1. Das melhores coisas que a Copa do Mundo trouxe para o país, além dos aeroportos, novos estádios (apesar das faturas) e a incomparável alegria do nosso povo, de causar inveja (saudável) nos turistas estrangeiros, uma delas foi a possibilidade de flexibilizar para sempre o programa radiofônico “Voz do Brasil”.
Foi feita a experiência durante a Copa devido às transmissões dos jogos e, agora, o Congresso Nacional, através de uma das suas Comissões Técnicas, elabora medida provisória autorizando as emissoras de rádio a transmitir o programa entre 19h e 22h.
O texto irá a plenário da Câmara dos Deputados e do Senado, com prazo até outubro para votar a proposta.
Vamos torcer para que esse entulho da ditadura de Vargas sofra essa variação de horário de forma definitiva. Continuará sendo um estorvo, porém menor do que tem sido até aqui, principalmente nas grandes cidades brasileiras, quando no horário atual o cidadão preso no trânsito, por exemplo, fica impossibilitado de receber preciosas informações sobre o tráfego.
A medida, se aprovada, devolverá ainda às emissoras importante horário nobre para a sua comercialização, contribuindo para o aperfeiçoamento da sua programação em decorrência da maior possibilidade de aumento das suas receitas publicitárias.
Apesar da boa notícia, fica no ar a pergunta: a quem interessa a “Voz do Brasil”?
2. O operoso prefeito de São Paulo, sempre muito preocupado com nossas ruas, avenidas e praças públicas, tendo em vistas as dificuldades da mobilidade urbana, deveria fazer um teste: procurar determinadas artérias e respectivos imóveis, orientando-se apenas pelas placas delas e a numeração destes últimos.
Vai ficar pasmo ao perceber o grau de abandono desse tipo de sinalização tão necessária tanto a pedestres como a motoristas. É possível que a sua assessoria imagine que todos têm GPS e, portanto, o problema é passado.
A realidade, porém, não é essa para a maioria das pessoas que necessitam se locomover na metrópole. A gestão de Gilberto Kassab, com a sua legislação Cidade Limpa, acabou por eliminar os totens publicitários que continham em cada esquina os nomes das artérias confluentes.
Quando eles foram instalados, as placas anteriores acabaram destruídas por vandalismo ou pela ação do tempo.
Faça um teste você mesmo, leitor. Escolha uma rua que você desconhece e tente achá-la por aproximação. Faça o mesmo com relação aos números dos imóveis. Uma grande parte deles, em São Paulo, ou não possui essa informação ou ela se encontra de tal forma escondida que nem precisaria existir.
3. Com o término da Copa e as atividades econômicas voltando ao seu ritmo normal, respeitadas as limitações das dificuldades já existentes antes do evento da Fifa (inflação, taxa Selic estacionada no patamar dos 11%, ameaça latente do aumento das tarifas públicas etc.), a comunicação do marketing volta a fazer parte da pauta dos anunciantes que não participaram ativamente do torneio mundial de futebol.
Já se percebe uma recuperação do setor, ainda lenta, mas acima do que ocorreu nas últimas cinco semanas, quando só se falava na Copa do Mundo com as atenções do público voltadas maciçamente para ela.
Para alguns especialistas, há um novo obstáculo logo mais, que são as eleições. A história recente registra que os investimentos publicitários diminuem, até porque os famigerados horários eleitorais gratuitos nos meios eletrônicos restringem o uso dos mesmos.
De qualquer forma, há um sentimento quase geral de que o ano fechará melhor que o anterior, o que já representa um avanço contra o famoso stop and go que tem permeado os últimos períodos da atividade.
4. Alguém precisa dizer aos empresários dos restaurantes que a Copa já acabou e não há mais tanto turista no país como eles imaginam.
Isto porque aumentaram seus preços antes da Copa e esqueceram de voltar à normalidade das tabelas findo o evento mundial.
Refeições em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, fora de casa, estão ficando insuportáveis para quem até há pouco podia se dar, digamos, a esse lazer.
5. A baixaria em algumas emissoras de TV (abertas e fechadas) tem alcançado níveis grotescos. Já tivemos essa onda em um passado recente, por mais de uma vez. Não faz muito, a apelação deu uma acalmada, mas agora – recuperando forças – voltou com ânimo redobrado.
O pior dessa história é o mau gosto da baixaria. Algo de arrepiar até os menos exigentes. Se o leitor sair da sua rotina e der uma volta de A a Z na sua tevê, verá que não estamos exagerando.
6. A máfia dos ingressos se deu bem durante a Copa, embora meia dúzia dos seus integrantes ficou de acertar contas com a Justiça.
Mas, são tão poucos para tanta exploração, que pouco será mudado nesse aspecto quando a Copa se repetir na Rússia. Aliás, segundo dizem, após a derrubada do muro e o fim da URSS, a Rússia transformou-se em um paraíso para esse tipo de empreendedorismo.
Trata-se, porém, de um fato mundial, que sempre acompanha a Copa, onde quer que ela se realize, devido ao grande interesse que desperta no público.
Lembramos que em 1998 o propmark abraçou uma promoção na França – aproveitando o Cannes Lions e a simultaneidade da Copa do Mundo – convidando os delegados brasileiros a verem no estádio em Marselha o jogo Brasil x Noruega.
Informamos ao nosso público viajante, desde antes da partida, aqui no Brasil, que todos veriam o jogo ao vivo, pois os ingressos já haviam sido reservados e pagos. A delegação brasileira era formada por cerca de 300 pessoas, número bem inferior aos de agora.
Saímos do Brasil com metade dos ingressos nas mãos e a outra metade nos seria entregue já no país-sede.
Pois bem: os responsáveis passaram a culpar terceiros por não poderem nos entregar os ingressos restantes conforme o combinado. E pago.
Foi com muita dificuldade e passando por muitos escroques do setor, em diversas cidades francesas – inclusive Paris – que obtivemos mais da metade da metade faltante. Não conseguimos chegar aos 300 comprados e pagos no Brasil. Só nos restou – e há muita gente que ainda se lembra disso – sortear os disponíveis e fechar um lounge em um hotel de Marselha, com telão para os não sorteados verem o jogo.
A sorte destes – segundo suas próprias confissões no final do jogo – foi o Brasil ter perdido para a Noruega…
Este editorial foi publicado na edição impressa de Nº 2507 do jornal propmark, com data de capa desta segunda-feira, 21 de julho de 2014