Bobagem. Sempre é tempo para renascer, amar e empreender. Março de 2017. Ainda em meio à ressaca dos últimos dois anos, curtindo o porre de nossa bebedeira, omissão, preguiça e comodismo, que nos levaram a essa situação patética e sem o menor sentido em que se encontra o Brasil. Confiamos, o que Deus ou a natureza nos deu, à gestão precária e criminosa de incompetentes e corruptos. E deu no que deu. A maior crise de nossa história. Ingressamos no novo ano batendo recordes de desemprego. Perspectivas próximas de zero de solução no curto prazo. Mas, mesmo assim, com esperanças sobreviventes.
E aí vem a pesquisa do empreendedor individual do Sebrae e nos anima. Mais ainda, nos estimula e nos faz refletir sobre permanecermos parados ou começarmos a nos mexer. Mais que pesquisa, o Sebrae apenas tabulou os dados e revelou a fotografia. Mergulhou no universo dos MEIs (Microempreendedores Individuais) e aferiu o que aconteceu de 2011 para cá nos diferentes extratos da população.
Por necessidade ou precisão, a energia empreendedora adormecida, mas não morta e inerente na quase totalidade dos seres humanos, desperta e revela-se. Muito especialmente dentre os que têm maiores compromissos, menos tempo de vida em perspectiva e vontade natural de ainda construir o que quer que seja no tempo que resta. Assim, revelada a fotografia, o único entre os extratos de microempreendedores em que se registra crescimento desde 2011 é no de pessoas com 50 anos ou mais. Antes de partir, olhando para trás, chegando aos 90, Cora Coralina disse que a juventude começava nos 70… Que passou parte da vida fazendo e vendendo doces cristalizados de caju, abóbora, figo e laranja. Que aprendeu datilografia aos 70 para escrever seu primeiro livro, publicado aos 75 anos. Empreender a partir dos 50 talvez seja a tal da melhor idade. Mas não importa. O que importa é que, por precisão ou energia adormecida, percebe-se no horizonte da economia milhões de novas empresas brotando e tendo em sua frente cinquentões ou mais.
A participação dos microempreendedores de 50 anos ou mais em 2011 era de 14,6%. Saltou para 15,5% em 2012, 17,3% em 2013, 17,9% em 2015 e bateria nos 20% no fim deste ano, não fosse semelhante movimento que começa a se manifestar nos demais estratos da população. Tendo como base a fotografia do Sebrae, o Estadão foi conferir. E colheu depoimentos como os de Celso Guimarães, 65 anos, desempregado depois de 40 anos que abriu uma franquia de corretora de seguros: “queria uma atividade na minha residência e onde fosse mais usado intelectualmente do que fisicamente”.
Ou de Rita Junck, 51 anos, dispensada de um banco em maio de 2015. Começou a comprar e vender produtos, criou uma lojinha em um market place na internet e explicou: “Foram 30 anos trabalhando para o sonho dos outros. Agora, tenho o próprio negócio e posso ficar mais tempo com a minha filha, de 12 anos”. Enfim, pelas circunstâncias, crise, caminhos inadequados, extemporâneos e tortuosos – não importa – o empreendedorismo brota, cresce e viceja. E a partir dos mais velhos ou, se preferirem, menos jovens. De 50 anos ou mais. Finalmente o que Assis Valente compôs para Carmem Miranda gravar nos anos 1940, e dela recebeu como resposta “Assis, isso não presta. Você ficou borocoxô”, é aquela da tal ideia que Victor Hugo disse e Tom Peters multiplicou: “Nada mais forte do que uma ideia cujo tempo chegou”.
A música reabilitada anos depois pelos Novos Baianos é uma espécie de novo Hino Nacional do Brasil. Do Brasil Pandeiro: “Chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor”. Brasil, de mais ou menos de 50 anos, esquentai vossos pandeiros, iluminai os terreiros, que nós queremos sambar! Empreender! Prosperar!
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing