“Existem muitas técnicas para fazermos um bom trabalho usando os princípios e técnicas de user experience (UX). UX é algo que nos rodeia todo tempo e, se for bem feita, é imperceptível. É como você ter a sensação de que algo está ruim, mas não sabe explicar bem o que é. Isso é a tal falta de UX nos projetos. E, no digital, é como respirar.
Assim como um designer não é designer só as oito horas do dia de trabalho, ele é designer todo tempo, precisamos olhar UX como algo holístico. A UX deve ser aplicada caso a caso, a cada projeto, a cada cliente buscando um bom resultado na prática, determinando desafios, tornando mais agradável, rápida e fácil a vida das pessoas.
Uma agência nativa digital deve puxar o protagonismo de falar e buscar a verdade. Resolver problemas reais aplicando UX no seu dia a dia. No mercado de publicidade atual, a mídia de impacto ainda é importante para as marcas, mas não se sustenta. O cliente (ou usuário da sua marca) vai querer estabelecer uma conversa com o que consumiu. Nisso a interação será fundamental e, neste contexto, UX é mandatório. A UX, em uma indústria em crise, vai ser cada vez mais demandada e entendida como um diferencial para unir pessoas e marcas pós-impacto.
Veja o exemplo da Netflix, que já chegou no mainstream, refez sua estratégia, produz seu próprio conteúdo e redesenhou toda sua presença nos diversos pontos de contato. E é incrível como é similar e, ao mesmo tempo, única em cada um deles, ou seja, redesenhou tudo e surpreendeu.
Jonathan Ive, da Apple, disse ano passado: ‘É muito fácil fazer algo que é completamente novo. Mas nós estamos tentando fazer coisas que são melhores’. Ano após ano, eles melhoram seus próprios produtos (na maioria das vezes conseguem), que têm muito de UX aplicada com engenharia. Ou seja, não é só aplicar UX uma vez, é ser constante na evolução do que fazemos.
Eu fui a Cannes este ano com a visão de um designer curioso para sentir a experiência de perto e entender como um festival de criatividade funciona, avaliando experiências e não só campanhas ou peças.
Vi modelos de agências que se reinventaram. Inventaram produtos que unem o digital a desafios do nosso cotidiano, usando muito de UX no desenvolvimento e propaganda para divulgar tudo isso. Um bom exemplo de como faturar prêmios.
As empresas e agências que quiserem se diferenciar nos próximos anos vão ter de olhar para os problemas de verdade dos clientes e unir isso à tecnologia e aos serviços úteis. Amir Kassaei, olha para cá, nem tudo tá perdido!
Estamos falando do Vale do Silício, não dá para comparar, mas nos pequenos projetos e soluções que damos aos nossos clientes diariamente na Terra Brasilis, devemos pensar nos desafios com a cabeça de um designer. E eles não precisam ser grandes.
Resolver pequenos problemas, um de cada vez, por exemplo, refazendo um simples formulário de checkout ou reduzindo cliques em uma operação bancária.
Pense nisso no seu próximo briefing: como solucionar um problema real neste nosso mundo real cheio deles, no contexto das marcas que você já trabalha? Quem sabe assim você será premiado em Cannes com uma solução de verdade, sem ser essencialmente filantrópico.”
*Diretor de criação executivo da AG2 Nurun