Incentivador, transformador e catalisador. Esses são os três perfis profissionais que podem ajudar as empresas de toda a cadeia da indústria da comunicação a aumentar a presença das mulheres negras em suas operações. Identificados pelo estudo “Potências (in)visíveis: a realidade da mulher negra no mercado de trabalho”, realizado durante seis meses pela consultoria Indique Uma Preta e a empresa de pesquisa Box1824, essas características podem guiar estratégias capazes de mudar a realidade do mercado de trabalho na propaganda. A pesquisa está disponível para as empresas no site do projeto, desenvolvido em parceria com a Mutato.
Embora atue de foma básica, o perfil “incentivador” pode ajudar a sensibilizar e engajar as lideranças, rompendo obstáculos inconscientes, além de criar espaços confortáveis para a inserção de mulheres negras no ambiente de trabalho. Já o “catalisador” é capaz de selecionar, contratar e pensar em soluções para os mais diversos perfis, impulsionando promoções e reconhecimentos. Quem está no grupo “transformador” consegue promover mudanças estruturais e pensar estrategicamente, destinando investimentos em capacitação, avaliando a representatividade de cargos de decisão e fortalecendo a reputação da empresa.
Segundo o levantamento, as trabalhadoras negras entrevistadas não exercem trabalho remunerado (54%), não foram lideradas por outras mulheres negras nos últimos cinco anos (72%) e estão à procura de recolocação (39%). Nenhuma é CEO e apenas 2% ocupam cargo de diretoria, contra 3% de gerentes, 3% de supervisoras e coordenadoras, 3% de sócias e proprietárias, 8% de analistas, 18% de administrativo e operacional, 23% de assistente e auxiliar, e 5% de estagiários e trainees.
“Quando estabelecidas na carreira, ainda existe o desafio da transição entre empresas e a dificuldade de manter o nível hierárquico conquistado”, comenta Verônica Dudiman, sócia e co-fundadora da consultoria Indique uma Preta.
A dificuldade em receber promoções é relatada por 51% das entrevistadas, índice que sobre para 54% entre as mulheres negras das classes C, D e E. A insegurança causada por experiências racistas é um dos principais entraves para o progresso da carreira (44%), intimidando manifestações públicas (42%). As mudanças na qualidade de vida são reportadas por 41% da amostra, seguidas por alterações compulsórias de estética (32%).
“Por não se aprofundarem na multiplicidade de existências, o pouco que caminhamos em medidas afirmativas já é entendido como muito. Por isso, acreditam na diversidade de forma mais superficial, sem entender suas múltiplas potencialidades e os benefícios para o negócio”, avalia Malu Rodrigues, pesquisadora cultural e estrategista de conteúdo da Box1824, referindo-se ao desconhecimento da questão por líderes das empresas.
Na ânsia de vencer o preconceito, a cobrança por um desempenho acima da média acaba sobrecarregando as mulheres negras. Um dos agravantes é a condição desfavorável para a busca por qualificação profissional, considerada “difícil ou muito difícil” para 44% das participantes. Ainda assim, 43% pretendem voltar ou continuar a estudar, além de fazer cursos específicos de capacitação (31%).