Tenho certeza que várias das pessoas que já escreveram para esta coluna se pegaram na mesma situação que eu: buscando o Google por “inspiração”.
Bom, em menos de dez minutos já posso ver que a inspiração definitivamente não está no Google. Aliás, passa bem longe.
Sou de natureza workaholic e tendo a me alinhar com a ideia de que a inspiração precisa te encontrar trabalhando; ou, na forma aparentemente pessimista colocada pelo artista Nick Cave: “Inspiração é uma palavra usada por pessoas que não estão fazendo nada”.
Não é que inspiração não exista. É que ela não é um passe de mágica, um presente divino, um momento de epifania, uma verdade absoluta. Ela é fluida, um movimento inerente ao seu movimento, e invisível.
Mas é muito real, muito concreta. As menores coisas me inspiram, aquelas ideias ou imagens ou palavras ou sensações que, ainda que pareçam pequenas demais, têm o poder de destravar problemas complexos e colocar as engrenagens para rodar.
As melhores inspirações são aquelas que você não percebeu que estavam ocorrendo, mas que mudaram o curso de um projeto. Aquele questionamento que, uma vez feito, não tem mais volta.
A inspiração vem com perspectiva: você olha o problema de dentro, de fora, pelos lados, do avesso, vira um pouquinho pra cima e um pouquinho pra esquerda – e acaba encontrando o ângulo certo.
Não encontrei no Google uma grande inspiração, mas vi que o Merriam-Webster a define como “ato de influência”. A inspiração tem o poder de influenciar resultados, e a partir dela tudo é novo e ao mesmo tempo previsível.
Tem menos de genialidade ou sorte e mais de desbravamento e coragem. Chega em formato de liderança, trazendo as mais profundas mudanças no mundo.
Gosto de pessoas, lugares, obras e projetos que são assim: líderes e desbravadores. Sou apaixonada por Nova York não porque é a “capital do mundo”, mas porque lá tudo floresce.
Tudo que você quiser ser ou fazer em Nova York encontra incentivo, tudo já existe por lá em algum formato, tudo de alguma forma faz sentido, mesmo quando é a coisa mais nonsense que já existiu.
Parece-me que todas as pessoas que habitam a cidade são inspirações ambulantes – transformando o tempo inteiro a dura realidade daquele lugar em expressão criativa e abrindo novas fronteiras para o mundo inteiro.
No trabalho, gosto de pensar um pouco como me sinto em Nova York: tudo é possível, basta ser feito. As pessoas não estão acostumadas com isso – acho que a palavra que mais escutamos quando falamos de inovação é “impossível”. O desafio de mostrar para grandes corporações que qualquer problema pode ser visto por outro ângulo e encontrar soluções nunca antes pensadas é extremamente estimulante, inspirador até.
Mais importante que isso é ultrapassar a barreira da solução simples e instantânea. Para problemas complexos, a solução sempre vai tomar muito tempo e trabalho – não existe um interruptor que ligue e desligue o problema.
Isso é uma coisa boa, ao contrário do que possa parecer. Simplicidade é um grande feito, mas encontro as melhores inspirações naquilo que é subversivo.
Na música improvável como o hip-hop cubano do Orishas; na arte graficamente inocente e politicamente carregada de Keith Harring; nas práticas de mercado de um dos maiores designers da atualidade, Stephan Sagmeister, que se remove do escritório por um ano a cada sete para um sabático (impensável para a maioria dos criativos, mas que rendem para ele uma fila de espera de clientes).
Não consigo imaginar forma melhor de influenciar o status quo.
Letícia Magalhães é CEO na Templo – Rede de Inovação Aberta
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