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Não tem nada mais politicamente incorreto do que ser político. Culpa deles mesmos que, com suas campanhas repletas de meias-verdades ou mentiras inteiras, transformaram os períodos eleitorais num show de promessas impagáveis – nos dois sentidos. O efeito disso é predatório contra o valor maior que devemos proteger: a democracia. Ao papaguear discursos irreais, as campanhas envenenam a boa-fé dos eleitores. Semanas atrás o Ibope mostrou, numa pesquisa, que 85% dos entrevistados não levam fé na democracia. Assustador, hein?

Claro que uma das responsáveis por isso é a esculhambação da propaganda política que, contraditoriamente, está semeando um sentimento popular burramente reverso: desprezo ao voto. Primeiro passo pros pais da pátria de plantão lamberem os beiços e entrarem no vácuo. E, novamente, transformar o povo e suas instituições em bonecos de ventríloquo sentados no colo de ditadores. Para escapar desse retrocesso, só partindo para uma ação de resultados.

Atrevo-me a iniciar o brainstorm: agrupar as mais respeitadas entidades da sociedade civil – OAB, Ministério Público, ABI (Associação Brasileira de Imprensa), TSE e até os próprios políticos (que, acredite, existem os sérios, tenho amigos entre eles) – e, com elas, criar um órgão espelhado no nosso Conar. Espelhado nesse modelo socialmente consagrado, o “Conar Político” também poderia enquadrar as campanhas eleitorais ilusionistas e, preservando o contraditório, teria autoridade legítima para corrigir e até tirar do ar as peças enganosas.

E, além disso: a exemplo do Conar publicitário, ele também se firmaria como um defensor dos consumidores. No caso, consumidores de esperanças eleitorais. Nada menos do que 142 milhões de votantes são até hoje órfãos de um organismo suprapartidário estruturado para apoiá-los no questionamento de candidatos que, gostosamente empossados, renegam, como maus produtos, os compromissos veiculados nos rótulos autoelogiosos criados por eles mesmos em suas embalagens pessoais.

Se esse “Conar Político” já tivesse decolado antes da última eleição, seu voo rasante teria provocado os mais pedagógicos efeitos anti-Pinocchio contra os que usam a lorota como estratégia de persuasão. Nenhuma campanha teria escapado. Ops. Errei. Só umazinha, teria mantido o nariz curto: do Tiririca. O único que nada prometeu e cumpriu, nada fazendo. Ainda com um slogan antigo mandou bala dizendo sua verdade pessoal numa divertida rima: “Vote no Tiririca, pior que tá não fica”. Acertou na frase, mas errou na profecia. Ficou pior, sim, prezado Tiririca.

Alex Periscinoto é publicitário e sócio da SPGA