O problema da liberação das drogas, principalmente a maconha, é assunto que mobiliza a sociedade. Nunca se discutiu tanto as consequências do uso de substâncias capazes de alterar o comportamento humano. Nesse contexto até mesmo o álcool e sua comercialização, por extensão sua propaganda, ganham enorme espaço nos veículos de divulgação.
Todo mundo tem sua opinião e se considera capaz de emitir conceitos por mais toscos e menos abalizados que sejam. Esse fato me dá liberdade para levantar uma tese que considero de profunda importância. É sobre a toxidade das redes sociais. E o mal que podem fazer. Tal como qualquer droga, cujo efeito maléfico varia de pessoa para pessoa, as redes sociais podem ser altamente prejudiciais, dependendo de quem delas faz uso.
O abuso das redes sociais sem moderação, intoxica muito mais do que substâncias cujos porte ou comercialização trazem consequências legais. E, no entanto, pessoas podem fazer uso da internet sem nenhum receio, fazendo mal para si e para os outros em proporções muito mais danosas. Maconha nenhuma pode destruir a inteligência e a capacidade de raciocínio com a mesma celeridade do que o vício na internet. Basta olhar em volta, seja onde você estiver.
Nem mesmo as drogas mais pesadas do que a (quase) inocente maconha deixam uma pessoa tão chapada ou capaz de acreditar em tanta idiotice como as redes sociais. Eu acho que tal como as advertências obrigatórias nas garrafas de bebidas e nos maços de cigarro, as redes sociais deveriam alertar os usuários sobre os malefícios do uso imoderado.
Desde a crença na terra plana até opiniões sobre economia, a internet pode ter consequências bastante maléficas. É uma terra sem lei e muitas vezes sem responsabilidade. Todos nós sabemos o que a inteligência artificial pode fazer. Ou melhor dizendo, alguns de nós conseguem ver o mal que já está se fazendo com o imenso arsenal de ferramentas à disposição.
Não devemos acreditar na falácia de que as redes são uma extensão ampliada da antiga Ágora, ou brasileiramente pracinha da matriz. Nesses lugares havia a possibilidade de troca de opiniões, ainda que eventualmente manipuladas. Na internet, não.
Hoje a tecnologia permite identificar não só o que você pensa, isso é fácil, mas também identificar a maneira de fazer você mudar de ideia usando seus hábitos e a extensão de seus afetos e medos. Tudo isso é muito bom, muito bonito, minha tese levou você a me ler até aqui.
Mas, na verdade, eu ando preocupado com a opinião que os computadores têm a meu respeito. Para escrever um livro sobre Carlos Zéfiro, o autor das revistas eróticas (eufemismo para “revistinhas de sacanagem”) que embalaram os sonhos da infância de minha época, andei pesquisando esse tipo de publicação na internet.
A rede me identificou como um consumidor desse estilo – digamos – de literatura. E passou a me enviar todo tipo de ofertas ligadas ao tema. Não posso abrir meu computador sem receber anúncios de livros, revistas, filmes, até mesmo máquinas e objetos da área.
Engraçado que o sistema não me identificou como consumidor do material ao vivo, tanto que não recebi uma única oferta oriunda de alguma casa de prostituição, sites de encontros ou espetáculos pornô. Mas de livros, revistas e equipamentos tenho sido procurado por centenas de fornecedores. Ofertas das tais revistinhas de Zéfiro, dezenas.
E ainda coleções do Rio Nu, Ele & Ela, Playboy, livros e revistas “suecas”. O mais engraçado de tudo é que uma empresa especializada em produtos eróticos tem em seu acervo um grosso (epa!) compêndio médico sobre ginecologia. Fosse eu quem eles acham que sou, não perderia essa oferta.
Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor (lulavieira.luvi@gmail.com)