Aviso: o CVV – Centro de Valorização da Vida realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Mais informações neste link.


O mundo da publicidade pode ser cruel. Entre reuniões com clientes, pressão por trabalhos exitosos e chefes que, nem sempre, respeitam os limites, o profissional da área é levado ao extremo constantemente.

A chegada do Setembro Amarelo é uma boa oportunidade para que as agências de propaganda reflitam sobre a importância de cuidar da mente de seus colaboradores. Não só com puffs, salas de descompressão, sinucas, cerveja ou coisas do tipo. Mas ouvindo e respeitando o tempo de cada um.

Realidade brasileira

No mundo, mais de 1 milhão de pessoas tiram a própria vida a cada ano. Ou seja, uma morte a cada 40 segundos. O cenário nacional não é diferente. Todos os dias, 32 brasileiros se suicidam. Em 2018, foram 11 mil vidas. Segundo o Ministério da Saúde, os números também revelam que o suicídio aumentou 20% nos últimos cinco anos entre jovens de 15 a 19 anos. Essa já é a quarta causa mais frequente de morte entre jovens brasileiros.

A realidade do país também pode influenciar na saúde mental de sua população e, consequentemente, dos profissionais nela inseridos. Uma pesquisa recente do instituto Ipsus mostra que os brasileiros estão menos felizes neste ano em comparação com o ano passado. O estudo avaliou a felicidade da população de 28 países. No Brasil, 61% dos entrevistados consideram-se muito felizes ou felizes – uma queda de 12 pontos percentuais em relação à última edição, feita em 2018, quando o resultado foi de 73%. No mundo, o índice de felicidade também caiu de 70% para 64%.

Com isso em mente, PROPMARK procurou algumas agências para ouvir seus esforços que objetivam auxiliar os colaboradores. Vale lembrar que o Setembro Amarelo é uma campanha de conscientização sobre a prevenção do suicídio. No Brasil, foi criado em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Esforços das agências

A publicidade exige muito da mente humana. Recentemente, PROPMARK fez uma matéria especial sobre o combate à Síndrome do Burnout nas agências (leia aqui). Como estas empresas ajudam os colaboradores que enfrentam algum desses problemas?

“A troca de informações sobre saúde mental é algo que estimulamos há bastante tempo na Mutato, principalmente nas conversas e palestras internas que realizamos periodicamente, os Mutatalks. Tivemos, por exemplo, em julho e agosto palestras sobre como ter conversas sadias na internet e como equilibrar propósito e trabalho. Além disso, focado no nosso esforço de incluir mais profissionais negros, junto a Empregueafro realizamos o Café Preto, que são encontros fechados para que essas pessoas troquem experiências e se fortaleçam entre si”, relata André Passamani, coCeo da Mutato.

Colaboradores da Mutato num dos encontros da agência (Divulgação)

É preciso reconhecer o problema

Passamani: “aumento da busca por resultados […] cria um ambiente com muita pressão”

“Não dá pra negar a pressão inerente ao nosso trabalho. O aumento da busca por resultados que se coloca sobre os ombros de profissionais de marketing e publicidade, muitos deles em início de carreira, cria um ambiente com muita pressão. Ainda que as agências e anunciantes possam cuidar melhor desse ambiente, essa pressão de alguma forma vai sempre estar presente. Além disso, há o atrito inerente ao trabalho criativo. A soma desses dois fatores gera um ambiente que deveria inspirar atenção por parte das empresas”, alerta o executivo.

Patricia Fuzzo, chief talent officer latam da Ogilvy, revela que a agência implementou em julho o PAE – Programa de Apoio ao Empregado. Trata-se de uma iniciativa da WPP em parceria com a Ticket que proporciona o acesso do time da Ogilvy ao atendimento com profissionais altamente qualificados, como psicólogos, assistentes sociais, advogados e especialistas financeiros. Toda vez que identifica a necessidade de apoio, seja por conflitos familiares ou situações de adversidade como dívidas ou questões legais, a pessoa pode acessar o PAE por meio de um telefone 0800. Ao entrar em contato, ela será brevemente entrevistada por um profissional que dará o encaminhamento mais adequado para cada caso”, explica.

