O empresário, ambientalista e ator Marcos Palmeira conta, nesta entrevista ao PROPMARK, um pouco da sua trajetória no mundo dos orgânicos com a marca “Vale das Palmeiras”, e os desafios que continua enfrentando nesse setor que ainda é, por incrível que pareça, um nicho repleto de barreiras no Brasil.
Sua marca já tem 20 anos de existência, e entra agora em nova fase, quando ele fecha sua loja física, que manteve nos últimos cinco anos no Leblon, zona sul do Rio de Janeiro, e inicia parceria com o Clube Orgânico, serviço online de entregas de produtos orgânicos a domicílio, mantendo a distribuição de seus produtos em locais como supermercados Zona Sul e o Carrefour, em São Paulo.
Seu desejo é brigar pelo crescimento deste mercado, ampliar sua linha de produtos e aprimorar o branding da marca, feito até hoje sem qualquer sofisticação, valendo-se da vantagem de ser ele, Marcos Palmeira, uma marca de credibilidade – não só pelo bom trabalho como ator, claro, mas pela defesa incansável de causas sustentáveis ligadas ao meio ambiente. “São muitas batalhas nesse mundo sustentável.”, diz.
Você construiu uma marca forte no mundo dos Orgânicos: acha que contou com uma vantagem competitiva, que foi a sua credibilidade e personalidade reconhecida?
Quando entrei para o mundo dos orgânicos, eu não tinha nenhuma intenção de fazer marketing. Eu não tinha nenhum planejamento em relação à minha imagem, à minha marca. Não tinha pensando em ter uma marca, também. Eu queria ser mais um produtor. Mas quando vi a grande desunião que existe entre os produtores, o desvio de foco de cada um, resolvi produzir o meu próprio produto e, sem dúvida nenhuma, o fato de eu ser uma pessoa conhecida dá um pouco mais de credibilidade. Mas também me coloca mais no risco, porque dou a cara a tapa. Tem o ônus e tem o bônus disso tudo, mas, graças a Deus, tenho ficado mais com os bônus (risos).
Que estratégias adotou para fazer sua marca crescer?
Meu foco foi sempre melhorar a qualidade do que produzo. Quando cheguei a um produto incrível, um queijo-minas frescal incrível, resolvi focar nos lácteos e hoje o meu foco é a produção de uma pecuária leiteira orgânica, ligada com a agrofloresta. Este é o meu foco no momento. Estou num processo de crescimento sempre. A questão da gestão é complexa, sempre precisa ser reavaliada. Estou sempre reavaliando o negócio. O desafio é constante. É um mercado de pouco espaço, em que a gente ainda luta contra as grandes corporações, contra as grandes empresas. Mas é algo que me dá muito prazer, e eu vou tocando. A ideia é trabalhar com a minha marca para que ela seja um vetor de viabilidade econômica de outros pequenos produtores, que não têm acesso ao mercado e isso. Então eu vou tentando conciliar com a minha marca. Essa é a ideia.
Que desafios você ainda enfrenta, especialmente no Rio de Janeiro?
Os desafios são todos, né? O mercado do Rio é um mercado muito pouco explorado, principalmente sua produção. A gente ainda tem sobra de produto na roça, e falta de produto na gôndola. Acho que o consumidor poderia ser um parceiro mais ativo junto conosco, cobrando do mercado um produto de maior qualidade, um produto orgânico. É preciso entender que o alimento faz parte da nossa energia vital e quanto mais orgânico ele for, mais nutritivo será, e mais nos beneficiamos dele.
O branding do Vale das Palmeiras contou com a ajuda de publicitários ou profissionais de marketing ou foi sendo feito empíricamente?
Eu tenho uma equipe que me ajuda, estamos em constante capacitação, formação, discussão. Tudo ainda é um pouco empírico, da maneira como eu enxergo o negócio. Agora estou começando a ter um apoio melhor. Ainda temos um longo caminho nesse sentido. Não tenho um marketing específico, mas aos poucos vamos amadurecer.
Como você enxerga hoje o mercado de produtos orgânicos?
O mercado orgânico tende a crescer muito. É um nicho ainda, de mercado. É muito pequeno, se comparado ao convencional. Mas tem um potencial enorme. Quando se unir a políticas públicas e, por exemplo, toda merenda escolar passar a ser feita com alimentos orgânicos, ou todas as escolas oferecerem alimentos orgânicos, será um plus. Os hospitais também poderiam oferecer uma alimentação orgânica, saudável, tem tudo a ver. O mercado ainda está em construção, é uma luta diária, mas é uma luta sem volta. O caminho é viver o dia a dia, e assim ser sustentável na sua essência.
