O caso do William Waack não é uma questão de Justiça, mas de responsabilidade. Que a Globo teve e ele não. Tampouco é uma questão ideológica (como li em nossas fabulosas redes sociais, Waack foi afastado porque é de direita e a Globo, comunista). O afastamento do apresentador constitui uma questão meramente operacional. Nisso, Globo e Record têm alguma coisa em comum, inclusive. Lembram do bispo que chutou a santa no ar? Foi afastado. E olha que ele apenas levou a extremos o pensamento do próprio dono da emissora. Mas a empresa esteve acima disso. Edir Macedo sabe que o seu negócio tem clientes católicos, umbandistas, mórmons…
A família Marinho sabe que tem clientes brancos, negros, pardos, amarelos… A tentativa de atribuir ao momento de extremismos estúpidos em que vivemos a decisão da Globo é produto da cegueira de quem não quer ver o lado pragmático e mercadológico da questão. Li dezenas de artigos de jornalistas famosos, alguns bem respeitados, defendendo Waack.
Gastaram vocabulário de primeira defendendo o indefensável ou sugerindo o óbvio. É óbvio que William Waack é um profissional culto, talentoso e brilhante. É óbvio que seu afastamento é uma perda para a grade de programação de qualquer canal de televisão. É óbvio que (provavelmente) ele não seja dado a práticas racistas. Mas Waack cometeu uma infração administrativa grave na empresa em que trabalha. Sem falar no delito legal confesso.
Uniram-se, ainda, a nomes consagrados no vozerio que atribuiu a decisão da Globo à “hipocrisia do politicamente correto”, apresentadores de programas, contratados por algumas emissoras de rádio para interpretar personagens fomentadoras de polêmica. Uma delas, ocupando microfone com história e audiência, chamava despudoradamente de “babacas” os que concordavam com o afastamento de William Waack do Jornal da Globo e da GloboNews. Só não respondo que a babaca é ela porque suponho que falar desse jeito é o seu ganha-pão.
O fato é que qualquer um de nós no papel de decidir a sorte do apresentador, se movido pelo bom senso, teria de afastá-lo. Nem que fosse para esperar a poeira baixar e estudar, no mínimo, uma retratação. Fora isso, podemos tratar do secundário. William Waack é antipático, fez uma porção de desafetos e armaram para ele. Ok, se você é antipático e faz um monte de desafetos precisa redobrar o cuidado para não dar a barbada de armarem contra você.
A vaidade e a soberba são péssimas conselheiras e extremamente mentirosas com relação à nossa sensação de inatingibilidade. E, sob esse aspecto, a Globo é uma tremenda casca de banana. Muito bem retratada, aliás, por Chico Anysio no inesquecível Bozó. Agora, se quiserem, falemos de racismo.
O que é ser racista? O que eu preciso fazer para provar que sou racista? Verbalizar expressões de cunho preconceituoso com os negros não seria por acaso uma forma bem contundente de deixar claro o meu racismo? Era uma conversa privada, alega-se. Mas, afinal, é verdadeira ou não aquela máxima que fala que ética é aquilo que a gente faz quando não tem ninguém olhando?
Stalimir Vieira é diretor da Base Marketing (stalimircom@gmail.com)
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