A proposta da Narita Design & Strategy é executar um trabalho que estabeleça “conexão legítima com os consumidores”. Num mercado bombardeado por informação e publicidade, a agência fundada há 17 anos pelo designer Mário Narita, profissional com quase 40 anos de experiência no ramo, é referência na concepção de estratégias de marca, design gráfico e estrutural (embalagens), além de identidade visual para companhias como Ambev, PepsiCo, Kimberly-Clark, Unilever, Mondelez, Sanofi Aventis, BIC, Seara, Cargill, entre outras no Brasil e fora dele, com projetos para os Estados Unidos, China, Emirados Árabes, Colômbia, Costa Rica, Peru, Equador e Venezuela.

Com metodologia própria que tem o ser humano como centro de desenvolvimento de projetos, por meio de estudos de hábitos, análise de tendências, ambiente competitivo e de consumo, o objetivo é alçar um design que gere frutos e fortaleça marcas. Para isso conta com uma equipe sênior de mais de 40 profissionais, que a cada projeto tem especialistas integrados ao time. Narita, CEO da Narita Design & Strategy, conta nas próximas páginas como a metodologia desenvolvida pela agência, chamada de Processo Límbico tem se mostrado eficiente, utilizada como uma ferramenta que garante assertividade nos projetos de estratégia e design, desde 2013 em mais de 40 projetos. O foco é investigar o comportamento por trás do processo de compra.

 

Como as imagens podem revelar a verdade por trás do discurso do consumidor?

As imagens têm o poder de atingir as nossas emoções 60 mil vezes mais rápido que um texto ou um pensamento racional. Por exemplo, quando imaginamos uma aranha, o nosso córtex elabora um bichinho asqueroso de oito patinhas, mas ao vermos uma, essa informação nem passa pelo lado racional do cérebro, ela vai direto para as nossas emoções (instinto de sobrevivência) e a reação de proteção é imediata. O mesmo princípio pode ser aplicado à leitura de uma embalagem, na primeira visualização já temos um julgamento formado. Para se ter uma ideia, um dos primeiros pensamentos que temos ao ver a embalagem de um produto é o preço, isto é, logo pensamos se é barato ou caro.

 

Como se dá a metodologia do Processo Límbico? Quanto é mais assertiva que os processos
tradicionais?

Em 2013, desenvolvemos um método proprietário: o Processo Límbico. O método parte de uma série de estímulos visuais, elaborados por um time multidisciplinar (formado por uma psicóloga junto com profissionais de criação e planejamento), com o objetivo de identificar quais as formas, cores e ideias que acionam o Sistema Límbico (região cerebral responsável pelas nossas emoções) do público-alvo. Desta forma, é possível investigar o comportamento humano por trás do processo de compra e desenvolver a estratégia e o design das marcas em questão com embasamento vindo do estudo de seus potenciais consumidores. Hoje aprofundamos o processo e já aplicamos outras metodologias como a Constelação, Antropologia Visual, Interpretação de Desenhos, etc. A estruturação de cada projeto difere de outros. O objetivo do grupo é selecionar o melhor método para atingir o sistema límbico das pessoas. Encaramos o consumidor como um ser humano e sob esse olhar, investigamos as emoções latentes que serão os motivadores da compra. Essa metodologia desenvolvida tem se mostrado muito eficiente, tendo se tornado uma ferramenta que garante muita assertividade nos projetos de estratégia e design desenvolvidos por nós. Tanto é que o Processo Límbico já foi utilizado em mais de 45 projetos para grandes companhias, incluindo cases internacionais no Peru, Costa Rica, Venezuela, Argentina e agora nos EUA. O ser humano tende a mentir em três ocasiões: quando se exige respostas rápidas, sob pressão ou quando ele não quer estragar a sua imagem perante os outros. Essas três ocasiões acontecem comumente nas pesquisas qualitativas de embalagens. Por isso, acreditamos que o Processo Límbico é mais efetivo que as metodologias tradicionais como uma ferramenta cocriativa, pois evita as respostas racionalizadas pelos entrevistados.

O que é Constelação Sistêmica?

A Constelação Sistêmica é uma ferramenta poderosa que ajuda visualizar a realidade de uma maneira mais clara. Por meio da análise da posição das pessoas num espaço, ou uso de peças/bonecos, é possível contar com a informação que o corpo ou movimentos trazem, mas que é inacessível ao pensamento racional. Pela disposição das pessoas, para onde olham, como se movimentam, a forma que interagem entre si, ou a forma que trabalham com os bonecos, os participantes (com a ajuda do especialista envolvido) conseguem entrar em contato com informações que antes permaneciam inconscientes, além de enxergar a realidade com mais clareza.

