Tanto minha esposa quanto eu crescemos nos anos 1980. Fomos, em parte, “criados” pela TV. Passamos manhãs inteiras vendo programas infantis apresentados por loiras de shortinhos curtos ou palhaços. Ao assistir ao excelente Bingo – O Rei das Manhãs, de Daniel Rezende, entrei numa máquina do tempo e fui jogado de volta a esta década mágica e cheia de exageros – o que eram aquelas ombreiras, permanentes e cores?!
Mas o filme também me colocou para pensar, principalmente na relação entre pai e filho, tão importante no longa, quanto no que deixamos nossas crianças verem.
Quando meu filho mais velho tinha uns 3 ou 4 anos, percebi que a TV não estava sendo legal para ele. Não pelos desenhos, que até podiam ser inofensivos, mas pelos intervalos. A cada break, ele era inundado de informações sobre os novos brinquedos que estavam chegando às lojas. De massinhas de modelar, que até são bem educativas, aos bonequinhos, carrinhos, etc.
Não era algo tão incisivo quanto a tesourinha do Mickey (lembra do “eu te-nho, você não te-em”?), mas era o suficiente para pilhar uma criança a pedir este ou aquele brinquedo. No começo, como pai geek, achava legal e até comprava uma coisinha pequena aqui ou outra ali. Achava legal quando ele acertava quem era o Darth Vader, cantarolava a Marcha Imperial ou pendurava o Batman e o colocava para subir paredes com o Homem-Aranha.
Mas me lembro muito claramente de uma coisa da minha infância: não ganhava presentes se não fosse meu aniversário, Dia das Crianças (até uns 11 anos no máximo) ou Natal. E o “problema” é que hoje acabo ganhando muita coisa (sem ser meu aniversário, Dia das Crianças ou Natal) e alguns destes presentes acabam indo para casa, e ficam nas mãos dos meus filhos. E recentemente percebi que isso não é tão legal quanto parece.
Primeiro porque não há uma valorização. Eu cuidava de meus brinquedos como tesouros. Sabia onde eles estavam e chegava a sofrer a cada arranhão. Não por acaso, alguns dos meus carrinhos e Playmobil estão lá em casa hoje, no armário de brinquedos dos meus filhos. Mas vira e mexe acho pedaços de brinquedos jogados embaixo de uma almofada ou em uma caixa que não tem nada a ver. É um exemplo claro do excesso de oferta.
Outro problema é o incentivo exagerado ao consumismo. Confesso que sou consumista e não me orgulho muito disso. Tenho em casa HQs duplicadas, caixas de bonecos lacradas (como resistir a um Homem-Aranha Samurai?) e uma pilha de DVDs e Blu-rays que só vou conseguir colocar em dia quando não existir mais tocadores de DVDs e Blu-rays para assisti-los.
Por que somos assim?
Não sei a resposta. Mas uma coisa eu sei: não quero que meus filhos sejam assim também e estou tentando mudar.
Marcelo Forlani é Diretor de Marketing e sócio-fundador do Omelete Group