Um festival de tecnologia com uma pitada de comportamento ou um festival de comportamento humano com pitadas de inovação e tecnologia?

Confesso que, nesse momento, se alguém me pedir para definir o South by Southwest 2018 em uma frase ou uma palavra, teria de parar e pensar muito. Essa é minha primeira participação no festival, como muitos dos milhares de brasileiros – mais de 1.300, compondo uma das maiores delegações – que circularam por Austin durante esses dias.

Hoje posso concluir que embarquei para o festival com uma visão um pouco embaçada a respeito do que ele realmente é. Até porque ninguém consegue ter uma visão clara daquilo que é sem que tenha vivido a rotina louca e absurdamente rica de estar na cidade durante esse período.

Vim para um festival que havia recebido críticas em relação às últimas edições, especialmente sobre curadoria e relevância. E com uma expectativa de ver muita tecnologia – AI, VR, AR, Nasa, blockchain, startups… Mas encontrei aqui o oráculo para falar, conhecer e saber mais sobre gente e sobre comportamento humano. Não interessa a área da qual você faz parte – humanas, exatas ou biológicas –, você sempre encontra algum assunto que tenha aderência ao seu negócio, quer ele seja uma empresa, uma ideia, uma startup ou apenas sua vida mesmo.

Isso não quer dizer, de forma alguma, que a gente não tome um banho de conhecimento e fale dúzias de “uaus” o dia todo – sim, você vai ver muita inovação, muito protótipo, muita coisa que não tinha nem ideia de que já havia gente pensando a respeito. Além de conteúdo técnico, de tendências, compartilhados diretamente por quem pesquisa e produz. Mas me surpreendi muito ao encontrar uma grade de palestras rica em comportamento – da psicoterapeuta Esther Perrel, que hipnotizou cerca de 3 mil pessoas e deixou várias outras na vontade, falando sobre os relacionamentos contemporâneos, até gente como Roy Spence, fundador da agência GSD&M, reforçando a importância de ter um propósito não apenas para as marcas, mas sim para a vida.

Mesmo nos assuntos mais técnicos, como no painel com a diretora do laboratório de inteligência artificial de Stanford, Fei-Fei Li, ou nas previsões bombásticas da professora da NYU Amy Webb, sinalizando o fim dos smartphones e declarando dados como o novo petróleo, dá para afirmar que o SXSW é “human centered”, exatamente como os profissionais de tecnologia gostam de se posicionar. Ou seja, feita por e para pessoas, com uma inteligência humana, repleta de emoções, intenções e pensamentos.

E é esse o ponto que mais me surpreendeu no festival como um todo: a pessoa está no centro de tudo. Da inteligência artificial ao painel de tendências, da máquina que imprime sushis aos bots. E isso é uma coisa que a gente acaba esquecendo no dia a dia e vê a tecnologia e a inovação como algo que tem um fim em si mesmo. Não tem não. Ela começa, se desenvolve e termina com gente. Com a gente.

Patricia Tavares é diretora de planejamento da HouseCricket
patricia@housecricket.com.br