Para uma grande parte da população brasileira, as mudanças impostas pela pandemia têm sido bem desafiadoras. Em meio a esse turbilhão de alterações na rotina, um dos pontos que chama atenção é o estreitamento das relações entre os indivíduos que fazem parte de um mesmo ecossistema, seja pela maior convivência entre pessoas que moram sob um mesmo teto, ou mesmo, com o menor deslocamento impulsionado pelo trabalho remoto, houve uma maior demanda por produtos e serviços locais.

Se a digitalização, por um lado, esvaziou escritórios, otimizou processos, reduziu distâncias e conectou pessoas, de outro, acelerou também uma tendência que já vinha sendo mapeada nos últimos anos, o ‘Local Love’, denominada assim por centros de pesquisas nacionais e internacionais, e nada mais é do que o fortalecimento do local, da vizinhança, do comércio de bairro, e que veio com toda força nesse último ano. Para aqueles que puderam passar mais tempo em casa e colaborar com o isolamento social, a nova dinâmica serviu para reconectar-se com as pessoas que moram no mesmo bairro.

Uma das coisas mais bonitas, e certamente um dos maiores legados nesses tempos tão difíceis, são as redes de solidariedade que se manifestam por meio do voluntariado para ajudar as pessoas mais vulneráveis. Outra forma de conexão tem se dado por meio do consumo de produtos locais ao invés de grandes varejistas. O florescer desses movimentos é tão presente que foram captados por uma pesquisa da Viver em São Paulo – especial pandemia, realizada pela Rede Nossa São Paulo, Ibope e Sesc, a qual aponta que 46% dos entrevistados passaram a dar mais valor ao comércio e aos prestadores de serviços locais. 

Em meio a todo esse contexto, a casa das pessoas tornou-se um verdadeiro hub de inovação, de novas dinâmicas de convivência, de consumo online, de empreendedorismo, este último muitas vezes por necessidade. O report A Vida no Centro/SP Turis mostra que 5,9% dos entrevistados começaram uma nova atividade para repor a renda perdida durante a pandemia, já 36,4% tiveram perda de renda e 11% tiveram a renda reduzida a zero.

Uma das formas encontradas pelas pessoas para gerar renda extra está visível em grupos nas redes sociais onde há, por exemplo, ofertas de produtos alimentícios caseiros ou mesmo de artesanatos, os quais foram pensados para atender a demanda de outras pessoas que também estão em casa, ou mesmo, para recuperar a renda perdida a partir da venda destes itens.

Mais do que simples anúncios de produtos ou serviços na internet, a integração de ponta a ponta no funil de vendas por meio das redes sociais é uma forte tendência e será consistente nos próximos anos. Canais como Instagram, Facebook e WhatsApp estão entre os mais populares e são utilizados tanto pelas grandes empresas, como também por pequenos e médios vendedores. Sem contar a explosão do TikTok, sendo que o Brasil já ocupa o 3º lugar no ranking mundial, com cerca de 7 milhões de usuários ativos, segundo a GlobalWebIndex.

Já um estudo da Nuvemshop divulgado recentemente, a partir de uma base de 70 mil lojas online, revela que as redes sociais representam 34% das vendas do pequeno e médio varejista, sendo o Instagram, disparado, o que mais converte, com 87% das vendas. 

E se a forma como gerar renda foi pulverizada, as empresas também perceberam a oportunidade de levar seus serviços para onde está o consumidor. Segundo levantamento do Distrito, ainda há muito potencial para crescimento do e-commerce no Brasil, sendo que somente 9% do comércio varejista acontece no ambiente digital e soma R$ 126,3 bilhões de faturamento em 2020. E com a realidade da rápida digitalização, é de se esperar que o social commerce também dê uma guinada, com as empresas direcionando estratégias para tal.    

Entre as pandemias que ocorreram na história, em comum, provocaram o repensar de toda a organização da sociedade, e agora com a de Covid-19, não poderia ser diferente. A redescoberta das interações digitais nos traz novas possibilidades, seja para trabalhar de onde você queira e assim ter uma melhor qualidade de vida, seja na geração de renda, com a descentralização da oferta de produtos e serviços.

Se a tendência, de fato tornar-se o ‘novo normal’, que é o mais provável no pós-pandemia, todos têm a ganhar, com a gradativa ampliação de oportunidades de geração de renda por microlocalizações, além do fortalecimento afetivo e do senso de comunidade das pessoas que em comum têm um mesmo objetivo de evolução e construção de uma sociedade melhor e mais inclusiva.

Marina Proença é co-fundadora da Favo