No último dia 30, um júri se reuniu para julgar trabalhos de jovens estudantes universitários de publicidade e propaganda.

Foi mais uma edição do Fenapró Universitário, concurso aberto a estudantes de todo o Brasil. Onze estados estiveram representados, enviando para avaliação final o melhor trabalho da sua região.

Foi mais uma rara oportunidade de checar a performance de escolas dedicadas a formar os futuros talentos da nossa atividade. Estamos vivendo um tempo de entusiasmo contido de estudantes pela propaganda.

Umas duas décadas atrás a formação em publicidade e propaganda rivalizava com medicina, tendo muitos pretendentes nos vestibulares.

Com o advento da internet, o entusiasmo migrou parcialmente para o mundo dourado da tecnologia. É atraente demais a perspectiva de criar uma startup nascida numa garagem e gerar mais um unicórnio (empresas que valem mais de um bilhão).

Mesmo sabendo que serão poucos, muito poucos, os que conseguirão ao menos viabilizar o nascimento de uma startup, o jovem sonha em se tornar um novo Mark Zuckerberg.

OK, todo o ímpeto empreendedor é válido, mas por que será que a propaganda está menos sexy? Bem, ficar milionário na propaganda é para poucos, assim como em qualquer outra profissão ou empreendimento.

A propaganda tem seu lado lúdico e criativo, mas tem também muita ralação. Aquela imagem do profissional descolado, que fica com os pés em cima da mesa, esperando pintar uma ideia genial, que o leve a ganhar um cobiçado Leão, deu lugar a uma menos charmosa, de um trabalho exaustivo, de noites viradas e pizzas frias.

De fato, a fase Mad Men da propaganda passou. Embora a big idea ainda seja supervalorizada, o dia a dia das agências está repleto de jobs banais, às vezes exigindo mais familiaridade com números do que com a criatividade.
Os tais 90% de transpiração estão ainda mais presentes, reduzindo o tesão dos 10% de inspiração. Mas a cada oportunidade que temos de trabalhar com os jovens uma visão mais inspiradora e o brilho nos olhos aparecem, e com ele a renovação do interesse pela nossa profissão.

Eu tenho tido a sorte de viajar pelo Brasil apresentando os cases mais premiados em Cannes depois do festival. É o Cannes Lions Road Show, realizado pela Fenapro, em parceria com o Estadão, representante do festival no Brasil, sob organização de Sinapros de diversos estados.

Este ano foram 14 apresentações por 11 cidades, do norte ao sul. Participam dessas apresentações publicitários formados, mas também muitos estudantes.

Não é incomum a gente ouvir de um estudante algo como “Eu estava meio desmotivado com o curso, mas essa apresentação me encheu de ânimo outra vez”.

É a reação de quem é submetido a uma bateria de ideias geniais, capazes de mudar uma marca ou mesmo salvar vidas.

Depende de nós, que atuamos no mercado há mais tempo, criar esses momentos de brilho dos olhos. Não podemos desperdiçar nenhuma oportunidade de motivar esses estudantes.

Afinal, serão eles que formarão uma nova geração de talentos. Talentos que já são nativos digitais, mas que se motivam com sacadas criativas geniais, daquelas que todos comentam no dia seguinte.

É uma geração que já estará familiarizada com os princípios do martech (marketing & tecnologia), com a inteligência artificial, a tal da big data e, enfim, com a onipresença do universo digital nas nossas vidas, mas que entenderá a importância da criatividade no sentido de atrair a atenção de pessoas cada vez mais dispersivas e engajá-las a causas de marcas e instituições.

É isso que esperamos: uma nova geração que não deixe o brilho da nossa profissão arrefecer. Uma geração que saiba interpretar muito bem a frase que li no Cannes Lions deste ano: “Follow the numbers but don’t forget the poetry”.

Alexis Thuller Pagliarini é superintendente da Fenapro (Federação Nacional das Agências de Propaganda) (alexis@fenapro.org.br)