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Quando cai a arrecadação do governo, ele nunca admite que algo de errado pode estar ocorrendo na condução da própria economia. Para o governo, é claro, o empresariado está ampliando as formas de driblar o Fisco e cabe, então, apertar ainda mais o cerco sobre essa classe já tão sofrida.

Por esses dias, vi uma entrevista do subsecretário de fiscalização da Receita Federal. Ele falava que os auditores da casa reduziram o ritmo de fiscalização por estarem desmotivados, que, segundo ele, “se perdeu a motivação da busca por dinheiro, da busca da prova”.

Em seguida ele diz o que é a pérola cultural que infelizmente vigora em nosso país: só se consegue melhorar a arrecadação, diz o subsecretário, “quando temos um auditor com brilho nos olhos… com a faca entre os dentes”.

Ora, que pensamento mais imediato para explicar o que para mim é óbvio. Caiu a arrecadação do Brasil porque a atividade econômica caiu. Se fechamos com PIB negativo de quase 4% o ano passado, se estamos reduzindo o ritmo ainda mais este ano, é natural que isso ocorra.

Sem contar que muitos empresários, até por sobrevivência, preferem não pagar impostos que fechar as portas e não pagar suas contas.

Enquanto prevalecer esse tipo de pensamento, seguiremos nesse país atrasados em todos os aspectos que vivemos. Será que passou pela cabeça do governo mudar essa cultura, através da revisão dos currículos das escolas de formação dos auditores?
Será que eles sabem que os empresários vivem sobressaltados, vivem com medo, que olham para um fiscal como se ele fosse determinar sua prisão ainda que tudo esteja correto?

Essa é a cultura que se abateu sobre todos. Olhamos assim o fiscal, o policial, o marronzinho.

Para nós, invariavelmente, vai aqui uma verdade: eles não estão nas suas funções para orientar, para educar e determinar o caminho correto. Eles não estão para ser amigos.
Estão para apertar, para tratar de forma mal-educada, alguns inclusive para atuar de forma até suspeita.

Gostaria que nossas autoridades usassem do mesmo empenho – por exemplo, botassem a faca entre os dentes – para buscar uma reforma fiscal que reduzisse o peso da máquina pública, que colocassem um brilho nos olhos também para fazer uma reforma tributária com o pensamento mundial, de consenso, que, quando se paga menos, todos pagam e a arrecadação melhora. Que fizessem um conjunto de medidas para reduzir encargos trabalhistas e permitir maior contratação.

É para isso que elegemos os governantes, é isso que esperam os empresários. É para isso que as autoridades deveriam estar motivadas.

Roberto Duailibi é publicitário e sócio-fundador da DPZ