O desafio está lançado: Pense em qualquer tema de A a Z e o SXSW deverá ter pelo menos três opções de especialistas, produtos ou projetos sobre ambiente digital, games, medicina, realidade de consumo, tendências para o futuro, produção de cenas, sons ou outros tipos de conteúdo sobre o assunto que passar pela sua cabeça.
Sigla para South by Southwest, o SXSW 2015, realizado semana passada em Austin, é um conjunto de três festivais sobre tecnologia, música e cinema, que pode ser sintetizado como um encontro que explora o universo das ideias. Boas ou ruins, atraentes, inovadoras, complexas, ousadas ou simplesmente malucas, as ideias sustentam o enorme mosaico de opções que o SXSW propõe aos seus cerca de 50 mil participantes que alteram o ritmo e a dinâmica urbana do centro da capital texana.
Com uma programação de palestras, debates, workshops, shows, feira de expositores, premiações, festas e sessões de filmes, o SXSW também se resume em uma atualização sobre conceitos, avanços e desafios em torno da economia, da ciência e de modelos sociais. O festival, bem diversificado, tem encontros que discutem desde os mistérios dos oceanos à evolução da pornografia do marketing. Mostra produtos robóticos para tratamentos médicos ou para facilidades do dia a dia. Dá espaço a um stand como o da Nasa, para divulgar novos telescópios e a Missão Cassini, além de empresas de alimentos orgânicos, de impressão 3D ou de produtos de tecnologia vestível.
Diversidade, aliás, foi apontada como a principal tendência de inovação no SXSW 2015. Ela recebeu o título de Breakout Trend of The Year do SXSW Interactive Innovation Awards por ter sido a que mais ganhou força durante o festival deste ano. A premiação destacou 14 categorias, além de outros três prêmios especiais, incluindo o Best of Show, concedido para o case “Strati”, sobre o primeiro carro do mundo feito com impressão 3D, e o Meme do Ano, conquistado pelo campanha viral “Desafio do balde”, criada para combater a esclerose lateral amiotrófica.
Inovação e erros
Uma das principais participações no programa do festival Interactive do SXSW 2015 foi sobre os projetos de inovação. Ela foi feita no último dia 17 pelo cientista e escritor Astro Teller – seu nome verdadeiro é Eric Teller – que tem o cargo de Captain of Moonshots do Google X, uma “fábrica de inovações” do Google.
“Moonshot” é a expressão utilizada para os projetos de inteligência do futuro. É do laboratório coordenado por Teller que saem novidades como o Google Glass, o Project Loon (sobre balões no espaço), os carros inteligentes e o Project Ara (celulares modulares).
Teller ressaltou e exaltou a importância de erros e falhas no desenvolvimento de produtos. “São os erros que nos dão lições e apontam os novos caminhos a serem adotados”, disse, referindo-se principalmente ao Glass, um projeto que melhor define a tão falada “tecnologia vestível”, conceituado como uma versão de realidade aumentada, que está temporariamente suspenso pelo Google depois de vários testes com consumidores e também de várias situações polêmicas envolvendo questões de privacidade.
Teller afirma que um dos principais erros do Google Glass foi em relação ao seu posicionamento no mercado e também ao excesso de atenção dado ao programa. “Um dos erros, que pode ser considerado uma falha, foi tratar os óculos como se eles já fossem um produto final pronto para ser entregue ao consumidor”, avalia Teller. “Pensamos em um produto que entrega valor real para pessoas que vivem em um mundo real. Mas, ao mesmo tempo, ele não foi posicionado como um produto real”, observou o chefe dos projetos do Google. Uma das lições destacadas por Teller entre os erros do Google Glass é a importância de um aprofundamento de discussões sobre privacidade. “Os erros também foram úteis para o futuro do mercado da tecnologia vestível no segmento de óculos”, ele completou.
Os “moonshots” do Google envolvem projetos que ainda não têm um modelo de negócios no mercado atual, mas que podem gerar grandes nichos de negócios em médio ou em longo prazo.
Teller também comentou sobre erros envolvendo materiais utilizados no projeto Loon, com balões enviados à estratosfera, e com os projetos de carro que se deslocam sozinhos. “A melhor maneira de testá-los é colocando nas ruas”, disse ele, ao comentar que neste processo foi possível identificar que um dos modelos do projeto não conseguiu identificar o movimento de uma mulher na rua tentando afastar um pato da pista onde o carro do Google X estava sendo testado.
O projeto do carro inteligente do Google é fazer um automóvel totalmente “autônomo”, sem acelerador e sem freio, que dirige sem o comando humano de um ponto A a um ponto B. “Não podemos testar o projeto a partir do comportamento do homem, pois, afinal, ele usa celular ao volante para conversar e para digitar mensagens. Assumir que os homens são um bom modelo de teste para esse sistema é totalmente uma falácia”, destaca Teller.
Evoluir ou morrer
Dentro do programa do Interactive do SXSW 2015 também foi discutido o modelo de trabalho das agências tradicionais dentro de um mercado de comunicação e de consumo cada vez mais digitalizado.
O assunto foi o tema de um painel intitulado “Evolua ou morra: a revolução da agência tradicional”. Ele contou com a participação de Sunni Thompson, diretora de conteúdo da JWT de Atlanta; Alister Adams, VP da área digital da Publicis de Toronto; John Keehler, diretor de estratégias digitais da agência The Richards Group; e Peter Fasano, da Social@Ogilvy.
Os quatro publicitários destacaram a importância de reforçar estratégias de integração para vencer os desafios que cercam o modelo de trabalho das agências. “Temos de ser cada vez mais capazes de impactar”, sintetizou Sunni. “O desafio não é apenas sermos eficientes para criar estratégias sociais, mas sim colaborar para que tudo seja mais social”, opinou Fasano.
Para Adams, um dos principais desafios para as agências é “garantir a integração de mídias com prazos menores e menos dinheiro”. Ele também ressaltou que, nas estrutura de trabalho de hoje, não há mais espaço para os modelos de duplas de criação. “O futuro das estruturas das agências é ter equipes cada vez menores”, completou Keehler.
Keehler também destacou que o modelo de trabalho das agências de hoje deve ser o de uma “coordenadora de serviços diversos” com equipes multidisciplinares formadas por profissionais próprios e especialistas do mercado. O objetivo deste modelo, segundo ele, é aperfeiçoar integração.