 

E Antropologia Visual?

Já a Antropologia Visual é uma metodologia de investigação que visa retratar comportamentos, atitudes e estilos de vida a partir do estudo de objetos, espaços e tudo aquilo que as pessoas escolhem para compor seu universo material.

Seu principal objetivo é revelar o conjunto de códigos e signos que dão forma à rede de significados que orienta o comportamento e auxilia na construção de identidade dos entrevistados. Mais do que um método de coleta de dados, ela é uma maneira de experimentar, interpretar e representar a forma particular de como as pessoas percebem o mundo ao seu redor.

Novamente, nesse caso, os entrevistados não interferem conscientemente nos resultados.

 

Quando uma ou outra metodologia é aplicada? Dá para exemplificar?

Aplicamos a Constelação em projetos em que foram necessário ouvir tanto os pais (que são os compradores) quanto os filhos (os consumidores).  Desta forma, por meio de uma brincadeira das crianças com bonequinhos, o método conseguiu as informações necessárias e qual deveria ser o grande diferencial de posicionamento do produto em questão. Já a Antropologia Visual
foi utilizada em estudo alimentício, no qual as imagens nos trouxeram informações inconscientes que resultaram em um design gráfico proprietário e emocional para a categoria, além da ideia de novos utilíssimos brindes que jamais sairiam de uma pesquisa tradicional.

 

Desde quando a agência aplica essas
metodologias?

A ideia de criar essas metodologias surgiu bem antes da Narita existir, foi desde o início da minha carreira. Por isso, posso dizer que “sua gestação” levou 40 anos, já que é uma somatória de peças que foram se encaixando durante toda a minha experiência profissional. Já a concretização dela durou praticamente quatro anos e a sua execução no mercado foi a partir de 2013, ano em que começamos a aplicar os métodos. Isso mostra muito da nossa cultura: antes de sairmos com um produto para o mercado, nos preparamos, o aperfeiçoamos, e só quando estamos seguros de sua efetividade em um projeto de cliente, o colocamos na rua.

 

No mercado atual, qual tem sido o desafio do design?

Além da discussão de verbas, um desafio real e constante é conhecer o que realmente o público alvo sente. Antigamente todo lançamento era imposto para os consumidores, hoje é necessário um estudo criterioso para não fracassar e desperdiçar o investimento do lançamento. Hoje o consumidor é extremamente informado e, por isso, ele diversifica muito mais as escolhas das marcas dos produtos, tendo uma “voz ativa” e exigindo um diálogo transparente com as empresas.

 

Qual a importância do design?

O design é fundamental para uma marca. Prezo muito por um design vendedor. Trabalho com grandes marcas nacionais e internacionais, e o que preciso entregar é efetividade, market share. Então, além de despertar o desejo de compra, preciso focar na eficiência da venda desse produto, pensando em sua estratégia, seu destaque em gôndola, a oportunidade de ser um ponto de contato com o consumidor no dia a dia, entre outros pontos.

Para garantir essa entrega, cada vez mais é relevante entender esse consumidor, o ser humano que está por trás dessa compra. O Processo Límbico se tornou uma ferramenta fundamental nesses projetos, e a recompra desse produto em clientes que já trabalhamos, tem mostrado sua efetividade. Não é só o design pelo design; é um design focado em resultado.

 

Pode compartilhar algum case de sucesso?

Gosto muito do case de Toddynho, no qual, por meio do Processo Límbico, mudamos o posicionamento da marca, redesenhamos e demos um novo papel para o personagem e redirecionamos a idade do target.

 

Para quais clientes trabalha?

Trabalhamos para empresas de diversos segmentos e muitas multinacionais, como Ambev, Inbev, PepsiCo, Kimberly-Clark, Mondelez, Sanofi Aventis, BIC, BRF, Master Blenders, J Macedo, entre outras.

 

Projeta crescimento para este ano?

Projetamos um crescimento sim, porém é precipitado dizer se ele se concretizará.

 

Novidades para este ou próximo ano?

Diferentemente da indústria digital – que muda diariamente – continuaremos aperfeiçoando ainda mais o Processo Límbico, uma vez que acreditamos que o ser humano sempre será carente, procurando sempre por atenção, de ser reconhecido e ser amado.