Mesmo com a liberação pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para a venda de linhas em estados onde estavam proibidas desde o último dia 3, as companhias de telecom, que elevaram em R$ 4 bilhões os investimentos para os próximos dois anos, chegando a R$ 20 bilhões, não saíram do foco midiático. Isso aconteceu após um relatório do escritório de São Paulo da agência reguladora apontar que a TIM derruba ligações do plano Infinity Pré, que é cobrado por ligação e não por tempo de ligação.
De nada adiantou a Anatel emitir nota de esclarecimento informando que o relatório está em fase de “instrução” e de que “somente após a regular tramitação do processo, com direito ao contraditório e à ampla defesa da prestadora, a agência irá deliberar sobre o assunto”. Ou a TIM negar “veementemente que eventuais quedas de chamadas de seus clientes Infinity sejam motivadas por ação deliberada da companhia” e afirmar que houve graves “erros de processamento” que levaram a “conclusões erradas”. Com isso, a relação entre a empresa e a agência promete novos episódios quentes.
Na opinião do chefe do departamento de marketing da ESPM, Marcelo Pontes, uma das duas empresas terá muitas explicações a dar aos consumidores e à sociedade. “Uma das duas marcas sairá bastante arranhada”. Segundo ele, à TIM, com a imagem bastante impactada, caberia, além de falar que o diagnóstico da Anatel está errado, mostrar o que há de incorreto. “Todas as pessoas com Plano Infinity, no mínimo, vão pensar se continuam ou não com o serviço”. O novo fato colocou mais tempero nas críticas envolvendo as operadoras e mais argumentos para a criação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), que foi protocolada pelo deputado Ronaldo Nogueira (PTB-RS) contendo 246 assinaturas. O próprio presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), já prometeu trabalhar para que seja instalada.
Entre os pontos que a comissão pretende discutir estão os preços cobrados quando o usuário faz uma ligação para um número de outra operadora, denominada de interconexão; a questão das antenas, cuja burocracia para instalá-las, na opinião das operadoras, é um dos principais responsáveis pelo momento atual, entre outros. De acordo com Jerônimo Georgen, do PP-RS, um dos articuladores para a instalação da CPI e crítico dos serviços prestados pelas teles, até a saída em maio deste ano do presidente do TIM, Luca Luciani, pode entrar nas investigações dos deputados.
Para Pontes, uma questão importante quando se analisa o quadro atual é o impacto que os problemas nas teles podem vir a representar para a imagem brasileira, que concentrará os megaeventos esportivos dos próximos anos. “Hoje, independentemente de qualquer coisa, as marcas de quatro operadoras estão sendo questionadas. Daqui a dois anos, se os serviços continuarem ruim, além dessas empresas, a marca Brasil será prejudicada”.
O comentário está em linha com matéria publicada pela revista inglesa The Economist, que alerta para os riscos de um apagão na telefonia móvel do país. Um levantamento da publicação demonstrou que a sobrecarga das redes de telefonia móvel de Londres no período dos Jogos Olímpicos foi superior em sete vezes à de Pequim, na China, que recebeu o evento em 2008. Ou seja: se a expansão da demanda continuar neste nível e a oferta não registrar evolução significativa, o país pode ter sérios problemas.
Campanhas
Ao mesmo tempo em que acontecem as movimentações em Brasília, com críticas e até ações judiciais, as operadoras tentam reforçar suas imagens após a suspensão, com o lançamento de campanhas abordando o compromisso com os clientes, usando o mesmo roteiro traçado no período da medida cautelar, como é o caso da Claro que mantém campanha estrelada com Fernanda Lima, tratando dos investimentos da empresa. Segundo Pontes, as operadoras tinham que dar alguma satisfação, porém o conteúdo explicativo não interessa aos consumidores. “O que eles fizeram foi, para a imprensa, tentar explicar de forma mais técnica, e para os consumidores, propaganda falando dos bilhões investidos. Realmente, tinham que dar alguma satisfação, mas não adianta ir para a televisão com algum famoso ou enviar torpedos citando bilhões em determinada quantidade de tempo. O consumidor quer que o celular funcione e conseguir falar”, analisa o professor.
A ordem das companhias, contudo e ao que parece, é tocar a vida e os negócios, até para aproveitar as datas importantes como o Dia dos Pais, presente em campanhas das quatro operadoras. A Vivo, que tem mantido discrição em meio ao caos, empreendeu uma ação agressiva ao distribuir até três chips por CPF com R$ 10 de carga, ao passo que a TIM voltou a investir em campanha para o Infinity-Pré, em ação criada pela WMcCann e estrelada por Daniele Suzuki, lançada antes de o relatório vir a público.