O mercado de franquias sempre foi uma boa opção para as pessoas que desejavam ter o próprio negócio. Porém, o atual cenário imposto pela pandemia da Covid-19 afetou o desempenho do setor, que apresentava uma ampla expansão e alto crescimento no Brasil.
Segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF), o faturamento geral das franquias no país caiu de R$ 186,755 bilhões, em 2019, para R$ 167,187 bilhões, em 2020, uma regressão de quase três anos. Para 2021, o segmento projeta voltar a crescer, a ABF estima um faturamento 8% maior. Mas, também acredita que deve levar cerca de dois anos para o mercado voltar a atingir os níveis registrados pré-pandemia.
“O ano de 2020 foi de fato muito desafiador para todos os setores da economia brasileira, com o setor de franquias não foi diferente. Analisando o comportamento do setor ao longo do ano, com os estudos trimestrais e, adicionalmente, as consultas mensais feitas pela ABF, graças à participação de seus associados, observo que o resultado poderia ter sido pior, mas as virtudes do franchising amenizaram a queda. Nós
temos a força do trabalho em rede, uma alta capacidade de negociar com os fornecedores e promover ganhos em escala, porém, é com muito esforço que o ecossistema do franchising está atuando para amenizar as perdas e os impactos nos negócios”, comenta André Friedheim, presidente da ABF.
Neste mês de março, a associação revelou ainda a lista com as 50 maiores redes de franquias no Brasil por número de unidades em operação. As marcas O Boticário (3.620), McDonald’s (2.567) e Cacau Show (2.371) ocupam, respectivamente, as três primeiras posições do levantamento.
“A pandemia teve os seus primeiros casos confirmados no Brasil em um momento bem próximo à Páscoa. Então, tivemos um impacto no movimento das lojas, uma vez que grande parte foi fechada por um período devido aos decretos regionais, mas, de modo geral, não tivemos um saldo negativo no fim do ano, pelo contrário, inauguramos 140 novas operações e o índice de fechamento está abaixo do índice de mortalidade do varejo de forma geral”, conta Daniel Roque, diretor de canais e expansão da Cacau Show.
Ainda segundo o executivo, o atual cenário e a mudança de hábito das pessoas fizeram com que a marca pensasse em desenvolver novos formatos de lojas. “Lançamos em novembro de 2020 um novo formato de negócio, o ‘container’, que conta com área externa para disponibilização de mesas e cadeiras para consumo no local. Este novo formato tem previsão de retorno de investimento a partir de 10 meses. Nossa meta este ano é a abertura de 500 novas lojas. É a maior meta de abertura de lojas desde o início da Cacau Show. O objetivo é conseguir levar o nosso produto para cada vez mais pessoas e chegar em estacionamentos de supermercados, lojas de departamento, praças e cidades menores”, diz.
Marcas em ascensão
A pesquisa aponta também que as marcas Óticas Carol (1.394), Seguralta (1.325) e Burger King (1.302) passam a integrar, pela primeira vez, o Top 10 das redes de franquia.
“A Óticas Carol enxergou esse novo momento como uma oportunidade de olhar para dentro, trazendo, mesmo em um cenário de distanciamento, o máximo de proximidade possível com os seus franqueados. Por meio do Conselho Consultivo de Franqueados, seis comitês de trabalho foram criados e se reuniram, de uma a duas vezes por semana, para discutir temas como Responsabilidade Social & Saúde, Pessoas, Retomada, Marketing & Comercial, Governamental e Financeiro. Além disso, outras estratégias foram aplicadas para unir esforços em direção ao mesmo horizonte e garantir toda a infraestrutura necessária para que nossos parceiros e consumidores se sentissem acolhidos e seguros. Mesmo em um cenário de restrições, a Óticas Carol manteve a abertura de lojas em 2020. A maior parte dos novos franqueados consiste em investidores ou executivos que buscaram diversificar seus negócios, em transição de carreira ou que já trabalharam no ramo ótico”, ressalta Diego Baptista, gerente de marketing de franquia da Óticas Carol.
