1. A morte acidental de Eduardo Campos adiciona mais um capítulo na história das tragédias envolvendo políticos brasileiros.
Ela não termina em si mesma, causando desdobramentos ainda inesperados e incalculáveis ao próprio futuro do país.
O jogo de xadrez que estava se desenhando nas últimas semanas e que ganharia maior dinâmica com o início do horário eleitoral gratuito, tende a mudar completamente com o desenlace ocorrido na cidade de Santos.
Se Marina Silva, como tudo indica, for escolhida pela coligação de partidos que apoiam a chapa onde ela figurava como candidata à vice-presidente da República, para ocupar o lugar de Eduardo Campos, muitas formulações serão a partir daí possíveis de se configurar, devendo-se levar em conta nessa análise o perfil do seu vice a ser indicado.
Quando esta edição do propmark iniciar a sua circulação, o Datafolha já terá concluído e tabulado a pesquisa que iniciou após o acidente aéreo, colocando Marina no lugar de Campos e visando tomar o pulso da opinião pública brasileira sobre a nova realidade das candidaturas estabelecidas.
Entre quinta e sexta-feira passadas, o que mais se especulava, com Marina Silva eventualmente já confirmada como candidata no lugar de Eduardo Campos, era o aumento da possibilidade do 2º turno.
Esse raciocínio partia dos cerca de 20 milhões de votos que teve a candidata nas eleições de 2010, à sua acelerada ascensão a partir de então na vida política nacional e ao fato de como mulher e líder política, ser nacionalmente conhecida.
Partindo da premissa de que, havendo 2º turno, a presidente Dilma Rousseff chegará em primeiro lugar no primeiro escrutínio, com quem disputará a eleição decisiva: com Aécio ou Marina?
Sem trocadilho, Aécio Neves não mais decolou após a abordagem pelo “Jornal Nacional” de 11/8, do aeroporto regional que determinou ser feito em terreno de propriedade do seu tio-avô. Ele se revelou frágil no aperto dos âncoras William Bonner e Patrícia Poeta, muito diferente de Eduardo Campos na noite seguinte, negando com suavidade e convincente articulação verbal, campanha que teria liderado para conduzir sua mãe ao Tribunal de Contas da União.
Ao invés de negar peremptoriamente, reconheceu que se limitou a torcer por ela, como filho e pelos atributos da candidata à vaga.
Se a tirania das palavras opôs-se a Aécio Neves na edição anterior do “Jornal Nacional”, não fez escola sobre Eduardo Campos na noite seguinte, com o então candidato transpirando sinceridade.
A prevalecer esse quadro digamos inconveniente para Aécio – e a pesquisa do Datafolha trará luzes à questão – as chances de Marina Silva aumentarão, podendo levá-la a disputar com Dilma Rousseff o 2º turno.
Entre os muitos analistas desse conturbado cenário eleitoral, agora ainda mais delicado diante do fato novo ocorrido, há aqueles que até chegam a admitir o encerramento do 1º turno com Marina na liderança dos votos, uma hipótese impensável até então, mesmo com ela sendo a cabeça da chapa com Eduardo Campos seu vice, numa configuração meramente de ficção.
Pode contribuir para o resultado acima apontado e até mesmo para a conquista da Presidência da República por Marina Silva, a emoção que tomou conta do povo brasileiro a partir do trágico acidente aéreo.
Curiosamente, por dever de ofício – e muito pouco de consciência – os opositores políticos de Eduardo Campos de todos os matizes, acabaram por reconhecer nele todas as qualidades que o fariam em vida o melhor dos candidatos.
A evidente contradição revelada pela hipocrisia humana, diante da morte inesperada e brutalmente trágica de Campos, pode canalizar enorme vantagem eleitoral para quem o substituir na chapa, com maior força para Marina Silva, por já possuir um capital eleitoral próprio, ser mulher e, ao que consta, muito distante dos defeitos da arrogância.
2. Os jornais da última sexta (15) noticiaram dados reveladores e preocupantes do momento vivido pela economia brasileira.
Em uma mesma página de um deles, pode-se ler que a indústria paulista demitiu 15,5 mil empregados em julho findo e que a FGV projeta um recuo de 0,8% no PIB do segundo trimestre, o que significará – se confirmado – o pior resultado desde o terceiro trimestre de 2009.
Há ainda o registro das dificuldades vividas pelo setor que mais de perto traduz o comportamento da população diante da crise. A nota refere-se à maior queda do varejo em dois anos, verificada em junho com o recuo de 0,7%.
Se a Copa do Mundo foi uma das causas, não foi a única, pois aguardam-se números piores em julho e no fechamento de agosto.
Há na verdade um desgoverno responsável pelo cenário atual, com a agravante de um horizonte próximo desprovido de medidas corretivas.
3. A eleição de Joanna Monteiro, vice-presidente de Criação da FCB Brasil, como a mulher mais criativa da publicidade mundial da atualidade, em uma pesquisa feita pelo site norte-americano Business Insider, ameniza nossas amarguras aqui refletidas e sinaliza para um possível retorno do movimento pendular da criatividade publicitária.
O pêndulo nos últimos tempos dava a impressão de se locomover cada vez mais para o mesmo lado. O trabalho criativo da FCB Brasil, assim como de outras agências que se sobressaem no domínio e aproveitamento do novo, como foi visto em Cannes este ano, é estimulante para quem desconfiava ter se instalado no setor o império da mesmice.
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2511 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 18 de agosto de 2014