A Ambev, mais precisamente a marca Bohemia, anunciou nesta quarta-feira (11) uma união com a cervejaria mineira Wäls, produtora de cervejas especiais. As empresas forneceram poucas informações sobre as estratégias que serão adotadas e negaram se tratar de fusão ou compra. Afirmaram apenas que a maior cervejaria do país e uma produtora local estão prestes a unir o portfólio de Bohemia e Wäls na base de troca de conhecimentos. A Wäls entra com o know how na elaboração de cervejas especiais e a Bohemia, que já foi considerada uma das principais cervejas do segmento premium no Brasil, emprestará a força comercial da Ambev para expandir as operações da marca mineira ao restante do país.
Em comunicado, o vice-presidente de marketing da Ambev, Pedro Earp, revelou que o objetivo do negócio é mesmo impulsionar a atuação da companhia no nicho de cervejas especiais. “Agora vamos potencializar as cervejas especiais e fazer o que for melhor e fizer sentido para o consumidor. Estamos falando de sinergia, o que implica na evolução das cervejas especiais com troca de informações, acesso a novas tecnologias e investimentos que potencializarão inovações, produção e distribuição”.
Segundo Adalberto Viviani, presidente da Concept, consultoria especializada no mercado de bebidas e alimentação, o fato traz reflexões importantes para o mercado. “O segmento de cervejas especiais vai continuar crescendo nos próximos anos. Isso é fruto de um fenômeno relacionado a renda e exclusividade. Com as marcas de maior volume sendo cada vez mais acessíveis para amplas camadas de consumo, as classes A e B querem diferenciação”.
O especialista chama atenção principalmente para o modelo de negócio que será implantando, independentemente de ser aquisição, fusão ou associação. “Isso ninguém sabe exatamente. Se a Ambev comprou alguma parte da Wäls,ninguém saberá tão cedo”, diz Viviani. Para ele, o fato a ser observado é a decisão de manter os irmãos Tiago e José Felipe Carneiro, fundadores da Wäls, a frente da gestão junto com o diretor da Bohemia, Daniel Wakswaser.
“A AmBev é a maior fabricante do Brasil e do mundo e este movimento tem peculiaridades que dificilmente uma grande empresa consegue acompanhar. Desde a possibilidade de ousar, lançar produtos diferenciados para nichos específicos em embalagens exclusivas até a tática de trabalhar restringindo volumes em algumas edições. Isso em uma cervejaria que vive de venda de hectolitros é impensável”, diz o consultor.
De acordo com Viviani, ter os fundadores da Wäls na liderança do negócio é uma escolha acertada. “É o lance mais inteligente da operação. A AmBev paga para aprender um modelo de negócios não como líder de mercado, mas com a certeza de que é preciso entender e respeitar um processo diferente”.
Outro conhecimento que a Ambev vai ganhar com o acordo é em relação a estratégias mais eficientes na hora de promover as marcas especiais. “As grandes empresas do setor, por mais que se diferenciem, disputam praticamente no mesmo campo: publicidade, patrocínios e ações em pontos de venda. As especiais conseguem ter boa imagem reverberando pela indicação dos consumidores e recomendação de bares e restaurantes”, pondera o consultor.
Este não foi o primeiro movimento envolvendo uma grande e uma micro cervejaria. Em 2007, o então Grupo Schincariol (atual Brasil Kirin) adquiriu a Baden Baden, de Campos do Jordão. No ano seguinte, voltou a investir e comprou a Cervejaria Eisenbahn, de Blumenau (Santa Catarina). Por fim, em 2010, adquiriu a carioca Devassa. Esta última marca deu origem inclusive a produtos que fogem do mercado premium, caso da versão Devassa Bem Loura.