Há os que torcem contorcendo-se. A ponto de, no pós-jogo, ficarem com torcicolo. Esses são do grupo dos apoiadores silenciosos. Uma categoria semitímida, mezzo pessimista, mezzo arredia – mas que nunca deixa de dar a maior força à sua equipe. Já cheguei a ver uma moça, do tipo calada, que, nos lances mais decisivos, vibrava. Quero dizer, ela tremia-se inteira, feito uma lavadora desregulada, toda vez que a seu time fazia ou tomava um gol.
Os silenciosos, ciosos de seus atos, são minoria. A tendência do brasileiro é ser excessivo. Logo, somos um povo escandaloso. Tão escancarado que os tipos assim dividem-se em subcategorias.
Temos, por exemplo, o escandaloso gritão. Assistir um “match” ao lado dele é uma verdadeira tortura para os tímpanos. O desesperado urra, não apenas nos lances capitais, mas até nas reversões e durante o intervalo.
Ombreia-se ao gritão aquela senhora cinquentona, meio perua, que não entende absolutamente nada do ludopédio. E ainda faz comentários indesejáveis nos momentos mais indesejáveis. “Mas a Seleção é a de camisa amarela ou roxa?” E, sempre na sequência, solta aquela gargalhada altíssima e interminável que atrapalha a concentração dos outros angustiados torcedores.
Não podemos esquecer ainda nessa categoria, o vovô pornógrafo. Trata-se de um senhorzinho, beirando o octogenarismo, com uma meia dúzia de netinhos. E que, quando abunda-se defronte à uma TV que exibe uma partida do Brasil, costuma soltar o verbo. Na frente de quem for. É PQP, VTNC, C(*). P(*) e outras denominações ainda mais cabeludas. Para o aprendizado precoce dos infantes de sua família.
Finalizando a classificação há os que não torcem. Muitos julgam que são em número diminuto, mas não é verdade. São, de fato, uma imensa legião. E estão todos, a sete palmos da superfície, em nossos cemitérios.
E acredite: até eles tremeram no túmulo naquele infausto jogo contra os belgas na Rússia.