Se a base não é boa, se a cabeça não está assentada, se a adrenalina transborda, se os elogios cegam, o inevitável acontece. Bobagem da grossa. Daquelas de passar vergonha. Leio no Diário do Nordeste, edição de 3 de dezembro de 2014, e repercutindo a revista: “Expansão do Coco Bambu é destaque na Forbes Brasil”.

Mais que merecido. Presumo. Sucesso de público, ainda que não necessariamente de crítica, mas é o que conta. Não fui e não vou. Recuso-me a comer num restaurante, a estas alturas da vida – 74 anos e três semanas – que não se anuncie com um nome minimamente palatável. Coco Bambu? Tô fora. Ainda mais com uma proposta tipo Maracanã quando tudo o que quero hoje é uma pequena mesa, com música quase imperceptível de fundo, e pessoas silenciosas e educadas no entorno. Porções pequenas e de qualidade. Uma taça de vinho de procedência comprovada e assinatura confiável. Mas, nada disso conta para efeitos do marketing e da vida. E para o interesse de meus queridos leitores.

Diz o jornal, “Surgido há 25 anos” – coisas que surgem me causam arrepio – “o negócio foi criado por Afranio, que até então atuava como engenheiro civil, e pela sua mulher, Daniela: eu tinha uma empresa de construção civil e minha mulher era recém-formada, então resolvemos abrir o Dom Pastel”. Assim, em 2001, mais que surgir, nasce o Coco Bambu. Segundo os clientes do Dom Pastel, “Fortaleza ainda não tinha um bom restaurante de frutos do mar e, como o Ceará é o maior produtor de camarões do Brasil com turismo voltado para a praia, achamos que era um grande negócio abrir um restaurante nessa área…”.

Tudo o mais é história. Agora deixo o Diário do Nordeste e desembarco na Gazeta do Povo (Paraná): “Coco Bambu em Curitiba abre as portas na segunda quinzena de junho (2016)… restaurante terá três andares e vai atender até 500 pessoas ao mesmo tempo…”. Desço um pouco mais e abro o Zero Hora, Porto Alegre, setembro de 2016. “Unidade do Coco Bambu no Shopping Iguatemi projeta receber 50 mil pessoas ao mês…”. Penso, meu Deus, os gaúchos estão abandonando o churrasco…

Enfim, amigos, tal como o Madero do Sul – megassucesso, o Coco Bambu, Nordeste, é outro megassucesso Brasil. Repito, com total merecimento. Para quem gosta, sem brincadeira de péssimo gosto, é um prato feito. Mas, retornando ao início, o sucesso subiu à cabeça e as tontices multiplicam-se. Na Folha, janeiro de 2017, Coco Bambu lança o vinho… suspense… Isso mesmo, Vinho Coco Bambu. Que merda! Sem o vinho já era um barulho só, agora com o vinho é um ruído insuportável.

Mas, me segurando, brincadeiras ou irritações à parte, Afranio e Daniela, antes de mais nada, parabéns pelo merecido sucesso. Mas, menos, muito menos. Branco ou tinto, ainda que “desenvolvido pelo consagrado enólogo Luis Duarte e produzido em Portugal, na região do Alentejo, no ano de 2015”, uma gororoba.

Como sei se jamais pus os pés no restaurante e muito menos “apreciei” o vinho? Pela simples razão que vinho com marca de e do restaurante é péssimo; que se gosto de Coco Bambu na comida e no ouvido é insuportável, vazando para o vinho, então, nem comentar.

Por favor, alguém amigo do casal dê um toque salvador antes que a vergonha coloque em risco o merecido sucesso. Em tempo: se não obstante meu comentário você sentiu vontade de experimentar o fantástico vinho Coco Bambu, branco ou tinto, está em promoção: de R$ 99 por R$ 75.