Uma parceria entre o roteirista Anthony Zuiker, criador da série “CSI”, o Yahoo! e a Norton (Symantec) resultou no filme “Cybergeddon”, criado exclusivamente para a internet e dividido em nove episódios. Trata-se do primeiro grande projeto de Zuiker para a internet, formato em que ele se diz disposto a investir daqui para a frente. Zuiker esteve no Brasil na semana passada para o 1o Programa Globosat de Desenvolvimento de Roteiristas, e ministrou uma “masterclass” no último domingo para um grupo de roteiristas, diretores, atores e outros profissionais do meio televisivo.
A série “CSI” esteve no ar durante 12 anos e tornou-se uma franquia: da versão original filmada em Las Vegas (Nevada), ganhou uma versão em Miami e outra em Nova York, todas de grande sucesso. Zuiker hoje dedica-se a outros projetos mas interessa-se especialmente por branded content: a união perfeita entre marcas e conteúdo original. “Se uma marca tem um milhão de dólares para investir, pode comprar um break comercial em uma emissora e ser visto uma vez, ou investir em um projeto de conteúdo que lhe renda visibilidade global por muitos anos. A internet permite o desenvolvimento de mais projetos desse tipo e quero dominar esse meio. É uma nova indústria: marcas pagando para produzir filmes e vários tipos de conteúdo. Este é o futuro”, disse Zuiker.
Para ele, o Brasil vive um momento privilegiado: a lei 12.485, que obriga os canais de TV por assinatura a exibirem maior volume de conteúdo nacional, abre a possibilidade de criação de uma indústria de audiovisual nacional, com a produção de séries de ficção brasileiras. De fato, o momento é de fomento da indústria, com iniciativas como a da Globosat, que recentemente trouxe vários profissionais de Hollywood – como ele – para treinar um grupo de roteiristas, autores de 12 projetos de séries de ficção – que passarão por um processo de pitching no próximo dia 26, na própria Globosat. “Escrever é reescrever. Se você não está preparado para mexerem no seu material, deve fazer outra coisa. Não está preparado para trabalhar nesse negócio”, disse Zuiker.
Segundo ele, o único processo necessário para a criação de grandes projetos de ficção de sucesso é o trabalho colaborativo. “Ninguém tem condições de criar algo muito bom sozinho. É preciso ter humildade para trabalhar com outros escritores. Tive no ‘CSI’ mais de 1.200 colaboradores nas três franquias. Todo mundo ao seu redor pode melhorar o que você faz. Este movimento de Storytelling que acontecerá no Brasil só dará certo se houver esta mentalidade”, disse Zuiker.
O roteirista e produtor acredita firmemente que o trabalho colaborativo é o que dá certo, e aconselha que jovens roteiristas não temam ter suas ideias roubadas, mas no lugar disso dividam suas ideias, tenham coragem de encontrar pessoas para ajudar a colocá-las em prática. Ele diz que “CSI” deu certo porque cada episódio sobrevivia sozinho. Embora todos tivessem sempre a mesma estrutura – início, meio, conclusão – não precisavam funcionar em sequência. Qualquer pessoa poderia acompanhar um, ou acompanhar a série toda. “É diferente da novela, por exemplo, que precisa ser acompanhada durante um determinado número de meses – o que, por sinal, é um formato que tem um enorme mérito, tornou-se incrivelmente rentável e faz parte da cultura brasileira. Certamente novelas serão reinventadas também no futuro, assim como todo o resto que tem que ser repensado na medida que os próprios roteiristas estão se reinventando de acordo com as muitas mudanças que ocorrem no modo como as pessoas estão assistindo conteúdo atualmente”, destacou.
Zuiker poderia ser chamado de romântico não fosse ele o autor de uma série de imenso sucesso e capaz de transformar em ouro a maioria dos projetos em que se envolve. Algo que repete com frequência é que um roteiro pode transformar o mundo. Ele crê ter feito isso com “CSI”. “A série mudou a maneira como se lida com crimes nos Estados Unidos. Abriram-se novas frentes de pesquisa de crimes, graças a ‘CSI’. Acredito até que a maneira como os crimes são cometidos se transformou”, afirmou o escritor, que confessa ter se inspirado em filmes como Three Kings e Seven para criar sua série. “Estamos o tempo todo nos inspirando em algum projeto, e isso é normal e saudável”, garante.
Ele também aconselha roteiristas a não competirem constantemente pelas melhores ideias. “Não é preciso ser o autor das melhores ideias. Sempre que trabalho em um projeto, gosto de valorizar meu time e dar a eles a sensação de poder. Isso estimula as pessoas ao meu redor. Sempre dou um jeito dos roteiristas ao meu redor terem as melhores ideias. Mesmo que elas sejam minhas”, conclui.