Sempre fui fascinado por caixas de ferramentas. Meu avô paterno tinha uma peça na sua casa onde ele guardava todos os artefatos necessários para fazer as mais diversas manutenções caseiras e construir algumas coisinhas. Lá havia os mais diversos aparatos: pregos, parafusos, porcas, lixas, chaves de fenda, martelo e por aí vai – tudo nos mais diversos tamanhos e materiais.

Para cada tarefa que executava, analisava, estudava, planejava, ia lá na salinha dele e voltava com os materiais corretos para executar o trabalho. As ferramentas e os materiais, somados à atitude e ao conhecimento, correspondem a bons resultados. Executado uma vez só, dentro do plano, com qualidade e com durabilidade. Bonito de ser visto.

Ao final da empreitada, ele me dizia: para cada trabalho existe a ferramenta certa. Meu pai seguia a mesma “filosofia”, acredito que por ter aprendido com o pai dele. Logo, eu também comecei a “arrumar” alguns itens na casa dos meus pais (que eu mesmo estragava), entre eles: vedar vazamentos e consertar aqueles fios com mau contato, entre outras coisas pequenas.

Sempre que eu ia encarar um desses projetos, usava as “minhas” ferramentas, que geralmente se resumiam a uma faca sem ponta, fita adesiva, cola de papel e meus dentes. Em geral, eu tinha sucesso nestas aventuras, mas o trabalho demorava muito tempo para ser feito, a qualidade era desastrosa e durabilidade podia ser contada em poucos minutos. O maior resultado disso tudo, apesar do sucesso temporário, era normalmente uma grande frustração.

Na minha carreira tentei sempre manter este conceito ativo e entendo que, independentemente do que façamos, precisamos ter uma boa e rica “caixa de ferramentas” disponível. Partindo do pressuposto que cada projeto que executamos é algo único, me pergunto sempre: qual a ferramenta mais adequada para realizar isso? Será que as mesmas que utilizei no projeto passado são as mais adequadas para este novo? Pode ter surgido alguma nova e mais eficiente? A aproximação utilizada com um ponto de contato pode servir para outro contato na mesma equipe?

No contexto do nosso dia a dia, eu entendo que estas “ferramentas” representam todo o conhecimento que podemos adquirir por meio de estudos, experiências, trocas, acertos e erros. Em outras palavras, nossas habilidades, os processos que conhecemos e usamos, os livros e documentos que lemos e escrevemos, os formatos de comunicação que nos impactam e usamos para impactar, softwares, hardwares, nossas atitudes, e tudo mais que aprendemos e temos a oportunidade de aplicar formam e enriquecem a caixa de ferramentas de cada um.

No mercado em que atuo existem milhares de excelentes metodologias, documentações, linguagens de programação, bancos de dados, boas práticas e softwares – a lista pode ser infinita – que auxiliam o planejamento, a execução e o acompanhamento dos projetos e das ações que realizamos.

Se conhecermos apenas um método, um software, um documento, um processo, um de cada, e tivermos sempre uma atitude única, a tendência é que a resposta para a pergunta seja sempre a mesma.

No entanto, se nossa caixa estiver bem equipada, a utilização dos instrumentos mais adequados será respondida pela necessidade do trabalho e pela nossa criatividade, nunca pela nossa limitação de conhecimentos e habilidades.

Bem equipados, nós sempre vamos tomar as decisões para nossas atividades e projetos levando em consideração as características de cada desenvolvimento e escolhendo as ferramentas adequadas para cada caso e cada situação, em vez de ficar apertando parafusos com facas sem ponta e desencapando fios com os dentes.

Marcelo Bacchieri é diretor-geral da Prodigious