Patricia Fuzzo, chief talent officer latam da Ogilvy (Divulgação)

Em setembro, especificamente, a agência reforça a comunicação do PAE para que as pessoas tenham conhecimento não apenas do programa, mas principalmente para que tenham acesso a informação e saibam como lidar quando alguma adversidade ocorrer. Um ponto interessante é que ele funciona de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h.

No entanto, em casos críticos, a pessoa poderá recorrer ao PAE a qualquer momento, 24 horas por dia. Entre causas consideradas emergenciais estão, por exemplo, situações de suicídio, morte, desastres naturais, violência, acidentes, entre outras. Em qualquer uma dessas circunstâncias a pessoa é orientada a procurar o RH imediatamente para que a empresa solicite ao PAE a assistência psicossocial no local do ocorrido ou na empresa.

Poder do mindfulness

Segundo Patricia, há um projeto de mindfulness em desenvolvimento para os colaboradores da Ogilvy. “Deverá ter início ainda este ano. A dinâmica está sendo definida, mas a ideia é que as pessoas da Ogilvy possam ter acesso a mais esse benefício dentro da empresa”, revela.

Segundo o Centro Paulista de Mindfulness (CPM), a prática é um estado de consciência, ou estado psicológico específico que acontece quando prestamos atenção à nossa experiência atual de forma intencional e sem julgar. Através do cultivo desse tipo de atenção aprendemos como viver no presente momento ao invés de ficar remoendo sobre o passado ou se preocupar com o futuro.

Na AlmapBBDO a prática também vai virar realidade em breve. A agência acaba de fechar uma parceria com o Zenbox, que promove experiências sensoriais de mindfulness a partir de um metodologia própria, com curadoria do CPM. Na Almap, a parceria fechada foi com o Zenbox Pod: uma cabine sensorial privativa que traz experiências de mindfulness de 5, 10 ou 15 minutos. Com opções de prática livre ou guiada, diferentes faixas de sons binaurais que estimulam o cérebro. Nela tem Lightdesign com efeitos cromoterápicos.

Cases refletem preocupação

Camila Fidélis da Africa (Reprodução)

A Africa também vem desenvolvendo um olhar cada vez mais atento para o assunto. Por meio de processo seletivo liderado pela Mais Diversidade, consultoria especializada em inclusão e diversidade nas organizações, a agência contratou recentemente Camila Fidélis.

Psicóloga e especialista em gestão estratégica de pessoas com mais de 14 anos de experiência na área, Camila chegou à agência não só para cuidar do desenvolvimento dos times e carreira, mas também para ouvir, apoiar e acolher os profissionais. Sua formação e trajetória profissional contribuem para um olhar especialista sobre saúde mental e, segundo a agência, estão sendo muito positivos. Além disso, há iniciativas em desenvolvimento para promover a discussão sobre o tema, colocando-o em pauta no dia a dia da agência.

A Africa, aliás, anunciou recentemente uma nova fase do case “Algoritmo da Vida”, projeto criado pela agência para prevenir suicídio por meio de análises de postagens públicas no Twitter.

A partir de agora, a agência se une à SAP Brasil e Amazon Web Services para aprimorar a ferramenta, aumentar sua eficácia e ampliar seu alcance.

Já a WMcCann procura informar seus funcionários por meio de comunicações sobre o tema.

“No setembro amarelo, vamos aderir à campanha ‘Cartaz Amarelo‘, um movimento criado pela estudante de publicidade Joyce Saltki onde ela disponibiliza diversos cartazes para que as empresas espalhem pelos escritórios com mensagens de carinho, apoio e alerta. A agência também possui um espaço bem-estar que oferece uma série de terapias. Além disso, durante a semana da saúde, a agência retomará um programa para cuidados da saúde mental, onde psicólogas fazem atendimento presencial na agência”, explica Kevin Zung, COO da WMcCann.

Segundo Milena Bizzarri, diretora de RH da Mazars, auditoria e consultoria empresarial, para muitas pessoas o assunto depressão ainda é um tabu. “Seja por desconhecimento, seja por vergonha, elas não procuram o tratamento adequado e ignoram o grande perigo que podem sofrer. É preciso alertar para o fato de que depressão não é frescura nem preguiça. É uma doença séria e devastadora. Como empresa, é nossa responsabilidade ajudar a desmistificar esse assunto e mostrar para os nossos colaboradores que a desinformação sobre o tema colabora para consequências graves”, afirma.

Sua agência também está focada em auxiliar os colaboradores? Deixe seu comentário.