O Grupo Cambuci, sim. Com quase 70 anos de atuação no mercado brasileiro, o detentor das marcas esportivas Stadium e Penalty, esta última responsável por 80% da receita da companhia, reestruturou a operação e chegou à liderança do setor calçadista para futebol, no ano passado, numa disputa com as gigantes globais Nike e Adidas. O volume de vendas da marca cresceu 20%. Para este ano, a projeção é de mais crescimento, da ordem de 15%.

As mudanças, cruciais para o bom desempenho apresentado, tiveram início no fim de 2015 e incluíram a troca do presidente, fechamento de fábrica no Paraguai e cortes de despesas com a substituição da maior parte das matérias-primas importadas por materiais fabricados no Brasil. Ganhou fôlego para enfrentar as dificuldades do setor no ano passado e recuperar mercado. A produção de todos os artigos esportivos da companhia, divididos em cinco segmentos: bolas, calçados, confecção, equipamentos, e meias e meiões, foi centralizada nas fábricas de Itabuna e Itajuípe, na Bahia. Em 2016, ampliou sua produção de chuteiras em 25%, sob investimento de R$ 12 milhões.

Cesar Ferreira, que há um ano e meio está à frente da empresa, veio da Wurth do Brasil (setor automotivo), onde trabalhou por 18 anos, negócio totalmente diferente da área atual. O executivo conta que foi um desafio assumir o novo cargo e atribui parte do sucesso à agilidade e à flexibilidade, ganhos adquiridos com a produção 100% nacional. Um exemplo disso é que no ano passado, em que o setor calçadista decresceu 16,5%, a Penalty conseguiu crescer nas vendas, porque com a crise as redes varejistas fizeram encomendas em volumes menores e de forma mais frequente, sem compor estoque. A empresa conseguia faturar pedidos em até 10 dias, diferentemente dos processos normais de multinacionais, onde a compra tem de ser programada com uma antecedência e em volumes bem maiores. Confira a seguir entrevista concedida por Ferreira durante o Fórum Nacional do Varejo promovido pelo Lide, ele fala das estratégias para continuar crescendo, inclusive com plano de mídia e investimentos.

 

Quais as áreas de atuação da Penalty?

Atua em cinco segmentos, todos voltados à área esportiva com foco no futebol. Temos todas as modalidades de bola, segmento principal da marca, onde somos líderes de mercado. A única empresa do mundo que tem todas as modalidades de bola. Nosso segundo segmento é o de calçados: futebol, society e futsal. O terceiro é de confecção, voltado ao futebol. Atuamos ainda com equipamentos à prática de esportes e, por fim, meias e meiões. Somos, no Brasil, a terceira marca no geral, atrás de Nike e Adidas. Em futebol, com chuteiras, conquistamos a liderança no ano passado, no meio da pirâmide, com público A e B. Com crescimento de 20% em volume, resultado da estratégia de ter um produto de qualidade, com mais conforto, agregamos valor sem cobrar muito por isso.

 

O segmento de bola responde por quanto do faturamento da companhia?

Responde por 25% do faturamento, seguido de calçados e depois os demais segmentos com menor representatividade, mas que juntos respondem por mais de quatro mil SKUs. Produzimos mais de três milhões de bolas por ano.

 

Quais investimentos foram feitos para sustentar as estratégias de crescimento?

Ano passado, ampliamos as fábricas em 25%, com investimento de R$ 12 milhões. Ao todo, temos quatro plantas: duas em Itajuípe (BA), onde são produzidos meias e meiões, além de confecção. Itabuna (BA) produz bolas. A de calçados fica em João Pessoa (PB). Em 2016, com a minha chegada, focamos num nicho de mercado e a prioridade foi calçados, com ampliação da fábrica e importação de máquinas mais modernas. Uma das vantagens que a Penalty tem, além de sua história, é conhecer bem o pé do brasileiro, como só uma marca genuinamente brasileira pode conhecer, com isso melhoramos a calçabilidade, com mais conforto. Quem testa os nossos calçados são os jogadores profissionais de cada modalidade, depois o consumidor. Estamos prontos para o crescimento. Assim que a economia reagir, creio que já neste primeiro trimestre, vamos ter resultados positivos.

 

Projetam crescimento para este ano?

