O publicitário Roberto Justus, presidente da Y&R, a maior do País, tem planos para deixar o comando da agência. “Lá na frente, pretendo largar a presidência executiva. Não tenho prazo para isso, mas gostaria de ficar apenas na presidência do conselho do grupo (Newcomm, que controla a Y&R, Wunderman, Energy Power by Y&R e Ação).

– Mas você deixaria a presidência da Y&R já em 2009?
“Não sei, não defini prazo”, repete o animado Justus, um profissional que chama a atenção do mercado por sua habilidade empresarial e por sua vida de pop celebrity, inicialmente exposta por relacionamentos com mulheres famosas e anualmente incrementada por um programa de
televisão.

Se a data para deixar o comando da Y&R ainda não está definida, o fato é que Justus reflete sobre a decisão. Aparentemente, para se dedicar mais à carreira artística. No ano que vem, faz questão de ressaltar, completará 29 anos de trabalho na publicidade. “Daqui a pouco são 30
anos. Já dá para me dar ao luxo de escolher o que eu quero”, argumenta.

– E o que você quer?

“Hoje estou muito envolvido com o lado operacional. Quero ser um presidente on demand. Se precisarem de mim, eu vejo se posso estar à disposição. Acho ótimo o Warren Buffett. Ele não marca reuniões. Quero ser igual a ele”, revela, comparando-se ao megainvestidor americano.
No lado artístico, Justus diz estar “levando a sério” suas aulas de canto. Ele gravou um CD no início deste ano e fez recentemente duas “palestras-show” nas quais solta a voz. Quer fazer mais ano que vem. “Ainda estou agendando”. Não sabe se é tenor, baixo ou barítono. “Tenho um timbre diferenciado. Não sei como eles me definem”. A parte musical do publicitário acontece nos finais de semana e as gravações do programa “O Aprendiz” tomam dois meses do seu ano de trabalho. “É sacrificante. Perco minha ginástica, algumas coisas”. Neste ano, haverá um tempo extra para o cruzeiro “Aprendiz Universitário”.

Na publicidade, Justus vive um momento de bons resultados no comando da Y&R e do grupo Newcomm. Formou um time de executivos de ponta para desenvolver as empresas. “Está tudo indo tão bem que não vou mexer em time que está ganhando. O segredo é saber delegar”, ele diz.

A agência de publicidade cresce com números impressionantes e ano após ano vem consolidando uma liderança disparada. Só neste ano, até o mês de outubro, sem considerar os descontos praticados por veículos, ela faturou em compra de mídia, segundo dados do Ibope, R$ 3,64 bilhões. É bem mais que o dobro da segunda colocada, a JWT, que faturou R$ 1,52
bilhão no período.

Na semana passada, ao comentar sua intenção de deixar a presidência executiva da Y&R, Justus anunciou um novo nome para a vice-presidência de criação da agência. Saiu Tomás Lorente, que estava no cargo há três anos, e entrou o redator Marco Versolato, que era diretor de criação da DPZ. Justus argumenta que a troca faz parte de um projeto de reposicionamento para que a Y&R seja percebida como uma “agência mais criativa”.

Ele admite porém que a “dimensão” da Y&R pode dificultar resultados criativos. “É muito mais fácil uma butique criativa ter uma percepção de maior criatividade. A dimensão atrapalha um pouco. Temos 22 grandes clientes e um deles (Casas Bahia) atua no varejo, “que é massificante, que é complexo para ter diferencial criativo”. A criação e toda estrutura de atendimento para Casas Bahia continuam separadas, em São Caetano do Sul, da operação da Young em São Paulo, onde são atendidos os outros 21 clientes da agência e onde Versolato passará a comandar a criação.

A criação, na opinião de Justus, não só para publicidade como para qualquer empresa, “é tudo!”. “A gente está careca de ver. O que movimenta é a pertinência, a adequação. Hoje a Y&R é um mix, com pensamento estratégico muito forte, que planeja muito. A empresa pensa
negócios e o que estava precisando era arejar um pouco mais a área de criação”.

Sobre exemplos de trabalhos criativos do mercado publicitário, Justus responde que é “exigente demais”. “Já fomos mais criativos. Mas, no passado, a criatividade era diferente, o mercado era diferente e o consumidor idem. Chamar atenção era mais fácil. Não havia esse volume de diferentes mídias. Hoje tem de criar o online e o CRM. Está muito mais espalhado. É mais difícil de acompanhar. O mundo evoluiu mais nos últimos 10 anos do que nos 50 anteriores. Acho que temos de dar um desconto, mas, em geral, a criação se pasteurizou demais. Acho que no passado, a profissão tinha mais charme e o produto era melhor”.

– De quais campanhas você gosta?

“Não vou falar e serei deselegante porque vou falar de outras empresas. Algumas agências fazem um trabalho brilhante. Almap, F/Nazca e Loducca têm coisas interessantes. A Africa faz coisas bacanas. Nossos concorrentes são muito competentes. A Lew’Lara também está
entre as mais criativas. A Y&R está no bolo, mas eu quero que ela acelere essa percepção.”
Sobre a situação do mercado, Justus afirma que 2008 foi um ano “fantástico para os negócios em geral”, mas que o “derretimento” do mercado internacional gera precaução. A Y&R, segundo ele, terá um crescimento “acima de 20%” neste ano e de 5% em 2009.

por Marcello Queiroz

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