Alê Oliveira

A matéria publicada no propmark, edição de 5 de outubro, nos dá uma ideia de como seria a vida do consumidor se ele tivesse de pagar pelos fantásticos custos de se fazer um meio de comunicação de qualidade, apenas com o conteúdo editorial, sem publicidade.

A matéria nos leva também a discernir sobre valores que até agora o consumidor comum não teve a menor curiosidade de avaliar. E por falar em consumidor comum, vale lembrar que também existem os consumidores supercomuns, aqueles que não pensam e nem têm a menor ideia de como foi possível colocar uma imagem de TV ou texto de jornal ou revista face a face com ele no aconchego de seu lar.

Comparativamente, é mais ou menos como abordar um religioso, daqueles que acreditam cegamente nas promessas do dirigente que lhes garante que já tem um lugar separado no céu exclusivamente para os que pagam um dízimo cada vez mais alto, que fica na contemplação de anjos e querubins tocando harpas e saboreando manjares celestiais, mesmo que à custa do sacrifício da própria família. A mulher quer dinheiro para comprar o leite das crianças, mas o pai entende que o dízimo é mais importante do que tudo.

Acreditar que é possível fazer um meio de comunicação sem contar com a participação de publicidade é mais ou menos a mesma coisa, miopia no mais alto grau.

Penso que seria mais importante estimular o uso de bloqueadores do mau gosto e da violência que grassa nos nossos meios de comunicação. Tem dois programas na televisão em São Paulo, daqueles que ‘se espremer sai sangue’, nos quais seus apresentadores pleiteiam a pena de morte o tempo todo, quando todos sabemos que a maior parte da violência é fruto da falta de educação. Poderíamos, bloqueando o que não presta na mídia, dar um passo importante para ajudar até o mais comum dos consumidores a refletir sobre sua vida, que é movida a livre arbítrio, liberdade de pensamento e, como bem ensinou Jean Paul Sartre, cada um é responsável por suas escolhas: “a vida é um permanente exercício de equilíbrio entre escolha e consequência…”

Voltando ao mundo sem publicidade, poderíamos fazer uma brincadeira na comparação do mundo que temos com aquele imaginado por alguns, felizmente poucos, que têm intolerância à publicidade. Quem sabe assim, eles entenderiam melhor o mundo em que vivemos.

Um mundo sem publicidade seria como um mundo sem as mulheres ou um mundo em que as mulheres perdessem o encantamento.

Seria como o futebol sem Pelé e Garrincha. Seria como o Brasil sem o Rio de Janeiro e a Bahia. Enfim, seria como se os nossos meios de comunicação perdessem a cor, completamente.

Seria um horror.

Por isso, proponho trocarmos o tal “ad block” por “bad taste blok”.

*VP executivo da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda)