Quando chega um roteiro ou um briefing na LOUD temos basicamente duas frases que passam pela nossa cabeça:
Op1: “Caraca! Puta ideia! Quero muito que isso fique foda”
Op2: “Mano. Que roubada. Bom… vamo lá: precisamos pagar o uisquinho das ‘criança’…”
Quando chegou o roteiro do filme “A Queda”, para Hospital de Amor, rolou uma terceira reação:
Eu chorei.
Eu chorei lendo o roteiro.
Sério!
Sou pai de uma menina, e foi inevitável não me identificar.
Além disso a personagem se chama Nina. Mesmo nome da minha filha.
Mas não precisa ser pai pra se emocionar. Ideia boa faz isso: mexe com todo mundo.
Mas enfim… chorei lendo um roteiro na tela do computador.
Lembro de pensar: “bicho, é só não cagar na realização, que a gente vai ter uma coisa incrível”.
E aí a frase Op1 entrou: “Caraca! Puta ideia! Quero muito que isso fique foda”
O que se sucedeu foi uma série de eventos felizes, de coincidências tocantes, e muito, mas muito trabalho.
Prazo longo abre a possibilidade de muita “rodação” de lâmpada – o terror de qualquer job.
Mas também abre a possibilidade de aprimorar, de experimentar, de pensar, criar e dormir com a ideia. Se envolver mais e mais e mais.
E quando você encontra essa ressonância em todos os envolvidos no projeto a coisa se multiplica exponencialmente.
Lembro de sair contagiado de uma reunião com o Paulinho, da Zombie, com aquela certeza de estar fazendo o melhor que a gente podia. Sem medir esforços, e muito felizes nessa realização.
Lembro das reações de Paulinho, Eiji, Conde e toda equipe ao ouvirem a primeira demo da nossa canção. Aquela mesma certeza que eu tinha de estar fazendo o nosso melhor estava lá, escancarada naquela canção, na voz da cantora, no arranjo, tudo lá só pra contar a história daquela garotinha.
E no final é isso: fazemos música e som pra contar histórias.
Não adianta nada uma música incrível sem uma história incrível.
Não adianta um sound design espetacular sem uma imagem espetacular.
Enfim… na narrativa audiovisual nada existe isoladamente.
Parece óbvio, mas não é.
Numa era que exalta especificidades, onde temos literalmente centenas de sub-gêneros no Netflix. De funções cada vez mais focadas, beirando a alienação. De categorias e mais categorias em Cannes, não custa lembrar disso: ninguém faz nada sozinho, e a criação coletiva só sobrevive com a contribuição de todos os envolvidos.
E envolvidos devemos estar comprometidos com a história, com o projeto, narrativa, campanha, o que seja.
Trouxemos um Leão de Prata, resultado muito influenciado pela música e som da peça, mas com certeza essa música não ganharia prêmio nenhum sem o contexto.
Sem os milhões e milhões de compartilhamentos totalmente orgânicos.
Sem rodar o mundo, virando notícia na Europa, Oriente Médio e EUA.
E sem, talvez a maior prova de “viralização”, chegar pra gente nos grupos de WhatsApp da família e amigos, que nada tem a ver com o mundo da publicidade.
Não é todo dia que temos um roteiro genial, que vira um storyboard genial, se transforma num filme inacreditável e toma o mundo.
Mas todo dia a gente pode buscar esse compromisso. Esse amor.
Felipe Vassão, sócio e produtor musical da LOUD