Lemos: futuro passa pela discussão em torno da banda larga

Falando de convergência, cultura participativa e novas mídias foi aberto na tarde desta terça-feira (28), no Rio, o Festival Internacional de Televisão. Enquanto o jornalista Gustavo Gindre, membro do Comitê Gestor da internet por dois mandatos e especialista em regulação do audiovisual na Agência Nacional de Cinema (Ancine), lembrou que a TV segue em um cenário desregulamentado, hiperconcentrado, de baixa diversidade de conteúdo e ainda pouca produção independente, Ronaldo Lemos e Alê Youssef trouxeram sua experiência no programa Navegador, da Globonews, em que unem a internet à TV de maneira criativa e interessante.

Gindre fez uma crítica ao fato da TV paga – hoje com cerca de 19 milhões de assinantes – se dividir basicamente entre as “majors americanas”, os grandes players e seus canais, e a programadora nacional Globosat, que possui 39 canais.

“Há algumas outras minúsculas programadoras nacionais, mas a programação é oligopolizada. Há desde 2011 cotas para conteúdo nacional e independente, mas elas são muito pequenas”, criticou.

Para ele, a grande mudança que a internet traz para a TV é o fim da grade de programação como a conhecemos. A segunda é a interatividade e a possibilidade de ambos os lados – emissores e receptores – passarem a adquirir ambos os papéis.

“Não veremos, no entanto, grandes mudanças nos próximos cinco a 10 anos. Depois sim, será o fim da TV como a conhecemos. E há muitas discussões que precisam entrar em cena: o direito autoral,  a privacidade, por exemplo.  Para ele, um grande problema é que a TV e boa parte do mercado ao seu redor, inclusive a publicidade, ainda enxerga a internet como “inimiga”, pois muda radicalmente processos comerciais.  A fragmentação não é, ainda, algo para o qual a TV se encontra preparada.

Lemos, que é diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade no Rio de Janeiro e representante do MIT Media Lab no Brasil, disse que vivemos hoje uma confusão em relação às redes sociais, acreditando que elas representam um “território livre”.

“O que se vê na timeline do Facebook, por exemplo, é o que os algoritmos consideram que nos interessa, como maneira de nos manter conectados por mais tempo. Portanto, é o que interessa mais a eles e não a nós. O que vemos não é a realidade e sim o que eles acreditam que nos agrada mais. Por isso costumo dizer que é um espelho das pessoas. É como viver num condomínio, e o resto da internet são as ruas ao redor. Criamos o Navegador pensando nos primórdios da internet, quando se flanava, se navegava a esmo, havia surpresa, havia novidade, sem patrulhamento ou censura”, disse Lemos.

Para ele, o futuro passa pela discussão em torno da banda larga, a lei dos direitos autorais e a nova lei de imprensa que começa a ser discutida no Congresso.

“E banda larga, em especial, é um tema negligenciado. Estamos atrás de vários países como a Colômbia, onde o governo investiu 6% do PIB no projeto ‘vive digital’. Por aqui, o governo não apoia nada além dos meios tradicionais. A Ancine, por exemplo, não considera nada além do cinema e da televisão. Tudo isso tem que ser revisto”, disse.