hoffmann disse ainda que seu depoimento seria utilizado para que a investigação procurasse a Borghi Lowe para um acordo de leniência. “Pelo o que me consta, isso progrediu”, disse Hoffmann. Segundo informações do  G1, o MPF informou que não comenta acordos de delação premiada ou leniência que não foram homologados.

Hoffmann disse ainda que negou ter pedido influência de Vargas para obter contratos, mas admitiu ter feito pedidos informais. “Eu pedia, ‘olha, se alguém perguntar por nós, você diz que pelo menos me conhece, que sou sério, que não vou fazer nenhum tipo de sacanagem”, relatou o publicitário, que confirmou ter repassado dinheiro para empresas de Vargas, mas pensando se tratar de verba de BV.

“Há uma praxe de mercado de terceirizados concederem crédito, na faixa dos 10%, às agências de publicidade. A Borghi Lowe, por regra geral, não aceitava, não fazia uso. Em um momento resolveu fazer uso para repassá-los para empresas indicadas pelo André Vargas. Não foi decisão minha, eu era subordinado”, afirmou Hoffmann, creditando a orientação à presidência da agência.

De acordo com Hoffmann, foi André Vargas quem o procurou para pedir doações de campanha. O publicitário teria levado o caso à presidência da Borghi Lowe, que informou não fazer doações para partidos ou candidatos, mas que o publicitário poderia repassar para Vargas os BVs que até então não eram recebidos pela agência. Hoffman se emocionou durante a audiência e disse que não sabia estar praticando algo ilegal.

O CASO

Ricardo Hoffman, ex-vice presidente da Borghi/Lowe Brasília, agência que atendia a conta da Petrobras Distribuidora em sua unidade no Rio de Janeiro, foi preso em abril deste ano pela Operação Lava Jato. Além da Petrobras, Hoffman é citado por investigações sobre esquemas de lavagem de dinheiro na Caixa Econômica Federal,  assim como o Ministério da Saúde.

De acordo com um despacho do juiz Sergio Moro sobre investigações no banco do governo federal, há indícios de que a agência solicitava às empresas subcontratadas da Caixa que pagamentos vultosos, sem contrapartida de serviços, fossem depositados nas contas das empresas LSI e Limiar, controladas pelo então deputado André Vargas (Ex-PT-PR) e seus irmãos. Vargas, inclusive, foi cassado pela Câmara no fim do ano passado por relações com o doleiro Alberto Youssef.

“Os fatos caracterizam, em princípio, crimes de corrupção, com comissões devidas à Borghi/Lowe, agência de publicidade contratada por entidades públicas, sendo direcionadas como propinas e sem causa lícita a André Vargas por intermédio do estratagema fraudulento” diz o documento assinado pelo juiz.

Hoffman saiu da agência no ano passado.