Sorteados os oito grupos que iniciarão a disputa da Copa do Mundo 2014, em um espetáculo que poderia ter sido bem mais animado, bem mais brasileiro do que foi, restou ao nosso país uma chave sem qualquer grande força do futebol mundial, a não ser o próprio Brasil.
Croácia (primeiro adversário), México (segundo) e Camarões (terceiro) não representam obstáculos difíceis de serem transpostos, mesmo que a magia do esporte-rei vez ou outra apresente surpresas.
Assim, ao que tudo indica já estamos com passagem assegurada para a segunda fase da Copa, gratificando o povo brasileiro e os anunciantes e patrocinadores do grande evento mundial com a permanência da seleção pentacampeã até no mínimo as oitavas de final.
A partir daí, vale a leitura do anúncio de página inteira da Africa nos jornais destes últimos dias, com um texto de Nizan Guanaes em seu próprio nome, conclamando o público a apostar nesta Copa.
Nizan mais uma vez acertou em recorrer à publicidade – o seu principal ofício e o que o fez famoso hoje já não apenas em nosso país – para dar o seu recado, como brasileiro, como torcedor (mesmo confessando no anúncio que não entende nada de futebol) e, principalmente nos dias que correm, como líder empresarial chegado às lideranças políticas do país, contrapondo-se à onda de pessimismo que tenta desqualificar o maior evento do futebol mundial, reforçado para nós brasileiros pelo fato de ocorrer no Brasil e pela segunda vez.
Todos sabemos das mazelas do futebol, como sabemos das mazelas da política, mas, já que temos que viver com elas – porque aqui prevalece o ditado “ruim com elas, pior sem elas” –, que aproveitemos então o que de bom podem nos oferecer.
No caso do futebol, que é o assunto do momento, devemos enxergá-lo como uma força mágica que poderá nos tornar, dependendo dos acontecimentos, mais e melhor conhecidos em todo o planeta.
Mesmo os países que não apreciam o famoso esporte ficarão atentos ao país-sede desta Copa, devido ao avanço das transmissões instantâneas de imagens em um mundo ainda vasto para as nossas possibilidades, mas que se tornou acessível principalmente pela rapidez e qualidade dos fatos que se apresentam a todo minuto a sete bilhões de seres humanos, e o futebol é um dos preferidos deles. Sendo no Brasil e do Brasil essa imagem é ainda mais valiosa.
O que a Copa pode fazer por nós depende de todos. Os espertalhões, que sempre se aproveitam desses grandes espetáculos que mexem com as multidões, por certo ganharão ainda mais dinheiro com a Copa.
Mas, como isso é inevitável, pelo menos dentro do quadro atual desse tipo de entretenimento, dominado por uma organização mundial que não é um exemplo de reputação, temos a possibilidade e, mais do que isso, a obrigação de fazer desse evento um gigantesco dínamo para acelerar as nossas oportunidades e com isso os índices da nossa economia.
Pode ser um engodo, mas o futebol faz muita gente do povo feliz.
Pessoas que têm pouco ou nenhum recurso para ocupar uma parte das suas vidas com entretenimento acabam recorrendo ao futebol, que dispensa seus aficionados de irem aos estádios – o que hoje além de ser perigoso custa caro – para vibrarem, sofrerem, torcerem e muitas vezes gozarem de uma felicidade indescritível.
Vamos deixar o pessimismo para as eleições de 2014, já que estamos nos aproximando da horrível conclusão de que nessa época fazemos parte de um bando de iludidos, crentes de que alguns daqueles muitos que disputam nossos votos são diferentes e farão algo por nós.
Não vão fazer. Se fizerem, será porque enquanto dormem, a máquina chamada Brasil anda por suas próprias pernas, como podemos chamar o povo. O resto não lhes interessa, como ainda não cansamos totalmente de ver de dois em dois anos nos últimos tempos.
Amarrando-nos à Copa, poderemos fazer o jogo deles, mas sobrará muito para o Brasil e é isso que nos interessa. Como já foi dito uma vez em célebre anúncio dos anos 60, o Brasil é maior que o abismo.
Por mais absurdo que isso possa parecer, a Copa poderá representar para a nossa cidadania o que representou em sentido inverso para o regime militar em 1970.
São lições da História que se não se repetem senão como farsa, podem desta feita abrir-nos uma inesperada exceção, indicando depuração e novos caminhos.
Ao contrário do que os aproveitadores das massas julgam, o brasileiro não é mais o mesmo das Copas anteriores, que nos consagraram por cinco vezes o país campeão.
O momento é outro, o espírito coletivo também. Embora restando ainda muito a percorrer nesse sentido, os brasileiros estão mais esclarecidos, aproximando-se muito rapidamente de uma mínima autossuficiência para distinguir o certo do errado.
A partir daqui, a ilusão de ótica que nos impõem tende a não produzir mais efeitos, pelo menos os que se tornaram tradicionais desde 1500.
Como sugeriu em sua obra o escritor espanhol Antonio Machado, “caminhante, não há caminho; se faz o caminho ao andar”.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2478 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 9 de dezembro de 2013