Com o intuito de se adaptar ao atual momento e às restrições no varejo físico devido à pandemia, a marca aprimorou seus canais digitais. “No início da quarentena, aprimoramos nossos canais online que, antes, eram utilizados mais para apoiar e facilitar o atendimento físico, e investimos em políticas para nossos canais de atendimento. Investimos, por exemplo, em uma plataforma que conecta todas as lojas pelo WhatsApp, por meio da geolocalização, permitindo que os clientes escolham e entrem em contato com as lojas mais próximas deles. Tudo para que, nesse momento tão delicado, os nossos clientes se sintam bem atendidos, confiantes e seguros. Para 2021, a Óticas Carol possui plano de expansão para todas as regiões, com maior foco no Nordeste, Sudeste e Sul”, diz Baptista.
Já Gustavo Fehlberg, vice-presidente de desenvolvimento do Burger King no Brasil, revela que nos anos pré-pandemia, a marca contava com um crescimento de 100 restaurantes ao ano. “Manter a trajetória de crescimento é uma estratégia valiosa que temos em nosso radar. A versatilidade do modelo de loja ‘Free Standing’ nos possibilita entregar uma experiência mais completa aos consumidores, oferecendo flexibilidade em termos de gestão nos diferentes canais de venda. Além disso, adequamos o layout das
lojas para crescimento de drive thru e delivery, como espaço reservado para motoboys, por exemplo. A excelente performance desses restaurantes fez com que tivéssemos um crescimento em SSS de +8,6%, no quarto trimestre de 2020”, destaca.
O executivo ainda relembra que, em dezembro de 2020, a marca inaugurou o seu primeiro restaurante idealizado pelos consumidores. “Essa Free Standing, localizada na Praça Panamericana, em São Paulo, foi cocriada com base em pesquisas de campo com os clientes da região de Pinheiros. Ela conta com mais espaço ao ar livre, decoração modernizada, grelha aparente, amplo bicicletário, espaço pet, extenso estacionamento e espaço exclusivo para retirada do delivery. Um outro projeto de destaque foi a criação da primeira ghost kitchen das marcas Burger King e Popeyes no mundo. Desde agosto de 2020, o espaço funciona atendendo a região da Avenida Paulista, com foco em melhorar a experiência dos consumidores no delivery”.
Para sustentar o plano de expansão e os investimentos em tecnologia, a empresa captou no terceiro trimestre de 2020 mais de R$ 500 milhões para reforçar o caixa da companhia. “Nossa prioridade é acelerar
a presença digital e a multicanalidade, uma maneira de atender o cliente da forma mais eficiente. Teremos tecnologia em todo e qualquer ponto de contato entre o consumidor e nossas marcas, tanto no universo online quanto no offline”, conta Fehlberg.
Novas apostas
A OMO, marca que pertence à Unilever, ingressou no mercado de franquias em 2020 com o lançamento da OMO Lavanderia, que já nasceu com quatro modelos de lojas para atender aos diferentes perfis de consumidores. O último formato anunciado foi o de self-service, onde a pessoa consegue realizar o serviço de lavagem e secagem sozinha.
“Estamos sempre atentos aos movimentos do mercado e seus cenários, principalmente no que diz respeito ao desenvolvimento de novos produtos, serviços e parcerias que ofereçam soluções inovadoras e disruptivas conectadas às demandas dos consumidores. Nosso foco no momento é consolidar o modelo de negócios e aprimorar os modelos já lançados, por exemplo, agregando o serviço OMO Costura às nossas lojas para ajudar os consumidores a manterem as roupas como novas”, salienta Teo Figueiredo, diretor de OMO Lavanderia.
A estratégia da empresa, até o fim do primeiro semestre, é ter 60 lojas funcionando. “Apostamos em modelos variados de franquias para atrair diferentes perfis de investidores que buscam oportunidades estruturadas no mercado. Acompanhamos de perto o movimento da indústria e estamos bastante otimistas. Temos um robusto plano de expansão com novos modelos de franquias e formatos de atendimento inovadores. Nosso objetivo é ser a maior e melhor rede de lavanderias do país nos próximos cinco anos”, diz Figueiredo.