Esses dias me deparei com uma matéria da Techcrunch, sobre a decisão do Facebook de retomar o teste sobre ocultar os “likes” em Instagram. Notícia que, sem dúvida, gera uma discussão entre a comunidade de influenciadores e criadores de conteúdo, que trabalham com “likes” como uma moeda de troca.

É interessante analisar um pouco mais a razão para esse tipo de teste. Para o Instagram, o projeto nasceu como uma forma de ajudar a comunidade a reduzir os níveis de ansiedade e pressão em torno do compartilhamento de conteúdo. Em alguns casos, levando usuários a apagar seus próprios posts porque eles não atingiram um número mínimo de “likes”, não foram populares o suficiente. Diante do desconforto gerado por um conteúdo “flopado”, muitos usuários acabam apagando e subindo novamente um mesmo conteúdo. Prática muito comum inclusive no TikTok.

Não é a primeira vez que este tipo de questionamento é levantado. No episódio “Queda livre” da  quinta temporada da série Black Mirror, produzida pela Netflix, por exemplo, é exatamente esse o tema explorado. A força da popularidade no meio digital, não só como moeda de troca, mas como símbolo de status social e poder. No episódio, a personagem, desesperada por ser notada nas redes sociais, faz de tudo para melhorar a sua influência, mudando seu comportamento e chegando ao limite da loucura. É claro que o seriado leva a questão ao extremo. No entanto, provoca na audiência um questionamento plausível, porque muitos de nós, em algum momento, passamos pela situação de sentir vergonha por ter algum post ignorado (dentro dos standards de cada um).

O dilema da popularidade e a busca pela aceitação nos grupos sociais não é novidade. É praticamente parte da nossa história a busca por reconhecimento, por deixar a nossa marca no mundo e conseguir influenciar ou tocar, de alguma forma, o maior número possível de pessoas. Como seres humanos buscamos encaixar, ser parte, mas também influenciar a vida dos outros. Almejamos seguidores. Levado ao extremo, essa busca torna-se um impulso descontrolado, que exerce pressão no individuo ao ponto de influenciar o que compartilha com o objetivo de aumentar o número de seguidores.

Não falo aqui dos criadores de conteúdo. Eles vivem disso. Mas sim dos cidadãos que, numa avalanche de ansiedade, acabam privando-se de compartilhar esse ou aquele conteúdo por medo de flopar. O medo da rejeição. Daí que muitas pessoas acabam compartilhando coisas inventadas, que não são reais, para conseguir a tal popularidade.

Há outro exemplo muito interessante. Neste caso, no universo gamer. O videogame Death Stranding, um mundo pós apocalíptico onde o objetivo do jogador é reconectar cidades isoladas e uma sociedade fragmentada. No jogo, um grupo ou comunidade chamada de “Mulas”, é formado basicamente por pessoas que viraram adictos em likes recebidos por fazerem encomendas para determinadas pessoas ou organizações. Mais uma reflexão sobre a influência dos likes na sociedade.

É aqui que reside a questão: quando o like vira o motivo do compartilhamento no lugar da própria experiência. Ao ponto, de muitas experiências serem só simulações, atuações, uma cena para os seguidores. A famosa foto de Instagram, onde no centro o enquadramento é perfeito, mas ao redor nos encontramos em um cenário totalmente diferente, a chamada realidade.

A decisão do Facebook, de retornar aos testes no Instagram, é, pelo menos, curiosa. Será interessante acompanhar os resultados que irão disponibilizar com o tempo. Será que ajudará a “libertar”, de alguma forma, a comunidade online dessa busca incessante pelos likes? É difícil saber. De uma forma ou outra, sempre teremos uma maneira de mensurar a influência. Afinal, vivemos em uma sociedade capitalista. No entanto, a ideia de tirar a visibilidade de likes para quem está navegando pela timeline e estimular as pessoas ao consumo e compartilhamento de conteúdo, colocando o foco na própria experiência e na construção de relações mais verdadeiras, é bem-vinda.

Provavelmente o like não vai morrer, deve mudar de nome ou de forma. A moeda de troca pode se transformar, mas os algoritmos ainda terão suas artimanhas para identificar conteúdo relevante, assim como contas de maior e menor influência.

Lucas Baranzelli é CSO da MRM Brasil