Takeshi Uchiyamada, 71 anos, hoje preside o Conselho da Toyota. Chegou lá por merecimento. Mas, antes de falar de Takeshi, volto ao lançamento do Corolla, no ano de 1966, no Japão. Dois anos depois, em 1968, decidem lançar o carro nos Estados Unidos. Quota inicial, 15 mil carros. O funcionário designado para a missão vendeu os 15 mil carros em poucas semanas. 500 carros em 30 revendas e cumpriu sua missão. E o Corolla começou a rodar nas ruas dos Estados Unidos.
Em poucos quarteirões o carro desmontava. Não fora feito para aquele tipo de piso. O funcionário designado para a missão, envergonhado, entrou em contato com a fábrica e perguntou se deveria retornar ou cometer haraquiri: “Não, permaneça. Vamos pedir desculpas e resolver todos os problemas. Acabamos de conquistar o melhor laboratório de pesquisas e análise que jamais imaginamos construir… verdadeiro, real”.
Durante décadas o Corolla foi um dos carros mais vendidos dos Estados Unidos e do mundo. Muito da excepcional imagem de qualidade que a Toyota tem se deve ao desempenho e ao aprendizado daquela primeira incursão num mercado novo e desconhecido. Agora, Takeshi Uchiyamada… Um dia recebeu um desafio. Era o engenheiro-chefe da empresa. O briefing era o seguinte: um carro que se traduzisse na melhor e mais consistente resposta para as questões ambientais. Em poucos anos nascia o Prius. Desde os primeiros anos, a referência, o emblema. Lembro-me que estávamos – minha mulher e eu – viajando a turismo em Paris quando cruzamos com um Prius nas ruas. Era de parar para ver. O protótipo que tínhamos conhecido no Salão de Automóveis de Nova York, alguns anos antes, ganhara vida.
Os primeiros Prius saíram das fábricas para as ruas de Tóquio no ano de 1997. Em 2001, começou sua escalada mundial. Em 2004, uma segunda geração; em 2009, a terceira; a quarta, em dezembro de 2015, no Japão; e no início de 2016, na Europa e nos Estados Unidos. Desde sua criação, a Toyota já vendeu mais de 10 milhões de Prius. Objetivamente, Takeshi respondeu à altura e com qualidade ao desafio e, como reconhecimento, hoje é o mentor da empresa.
Semanas atrás veio ao Brasil. Foi recebido por Temer e entrevistado por diferentes plataformas. E, em todas, fez questão de ressaltar o maior desafio que nosso país enfrenta. O custo Brasil. Pela dimensão do Estado brasileiro, pela dimensão territorial do país e um sistema de logística precário, por um sistema tributário simplesmente incompreensível e caótico, e uma legislação trabalhista absurda… Absolutamente certo. Ou resolvemos essas questões ou permaneceremos estáticos e ficando na lanterna dos demais países e da história.
Como não poderia deixar de ser, quase todos os jornalistas questionaram Takeshi sobre o futuro do automóvel. E, para todos, ele respondeu o mesmo: “A Toyota sempre teve presente o compromisso pela sobrevivência. Nada nos garante que não teremos o mesmo fim de uma Kodak. Mas as perspectivas são boas. Nascemos em 1937, como uma montadora de tear. No momento em que a sociedade começou a demandar por maior mobilidade, migramos para o negócio de automóveis. Agora, ou adequamos nossos automóveis aos novos tempos ou mudamos de ramo. Não existe alternativa”. Essa é a Toyota, assim são os japoneses. A verdade antes, durante, depois e acima de tudo. Se erram – e erram – reconhecem o erro e convertem em valioso aprendizado. Como fez a Toyota, em 1968, quando seus primeiros Corollas literalmente desmanchavam nas ruas da Flórida…
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing (famadia@madiamm.com.br)