Na semana passada, se comemorou mais um Dia do Professor. Comemorou-se, por assim dizer, já que são poucos os profissionais do ensino que têm grandes motivos para comemoração.

Vi muitas mensagens compartilhadas pelas redes sociais e tive momentos de reflexão sobre essa nobre função de ensinar. Já há muito tempo, resolvi dedicar parte do meu tempo para dar aulas ou proferir palestras, nunca como atividade principal, sempre paralela, mas com grande dedicação.

Fui professor da ESPM-Rio; do MBA da FGV Management; da Cândido Mendes; e, agora, nos próximos dias, darei aula no curso de Negócios em Eventos, da Fipe. Sem falar nas inúmeras palestras que apresento por aí…

Na verdade, por conviver um bom tempo com trainees, imaginei que seria uma das minhas funções mais nobres dividir conhecimento com os que estão iniciando sua carreira profissional. Daí minha reflexão.

O assunto é sério e muito complexo. Há exemplos exuberantes de países que conseguiram dar um salto exponencial de crescimento por intermédio de uma política de ênfase total na educação. E que ninguém duvide disso.

Mas, por outro lado, de que educação estão falando? Fico imaginando os professores do ensino fundamental apresentando seus parcos conteúdos em lousas e projeções mambembes. E ali, à sua frente, alunos com dedinhos em tablets e celulares, tendo à sua frente um universo incalculável de informação.

Como esse professor atrairá a atenção e ganhará relevância perante seus alunos com essa desigual concorrência? Não falo do futuro. O presente já é assim.

O ato de “ensinar” mudou e ainda vai mudar muito. O filho de um amigo foi estudar na Dinamarca, num desses cursos modernos, de aprendizado holístico. Na volta dele, eu quis saber como foi, e ele ainda estava desconcertado, sem saber como julgar o que tinha “aprendido”.
“Na verdade, não havia aulas, como estamos acostumados. Os professores funcionavam apenas como curadores e estimuladores. Nós pesquisávamos os temas em grupos e, depois, apresentávamos nossas conclusões. Só aí o professor atuava, nos ajudando a interpretar o conteúdo obtido”, disse ele.

Sei que há cursos mais técnicos, em que não se consegue prescindir de “aulas” e de uma atitude mais formal por parte dos professores. Mas numa área como a nossa, de marketing/comunicação, como conduzir aulas interessantes e relevantes neste mundo de constantes mudanças?

Como os professores profissionais podem acompanhar a evolução feérica da inovação? Vejo por mim. A cada evento que participo, a cada conteúdo que acesso, a cada interação que tenho, existe uma “aula” oculta. Costumo dizer que uma ida ao Cannes Lions, por exemplo, equivale a um MBA. Some-se a tudo isso as dúvidas quanto às profissões do futuro e as expressivas mudanças esperadas para as atuais.

Some-se ainda o crescente acesso ao conhecimento on demand. Será que devemos dedicar horas de aprendizado para absorver um conhecimento que está ali, a dois cliques do nosso celular? Em recente apresentação do Walter Longo, o vi cunhando um neologismo: exteligência. Sim, uma inteligência que não está no nosso cérebro, mas facilmente acessível via recursos que estão na palma da mão.

Será que devemos nos dedicar ao aprendizado de uma outra língua, mesmo sabendo que teremos tradutores simultâneos (na verdade, já os temos, embora ainda deficientes) via um simples App? Ah! Que árdua missão têm pela frente professores e escolas!

De qualquer maneira, nesse mundo fluido, em estado de inovação permanente, devemos estar preparados para aprender todos dias, por toda a vida. Há momentos em que podemos passar conhecimento e há outros – muitos – que recebemos ensinamentos.

Só mesmo convocando Aristóteles para terminar este texto: “A única coisa que sei é que nada sei”.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional de Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)