O Itaú Unibanco anunciou recentemente (20/10) uma nova plataforma de conteúdo e comunicação em parceria com a Editora Globo – o portal Inteligência Financeira, que traz informações de macroeconomia e de mercado financeiro.
A XP, também neste mês, comunicou que está transformando o site de notícias InfoMoney em uma plataforma completa com conteúdo do mercado, análises e gestão dos investimentos, a +IM, resultado da fusão com a Fliper.
A fórmula que a Empiricus já vem trabalhando desde o berço, que o BTG Pactual abraçou ao adquirir a Exame, e que vem sendo aplicada por muitos outros players do mercado financeiro não é à toa.
Informação é o que move a sociedade, por isso conteúdo é o produto mais consumido no mundo, ganhando até da água (as pessoas deixam de beber o mínimo de água necessário diariamente, de 2 a 3 litros, mas o tempo navegando nas redes sociais ou nas mídias só aumenta).
Com o crescimento exponencial de conteúdo disponível e celulares à mão, as “ilhas de informação”, com conteúdo direcionado, têm crescido em estratégia e em uso pelas pessoas.
Diversos fatores indicam que nos próximos anos, a começar já em 2022 pós-pandemia, o movimento de criar (ou patrocinar) seu próprio material jornalístico e informativo para os consumidores – branded content, branded publishing ou outros formatos – para atrair mais pessoas, exploda também em outros setores.
Considerando as movimentações recentes, os investimentos e as oportunidades que surgiram com a pandemia, há 5 segmentos da economia mais propícios a investir em conteúdo:
- Varejo – aguardem o Magazine Luiza e seus concorrentes. Nos dois últimos anos, a empresa anunciou diversas aquisições, inclusive de meios de comunicação – o Canaltech e o canal Jovem Nerd do Youtube. O CEO Fred Trajano é um entusiasta da tecnologia, e o varejo ainda é um dos setores que mais investem em publicidade em canais de massa, porém essa verba tem migrado cada vez mais para o meio digital (e não apenas nas grandes plataformas).
- Tecnologia – com o advento das startups e aceleração de negócios intensificada na pandemia, já se vê um movimento das venture capital, hubs e aceleradoras em direção a criar seu próprio conteúdo ou atrelar informação a canais específicos – muito ainda em formato inbound (“baixe esse relatório – mas, para isso, nos deixe seus dados”). Jornalistas que já estiveram em grandes redações estão abrindo seus próprios canais. A tendência é de que a alta continue, visto que a previsão de aumento no número de empresas investindo em tecnologia entre 2020 e este ano era de 75%, e o aumento das vagas de programadores e escassez de mão-de-obra.
- Saúde – setor que recebeu muita atenção devido à Covid, e que tem bastante espaço para comunicar de forma mais estruturada. Com o contexto da vacinação em geral (retorno do sarampo no ano passado, e toda a questão política envolvida), as fusões e aquisições recentes, e se tratando de um assunto que é de interesse público, é um segmento bastante promissor para o crescimento em canais estruturados e patrocinados por grandes empresas.
- Educação – outro mercado que passou por grandes mudanças na pandemia com a obrigatoriedade de se transferir as aulas para o meio digital, e cujas fusões chamaram atenção dos investidores. Há muita oportunidade para crescer em conteúdo visto a quantidade de cursos abertos que já estão disponíveis, além de ser um dos segmentos mais visitados na plataforma YouTube e com maior facilidade de melhoria de formatos.
- ESG – não podia faltar o tema da vez. Consumidores exigentes, investimentos altos e o futuro da humanidade envolvido, tem muita inovação a ser colocada em prática. É o assunto que mais tem sido discutido nas mesas de bar (ou rodas corporativas) e um dos que mais merece aprofundamento. Seja com ênfase no público comum, seja no B2B, já existia em fóruns especializados e só tem a crescer em conteúdo e informação daqui em diante, principalmente devido à cobrança por transparência
Outros setores também estão nessa onda, mas o maior potencial nestes cinco grupos listados acima (e não estão em ordem de relevância ou oportunidade) se deve ao fato das fusões e aquisições, dos investimentos em tecnologia e de serem áreas que passaram por grandes transformações durante a pandemia e que terão no conteúdo um dos legados, ou que já contavam com montante expressivo de aporte em publicidade que está migrando cada vez mais para o mundo digital.
Como disse um colega, “todas as empresas estão pensando ou em (1) criar suas próprias comunidades; ou (2) criar um canal que não as deixe virar reféns das plataformas sociais, que não entregam mais nada de conteúdo orgânico (vide práticas cada vez mais rigorosas do grupo FB e do Google)”.
Além do potencial para conteúdo informativo, também devem estar na mira dos investimentos o streaming – a Salesforce criou um streaming próprio voltado a negócios na linha Disney+ – e a produção audiovisual, com canais em áudio (aumento de 57% dos brasileiros ouvindo Podcasts na pandemia, segundo pesquisa Ibope/Globo) e até mesmo a aplicação dos vídeos cinematográficos em campanhas de propósito.
Acomunicação mais pontual também continua no jogo – não vão faltar recursos para os microinfluenciadores e dancinhas nas “redes vizinhas”, que atingem um público-alvo jovem e mais específico, tampouco para o universo pulverizado dos influencers locais.
O fato é que, olhando de forma ampla os grandes temas que movem a sociedade, já há novos continentes (ou seriam arquipélagos de ilhas particulares?), se formando nessa nova divisão geográfica do universo midiático. Seguindo o exemplo da Editora Globo, que se juntou ao Itaú no novo canal, a mídia tradicional que continue correndo para se atualizar.
Ricardo Meireles é consultor e estrategista de conteúdo e de relações stakeholders