Samantha Almeida (Divulgação)

Os protestos antirracistas nos EUA ganharam o apoio de empresas diversas. Mas como uma marca pode se posicionar sobre este assunto sem parecer oportunista? Samantha Almeida, head de content da Ogilvy Brasil, falou ao PROPMARK sobre o assunto.

“Não existe parecer oportunista. Ou se é oportunista, ou não se é. Um passo anterior, precisamos lembrar que a publicidade não apenas reflete a sociedade, mas a influencia, reforça e cria, contribuindo direta e indiretamente com o imaginário racista coletivo”, afirma.

Segundo a profissional, a publicidade consegue criar modelos e valores. Mas também de usá-los ao ponto de torná-los vazios. “E só se descobre o limite entre um e outro olhando para dentro. A luta antirracista, que tem uma das suas expressões o movimento Black Lives Matter, não é uma conversa para entrar ou um projeto a se apoiar, ela é, na verdade, a maior de todas as manifestações sociais em prol dos direitos civis e contra o genocídio da população negra desde os protestos dos anos 60”, explica Samantha.

Para a publicitária, as marcas e as empresas são ferramentas históricas da manutenção e reprodução do racismo estrutural. Esse mesmo racismo que “ao extremo mata em praça pública, está internalizado nas contratações das empresas”.

Quais os conselhos ela daria para estas empresas? “Comece olhando para dentro. Ou seja, para estar pronto para se ‘posicionar’ é necessário ter construído a posição que se quer estar. Cultura antirracista nasce obrigatoriamente das pessoas”, elucida.

Não há nenhuma proposta que não seja oportunista que nasça de times majoritariamente brancos se o objetivo é suportar a vida de pessoas pretas. “E esse é o calcanhar de Aquiles da nossa indústria”, diz.

“Existe uma estagnação quando o tema é raça e mercado de trabalho e, honestamente, vejo uma única resposta para esse momento: CONTRATEM NEGROS. Quando não se contrata negros em todos os estágios da cadeia, colabora-se diretamente para a manutenção do racismo. Negando a participação no sistema. E tudo que não participa, não colabora, não existe. E o que não existe pode ser exterminado, morto, ao vivo”, lamenta.

Ter pessoas negras no time, segundo a head, ajuda a entender da urgência da prática.

“O antirracismo é um compromisso de longo prazo que precisa ser assumido na íntegra, e reiterado todos os dias, cheio de aprendizados desconfortáveis, mas fundamentais”, finaliza.