Por que a decisão de não ter mais lojas físicas? Como isso vai mudar a logística e facilitar as coisas para você?
Foi uma experiência incrível, não descarto voltar em algum momento com uma nova formação, uma nova cara, uma outra proposta de negócio. Mas agora a ideia é ampliar e ser um canal de escoamento, e não de “travação”. Quero focar na produção, que é o que eu mais sei fazer, o que eu gosto de fazer, ao mesmo tempo estimulando e disseminando a agricultura orgânica pelo Brasil.
Estamos agora amadurecendo uma conversa com o Clube Orgânico, com o e-commerce, para tentar chegar ao consumidor com um produto de extrema qualidade e um preço bastante justo e acessível. Esse é o grande exercício do momento e estamos nesse caminho.
Onde mais vai vender os produtos, e como pretende divulgar as mudanças, atrair consumidores?
Vou continuar vendendo os produtos onde sempre vendi, na rede de supermercados Zona Sul, no Rio. Estamos abrindo o Carrefour em São Paulo. Temos alguns produtos no Santa Luzia, também em São Paulo. Tenho parceria com produtores de leite no sul de Minas para a produção de um queijo terceirizado muito interessante, sob a nossa consultoria. A questão da comunicação, estamos estudando internamente com a equipe de marketing.
Como anda o crescimento da marca e quais os planos futuros?
A marca vem crescendo de acordo de maneira consistente com o amadurecimento do próprio projeto, um projeto que tenho dificuldade de estar 100% dentro, mas no qual consigo estar bem mais presente do que imaginei que fosse conseguir. Estou trazendo pessoas para participarem disso comigo, começando a dividir um pouco mais para poder, exatamente, crescer. Fiz uma reforma gigantesca no laticínio. Hoje tenho um laticínio muito bem equipado, visando melhorar a qualidade dos lácteos, sua padronização, e aumentar o leque, o mix de produtos. O que eu pretendo, no futuro, é aumentar o mix de produtos e oferecer ao consumidor um produto de altíssimo nível, de ótima qualidade.
Qual o tamanho da marca hoje? A intenção é agregar mais produtos, para além dos lácteos?
O Vale das Palmeiras mantém seu tamanho mas está melhorando a sua produção. Criamos uma nova marca, que é mais leve, com minha foto na embalagem mais desenhada, mais gráfica. A ideia é, sim, ter mais produtos. Estou, por exemplo, no processo de produzir uma cerveja orgânica, com um pouco de dificuldades com a burocracia de certificação. Também quero ampliar para novos produtores. O desafio é achar o produtor que se encaixe no meu conceito, e que eu realmente possa ajudar, não simplesmente ser um cobrador de pedágio de produto. É preciso haver uma relação em que todo mundo ganha. O foco da Vale das Palmeiras é esse: fomentar, mostrar para as pessoas que é possível produzir orgânicos, que é possível se alimentar com alimentos orgânicos, que é possível ter uma vida mais saudável.
Qual o seu papel na empresa e com que parceiros você conta?
Sou o dono e toco a empresa. Tenho uma equipe da Campeira que me ajuda, e a Reagro que me auxilia na gestão. Agora estamos tentando criar um novo modelo, com um conselho para delegar mais funções. A intenção é alavancar os negócios e avançar de patamar. Passamos por todo um processo de implementação de uma agroindústria na região de Teresópolis, uma região que não tinha muita aptidão leitera. Eu transformei a fazenda numa fazenda de leite, que é bastante interessante hoje. Pretendo, no futuro, voltar a trabalhar com hortaliças e com produtos agroflorestais.
Fale do seu envolvimento em projetos sustentáveis. Que outros projetos possui, o que vem conseguindo realizar nesta área, no Brasil? Que batalhas você escolheu encampar?
São muitas batalhas nesse mundo sustentável. Eu viajo muito pelo Brasil dando palestras sobre a minha experiência, no intuito de despertar o interesse das pessoas pela agricultura orgânica. Eu sou muito ligado à questão indígena, à questão das águas. São muitas lutas que a gente abraça e tem que escolher o caminho certo para poder conquistar espaço, e não ficar simplesmente com um megafone na boca gritando contra tudo e contra todos. Eu estou tentando focar mais.
Dentro da agricultura orgânica, que é o meu foco, vou fazer um curso de capacitação de pecuária leitera orgânica em São Paulo, pela Embrapa. É o terceiro curso que eu faço, então sigo me capacitando, tentando entender melhor o meu negócio. Sou um ator ambiental, sou um ambientalista ator, eu nem sei mais (risos). Eu sei que eu sou um cara, um cidadão, que trabalha com arte, e que tem um olhar muito forte para sustentabilidade. Isso não posso negar.