Muitas pessoas me perguntam sobre desafios e perspectivas das centenas de milhares de startups que neste momento invadem o mundo. Respondo que o desafio é monumental, e as perspectivas, ou chances de vitória, semelhantes à de um espermatozoide. Centenas tentarão, mas apenas um conseguirá ser bem-sucedido. Mas, depois de conseguir e superar a etapa de concepção, tem pela frente todos os demais estágios. E aí tudo fica mais difícil, complexo, e ainda tem o ataque dos concorrentes. A disrupção da disrupção. Vou tomar como exemplo a Movile, já no terceiro estágio, depois de 20 anos… Tudo começa com o business plan, onde se projeta a decolagem, o crescimento e a sustentação; etapas a serem alcançadas. Como se fosse um trem ou avião. Depois da decolagem, a startup precisa demonstrar-se capaz de permanecer voando, viva e consistente. Aí já morre a maior parte.

Confirmada a sustentabilidade, vai se testar das possibilidades de um novo arranque e perspectivas de alcançar a próxima altitude. Vamos imaginar que da decolagem à primeira etapa a startup tenha alcançado 3 mil metros de altura. O objetivo da segunda etapa é chegar e se sustentar nos 6 mil. Uma vez alcançada essa marca, checa-se da potência revelada e de sua capacidade de chegar a uma altura superior a 10 mil metros. E em cada um desses três momentos de sucesso, muitas vezes, é necessário uma nova rodada de captação de recursos e investimentos.

E investidores só concordam em aportar mais recursos desde que sintam a consistência da decolagem, a força da sustentação e o potencial de ascender a uma altitude maior. É o que vem acontecendo com uma Movile dona dos aplicativos iFood e Playkids. Semanas atrás concluiu com sucesso mais uma rodada de investimentos. No fim do ano passado recebera numa segunda rodada, já voando próxima dos 6 mil metros de altura, US$ 82 milhões. E, agora já
batendo acima dos 10 mil metros, outros US$ 124 milhões. Mas por que, perguntarão vocês, mais investimentos para uma empresa que já vem alcançando grande sucesso? Para acelerar o crescimento e prevenir-se de um eventual ataque de concorrentes. Consolidar e fortalecer as posições alcançadas e tornar mais difícil eventuais e prováveis ataques. Fabricio Bloisi, fundador e líder da Movile, declarou ao Valor sobre a nova rodada de investimentos: “A empresa agora é muito maior, está crescendo muito e tem potencial para crescer muito mais. Assim, queremos acelerar e aproveitar o momento”. iFood e Playkids talvez sejam os negócios mais conhecidos da Movile. Mas desde seu início multiplicou seu tamanho dezenas de vezes. No território das entregas, além do iFood, tem a Rapiddo. Em conteúdo para crianças, além do Playkids, tem a Leiturinha. Em gestão de logística, a Maplink. Venda de ingressos Sympla; e música, Superplayer. Meses atrás, em março, a Movile ingressou no território das fintechs com a compra da empresa Zoop.

É esse caminho, já percorrido até agora pela Movile, que milhares de empresas que nasceram nos últimos anos pretendem percorrer. Uma corrida de espermatozoides. Centenas tentam, mas apenas um chega lá! Imaginem os riscos dos investidores… Assim, respondendo aos que me perguntam, o desafio é esse, as perspectivas e possibilidades de sucesso essas, e desconheço outros caminhos e alternativas. Preparado? Tudo o mais é delírio, autoengano, mergulho no abismo, por mais que na superfície e nas aparências o céu pareça ser de azul de brigadeiro. Definitivamente, não é.

Não me recordo de nada próximo em termos de taxa de mortalidade. Quem sabe, repito, espermatozoides em desabalada e inútil carreira.

Francisco Alberto Madia de Souza  é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)