Queremos crescer 15%, a companhia como um todo. Aproveitando essa liderança, que conquistamos no ano passado, à frente de gigantes como Nike e Adidas. Não trabalhamos para ser líder, trabalhamos para crescer, jamais pensei que chegaria ao fim de 2016 como líder em calçados. Sabemos que somos a terceira marca, respeitando as mundiais. Mas a vontade de crescer foi tanto que alcançamos a liderança, que agora pretendemos manter em 2017.

 

Têm investimentos programados?

Não muitos, porque fizemos os aportes nas fábricas no ano passado. Já estamos investindo cerca de R$ 15 milhões com pacote da SporTV. Vamos ter a marca presente na mídia em todos os campeonatos municipais, estaduais e nacionais. Com nove inserções por dia, em todos os canais SporTV e Premier, de janeiro a 31 de dezembro deste ano.

 

Quais são os planos para a imagem da marca?

Estamos trazendo a marca novamente à mídia. Pretendemos rejuvenescê-la muito mais e conquistar esse público do futebol.

 

Qual a verba de marketing?

Nossa verba não se compara com a dos nossos concorrentes. Ela é proporcional ao faturamento, entre 3 e 5%. Como não temos runner, a verba é concentrada no futebol.

 

Qual é a agência de publicidade?

É a Z515. Tanto para online como para offline. A Z515 está com a gente há mais de 40 anos. Ela tem o DNA da marca.

 

Como é a distribuição da marca no Brasil?

Temos oito mil clientes no Brasil. Está presente em todos os municípios do país. A Região Sudeste é a maior em volume de vendas.

 

Há alguma área em que a Penalty tem interesse e ainda não atua?

Sim. Estamos ainda saindo de uma crise econômica. Temos plano para o futuro, mas ainda é cedo para dizer. Vamos esperar ainda este ano, que já temos estratégia focada para fortalecer a gama de produtos. Ainda têm os lançamentos para compor o portfólio. Mas, talvez o ano que vem, pensaremos em outras áreas, no momento não.

 

Sua chegada mudou a estrutura da empresa?

Sim. Nós montamos uma equipe de vendas e contratamos novos líderes para atuar na área comercial. Aproveitei talentos existentes e agreguei pessoas novas para dar uma oxigenada na companhia.

 

Como está o uso da tecnologia nos processos da empresa?

É difícil agregar tecnologia visível ao público quando se fala de bolas. A Penalty já é líder nesse quesito, com bolas homologadas pela FIFA. Estamos sempre buscando novas tecnologias e inovação, que não são só em produtos, mas também na forma de vender, de abordar os clientes. Uma das razões do nosso sucesso no ano passado foi que, com a crise, o varejista passou a comprar menos e com mais frequência. Os fabricantes globais precisam se programar para compra de produtos importados da Ásia. Como indústria nacional, passamos a ter um varejo rápido, já que nossos fornecedores estavam sem dinheiro para compor estoques. A inovação está sempre presente, depende da demanda. Desta vez é para aumentar volume.

E como estão as exportações?

Exportamos para 16 países. Temos subsidiárias e presença em toda a América do Sul. A exportação não é muito relevante em termos de receita, exportamos bolas e calçados, representa menos de 10%. No Japão, a subsidiária está praticamente como uma empresa independente, no desenvolvimento de produtos local.

 

Ainda há oportunidades para crescer?

Temos oportunidade para crescer nas falhas dos concorrentes. Temos nichos, expandindo por segmentos. Como por exemplo da confecção, a parte de malharia, de equipamentos. Em todas as áreas conseguimos crescer. Por uns três ou quatro anos ainda podemos crescer nos segmentos em que já atuamos, depois é pensar em outros setores dentro do esporte que podem ser explorados.

 

Quantos atletas a Penalty patrocina?

Mais de 60 atletas profissionais de futsal. Temos jogadores na Espanha. Inclusive que fazem o teste dos nossos calçados e os aprovam. Patrocinamos também a seleção brasileira de futsal, há nove anos. Em eventuais jogos, temos placas da marca espalhadas. No futuro, queremos aumentar esse número. Temos 14 federações que homologam nossas bolas, somos fornecedores oficiais, neste caso. Temos uma excelente visibilidade com nossa bola, nos principais campeonatos. Atualmente estamos bem focados. Este ano faremos mídia e reforçamos a atuação no varejo para que ele venda mais, com rapidez e flexibilidade. Às vezes faturamos pedidos em até 10 dias, investimos em logística e velocidade da entrega.