Defensor das revistas e do papel

 

O mercado de comunicacão brasileiro lamenta a morte de Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração e diretor editorial do Grupo Abril, presidente da Fundação Victor Civita, editor da revista Veja e presidente do Conselho de Administração da Abril Educação. Ele nasceu em Milão em 9 de agosto de 1936 e faleceu neste domingo, 26 de maio de 2013, aos 76 anos. Roberto Civita teve falência múltipla de órgãos, após três meses tratando-se de um aneurisma abdominal.

Civita é sinônimo de revistas no Brasil e Roberto dedicou a maior parte de sua vida ao universo da mídia impressa. Seu pai, Victor Civita, era americano nascido em Nova York, e a mãe, Sylvana, italiana de Roma. Deixou a Itália com dois anos e meio, morou em Nova York até os 12. Passou a adolescência em São Paulo, e, bom aluno em matemática, ganhou uma bolsa para estudar física nuclear na Rice University, no Texas. Desistiu de ser cientista e, como gostava de escrever, amava o teatro, e o pai já havia fundado a Editora Abril, publicando revistas da Disney e fotonovelas, enveredou pelo mundo editorial. Formou-se em jornalismo na Universidade da Pensilvânia, e em economia pela Wharton School. Cursou ainda pós-graduação em sociologia na Universidade de Columbia.

Seu primeiro estágio foi na revista Time, quando teve oportunidade de conhecer a maior e melhor empresa jornalística do mundo, na época. No final dos anos 50, foi chamado ao Brasil pelo pai. Roberto permaneceu mais de 50 anos no grupo e ajudou a escrever a história do jornalismo brasileiro. Criou a revista Veja ao lado de Mino Carta em 11 de setembro de 1968. A primeira capa da revista foi a imagem de uma foice e de um martelo. “Uma revista tem que nascer gritando, não pode nascer dormindo”, justificou na época. E de fato nasceu – e assim se manteve ao longo do tempo. Embora tenha demorado a dar lucro, Veja tornou-se uma das maiores revistas semanais do planeta e jamais deixou de ser o maior faturamento publicitário da Editora Abril.

Em 1990, ele assumiu a presidência do grupo, após a morte do pai. A partir daí, iniciou-se um período de grande diversificação de negócios da empresa. Naquele ano, a Abril foi pioneira ao lançar a primeira TV segmentada do Brasil, a MTV. Hoje, a Abril publica 54 títulos regulares – sete estão entre os dez mais lidos do Brasil –, e possui mais de 80 sites e portais.

A divisão Educação é líder no provimento de conteúdo para alunos e professores dos níveis infantil ao fundamental e engloba as editoras Ática e Scipione, os sistemas de ensino Anglo e SER, além dos colégios pH do Rio de Janeiro e ETB de São Paulo.

Batalha

Defensor das revistas e do papel, Civita costumava dizer que a coisa mais importante é entender o leitor, a audiência, o público. A batalha, segundo ele, passou a ser pelo tempo das pessoas. Para ele, a concorrência não era só a TV ou a internet, mas o trabalho, o sono, o namoro, a comida. O futuro, para ele, está no conteúdo – independente da plataforma. Mantinha-se atento aos seus produtos. Lia diariamente as revistas da editora, arrancava páginas, enviava aos editores com recados.

Sua principal missão no grupo, nos últimos anos, foi pensar em estratégia e conteúdo. Seu filho, Giancarlo Civita, preparado por ele para assumir a presidência da Editora Abril, hoje é vice-chairman da Abrilpar, e assumiu interinamente as funções do pai junto ao grupo. Na última sexta-feira, o grupo já havia promovido Jairo Mendes Leal a presidente da Abrilpar, com Fábio Barbosa assumindo o comando da Abril Mídia – antes sob responsabilidade de Leal.

Civita tornou-se uma espécie de porta-voz do mercado sobre o tema liberdade de expressão. Foi convidado a falar a respeito nos últimos dois Congressos da Indústria da Comunicação. Foi frequentemente criticado pela conduta editorial à frente de Veja. Gostava de praticar um jornalismo que gerasse “reações fortes”. Para ele, liderar Veja era uma missão e uma posição que sempre defendeu foi que uma revista deve saber o que quer, deve ter posicionamento e opinião. Não queria agradar a todos.

Civita também integrava o Conselho Superior do IVC (Instituto Verificador de Circulação) e o Conselho Deliberativo da ESPM, onde idealizou o curso de pós-graduação em jornalismo e direção editorial. Também era membro do Board of Governors do Lauder Institute e o do Wharton Advisory Board.

Elegante, espirituoso, risonho e perspicaz, Civita tinha entre seus prazeres fumar cachimbo, ver filmes antigos e passar as horas de lazer em seu sítio, em São Lourenço da Serra, a cerca de 40 quilômetros de São Paulo. Casado com Maria Antonia Civita, tinha três filhos e seis netos.

Defensor da liberdade

Roberto Civita foi defensor contumaz da liberdade de expressão. Quando participou do IV Congresso Brasileiro de Publicidade, em julho de 2008, fez um discurso comprometido com o respeito da liberdade e democracia: “A liberdade de manifestação do pensamento, além de constituir num direito natural do homem, é o pressuposto básico de todas as demais liberdades”.

Segundo o executivo, para exercer e manter esses direitos, é condição indispensável que a informação também seja livre, como garante a Constituição brasileira. A respeito da publicidade, na época, Civita disse que o setor é um dos pilares da imprensa livre e independente. “Sem ela seria impossível manter o pluralismo dos meios de comunicação”, ressaltou.

Ele disse ainda que a publicidade é parte essencial das economias livres e estimula a concorrência, além de ajudar na criação de empregos. “Existe uma indissolúvel dependência entre livre iniciativa, liberdade de imprensa e democracia e isso forma um tripé que é essencial para o mercado”.

Civita sempre esteve presente em momentos importantes para o mercado. Ele também compareceu ao V Congresso Brasileiro da Indústria da Comunicação, realizado em junho de 2012, em manteve sua convicção em torno da liberdade de expressão.

A relação indissociável entre a liberdade e a democracia foi um dos pontos de destaque do painel que teve a participação de Civita. Ele lembrou, na ocasião, que a Constituição Federal garante a liberdade de expressão e o acesso do povo à informação, ressaltando, porém, que tanto anunciantes como veículos e agências precisam ser responsáveis. “As empresas precisam ser responsáveis pelos produtos que fabricam, a mídia pela informação que veicula e as agências pela criação e divulgação das campanhas”.

Para Civita, a liberdade fundamental assegurada pela Constituição aumenta a responsabilidade dos comunicadores e “isso também vale para a propaganda”. Segundo ele, é papel do Estado é garantir a liberdade de expressão.