Inovação é a palavra da vez. Quase desgastada pelo excesso de uso, é o conceito que a maioria das empresas quer incorporar aos seus negócios para não ficar para trás na “corrida maluca” dos tempos atuais, em que tudo parece andar rápido demais. Diariamente, o conceito de inovação é cobrado nas reuniões de planejamento e de balanço e consome as mentes mais brilhantes do cenário corporativo, que dedicam boa parte do seu tempo a repensar negócios, produtos, serviços, pontos de venda, atendimento ao cliente, comunicação. Por outro lado, não há nada mais difícil do que mudar – sair da zona de conforto, implementar de fato a novidade, “mexer no time que está ganhando”, como se diz.
Com o objetivo de ajudar empresas nesse processo – buscar o que é realmente inovador e de fato fará diferença nos negócios –, a Ydreams, empresa especializada em espaços inteligentes, criou uma consultoria em inovação chamada Ythinking. “A inovação está dentro do DNA da Ydreams. E trabalhar esse conceito é um desafio, porque o mundo faz com que sejamos acomodados. A nossa cultura muitas vezes nos leva a acreditar que a vantagem está em não mudar. Há um milhão de desculpas nas empresas para não sair do lugar”, diz Karina Israel, diretora-executiva da Ydreams.
Ela afirma que todo mundo diz que adora inovação até que ela de fato afete sua vida. Inovar não é uma questão tecnológica: é humana. Pessoas costumam resistir à inovação, querem ficar “agarradas” a um lugar certo. Mas o fato é que não existe mais “lugar certo”, ou certezas. “No mundo de hoje, a única certeza que temos é a mudança. Tudo muda muito rápido, o mundo é fluido, líquido – como diz o sociólogo Zygmunt Bauman. As pessoas tentam não fazer coisas, para não correr riscos. É o famoso ‘se não está quebrado, não conserte’. Isso está enraizado na mente de muitas pessoas. Ocorre que, se uma empresa não se mobiliza para mudar, será engolida. Empresas que vêm sobrevivendo ao longo do tempo o conseguem, em geral, porque mantém ativo o pensamento da inovação, como a IBM”, diz Karina.
Ela conta que os investidores globais estão sempre de olho, ao redor do mundo, em pessoas e negócios que se arriscam e buscam “dar os próximos passos” nas indústrias – com um quê de artistas. E que, justamente no Brasil e na América Latina, este é um perfil mais difícil de localizar.
Garantia
Em reuniões com clientes, Karina costuma ouvir a seguinte pergunta: mas alguém no Brasil já fez isso? Se fez no exterior, não costuma ser o suficiente. Ser o primeiro no país a experimentar algo gera enorme insegurança. Muitas empresas querem uma espécie de “garantia” de que o novo vai dar certo. Mas isso não existe. Faz parte do jogo de inovar. “Claro que há empresas que conseguem enxergar – e fazer – o novo. Mas em geral há muita insegurança, ainda”.
Um exemplo que ela menciona é o Bradesco, para o qual a empresa desenvolveu recentemente caixas de autoatendimento – Bradesco Next – com novo design para aumentar a privacidade dos clientes, que ficam de lado para a fila. Eles enviam, por exemplo, comprovantes de transações de transferência por e-mail, dispensando o uso de papel, e as transações podem ser realizadas com o dispositivo “contactless” para leitura de cartões – em três idiomas: português, inglês e espanhol.
Inovar também leva tempo. Se há espera demais para implementar uma mudança, o tempo de espera para a implementação pode ser a morte de uma empresa. “Nós nos guiamos pelas mudanças nos hábitos das pessoas, e essas mudanças as tornaram mais exigentes, mais críticas em relação a produtos e serviços, a buscarem cada vez mais o novo, o mais rápido, o menos burocrático, o mais simples. Esse fenômeno é favorecido pelas novas tecnologias. Muitas empresas precisam de ajuda para acompanhar essas novas demandas dos seus clientes e abrir divisões novas, melhorar produtos e serviços, tornar processos mais rápidos, refazer negócios obsoletos”, observa Karina.
Adaptação
Não há muito limite para o que a consultoria pode de fato fazer, e para isso a metodologia normalmente aplicada às demandas do dia a dia da empresa foi adaptada. São basicamente cinco etapas: identificação e panorama do mercado, imersão e definição das melhores oportunidades que conduzam ao projeto conceitual, detalhamento dos requisitos técnicos, identificando os key issues e resultados esperados, implementação do projeto e acompanhamento e gerenciamento dos resultados. Foram investidos R$ 300 mil na implantação da área no Rio de Janeiro, realocando pessoas de novos negócios com experiência em consultorias como a Deloitte. Espera-se um faturamento de R$ 1 milhão no primeiro ano.
“Conhecemos os caminhos e as tecnologias disponíveis para ajudar a melhorar uma oferta que pode estar obsoleta. O que sempre usamos para ajudar as empresas e para encontrar novas maneiras de fazer coisas, utilizaremos na consultoria para ajudá-las a pensar, sem projetos prontos”, diz a diretora.
A empresa vem sendo procurada por empresas do segmento de educação, por exemplo. Karina afirma que esta é uma das áreas que mais tem buscado soluções de inovação. “A busca hoje é muito mais por engajar pessoas no processo de aprendizado e menos por criar projetos mirabolantes de e-learning, por exemplo. O foco é modificar o conteúdo do que se ensina, o modelo tradicional de salas de aula, de disseminar conhecimento. Não existe educação sem engajamento”, explica a executiva.
Uma das etapas principais é a pesquisa – e ela pode ou não levar à implementação de um projeto. Muitas vezes chega-se à conclusão de que o mercado ainda não está pronto para algo. Mas mapeia-se o que pode ser feito. Faz parte do desafio de desenhar o futuro.