Se no mundo físico a crise tem flertado com o Brasil nos últimos tempos, no ambiente digital o país está na mira de todas as companhias com ambições de se estabelecerem na América Latina.  O novo exemplo é a Gravity4, startup sediada em São Francisco, nos Estados Unidos. Fundada há apenas dez meses pelo indiano Gurbaksh Chahal, conhecido desde adolescente, nos anos 90, por criar empresas de internet e depois vender por milhões, a companhia já é avaliada pelo valor de US$ 1 bilhão em Wall Street.

Um dos aspectos interessante é que, se antes Chahal faturava altas somas com a venda das empresas, desta vez ele está mostrando apetite para investir na aquisição de outras. O objetivo é montar uma superstartup capaz de oferecer todas as ferramentas necessárias para executar campanhas de publicidade digital. O desafio é tornar a Gravity4 uma referência no domínio de tecnologias de marketing no mesmo nível de grandes concorrentes como Oracle, Adobe e Salesforce. Para atingir a meta, a aposta é o fornecimento de uma solução chamada cloud marketing (marketing na nuvem).

Xavier Mantilla, general manager da Gravity4 para a América LatinaSegundo Xavier Mantilla, general manager da Gravity4 para a América Latina, escolhido para comandar a expansão da companhia pelo continente, o marketing na nuvem é um modelo em que, assim como o serviço de armazenamento de dados na nuvem, permite que todas as ferramentas de marketing sejam gerenciadas e executadas em uma única plataforma online sem necessidade de instalar nada em nenum dispositivo. “É uma evolução da mídia digital. Diferentemente de ferramentas que exigem instalação, conseguimos criar aplicações para cada cliente”, afirma o executivo.

“O diferencial é que, pelo nosso modelo de negócios, juntamos tudo em um único servidor. Mídia progrmática, informações sobre audiência, DSP, CRM, retargeting, sites, blogs, e-commerce, mobile, search e social media, tudo na mesma inteligência. Os dados já vêm todos juntos e é possível entender melhor os usuários. Hoje, no Brasil, não tem ninguém fazendo isso neste formato”, acrescenta Mantilla.

Para oferecer todas as ferramentas digitais em uma única plataforma ou nuvem, a Gravity4  já adquriu nove empresas especializadas em serviços digitais, como a norte-americana Triggit e a brasileira Ezlike, ambas Facebook Marketing Partners e já estabelecidas no mercado brasileiro. Estabelecida em São Paulo, a operação brasileira já conta com uma equipe de 30 colaboradores e mais de 40 clientes, incluindo Ponto Frio, Casas Bahia, Agencia Casa, B2W e Multiplus. “Escolhemos o Brasil como ponto de partida por ser o maior mercado de mídia digital da América Latina”, explica o general manager para América Latina.

Além das empresas adquiridas, a Gravity4 fez uma oferta hostil de compra, tecnicamente chamada de oferta pública de aquisição (OPA), para a Rocket Fuel, um dos grandes players de mídia programática nos Estados Unidos e que também já está presente no Brasil. “Nossa estratégia é comprar empresas que já têm uma base de relações com grandes clientes”, diz Mantilla.

Estratégia

De acordo com o general manager da Gravity4, a estratégia para crescer no mercado brasileiro é mostrar aos anunciantes e às agências de publicidade que hoje o digital é tão importante para o sucesso de uma campanha quanto inserções em mídias tradicionais como TV e impresso. “Sabemos que a maior parte dos investimentos publicitários no Brasil ainda é direcionado para a televisão. Portanto, nossa proposta é chegar a um ponto de compreensão e fazer as pessoas entenderem que uma boa campanha precisa envolver mais de um tipo de mídia. À medida que entendam que o digital não é algo separado, o mercado vai se fortalecer. O digital faz parte do bolo”, acredita Mantilla.

O executivo destaca ainda outros pontos que considera fundamentais para destravar o crescimento do digital no país, como transparência e a necessidade de educar o mercado sobre a importância de priorizar a eficiência, ao invés de buscar apenas custos mais baixos. Em relação ao primeiro, Mantilla diz que muitas empresas de mídia programática estão arbitrando os valores de compra e venda de publicidade sem revelar o preço aos clientes, o que gera desconfiança e atrapalha o mercado. Além disso, a Gravity4 pretende simplificar a linguagem para tornar as ferramentas mais acessíveis ao entendimento de todos.

“Queremos sair fora das palavras e siglas de difícil compreensão como CRM, DSP, entre outras, e entrar no conceito de campanhas reais. Com o fax, por exemplo, ninguém falava dos códigos daquela tecnologia, e sim que mandava um papel por um telefone e saia no outro. O cliente quer entender o funcionamento, a aplicação. Queremos ajudar a tornar a mídia digital mais fácil”, diz.

Trajetória

Gurbaksh Chahal, fundador e CEO da Gravity4Fundador e CEO da Gravity4, Gurbaksh Chahal iniciou sua trajetória no mundo digital no fim dos anos 90, quando, aos 16 anos, criou a ClickAgents – uma das primeiras empresas de AD networks com foco em performance. Dezoito meses depois, a empresa foi vendida por US$ 40 milhões para a ValueClick.

Em 2004, criou a BlueLithium, pioneira em behavioral targeting e premiada em 2006 no Top Innovator of the Year – premiação referência em tecnologia que tem como vencedores anteriores Google, Skype, e Salesforce.com. Em 2007, o Yahoo adquiriu a BlueLithium por US$ 300 milhões.

Em 2009, mais uma empresa foi idealizada por Chahal, a RadiumOne, uma DSP multi-canal. Ele também é autor do best-seller internacional “The Dream”, conto inspirado na sua jornada empreendedora.