Estou voltando de Cuiabá, onde fui participar das festas que marcaram o 20º ano do Prêmio Gazeta de Comunicação, um evento de humilhar boa parte dos prêmios de propaganda existentes por aí. Não digo só pela qualidade das peças apresentadas, algumas de excelente padrão, mas pela qualidade da recepção. Eles convidaram os profissionais que durante estes 20 anos fizeram parte do júri do prêmio. E não economizaram em classe, simpatia e charme.

Durante três dias fomos tratados maravilhosamente bem, em todos os sentidos. A festa num lugar chamado de Cenário Pantanal merece ser copiada pela maioria dos eventos feitos no Rio ou em São Paulo. Pra começar, só pra começar, a trilha sonora foi feita ao vivo por uma orquestra completa e crooners de primeira linha cantando standards da Broadway. Minha mulher, distraída, chegou a achar que estava ouvindo um CD da Sutton Foster. E era uma cantora local! Dia seguinte, tivemos um passeio de madrugada pelos rios do Pantanal, com direito a observar pássaros e bichos no seu habitat. E assim por diante, com muita comida boa e incomensurável quantidade de cervejas, caipirinhas e vinhos. Claro que, durante todo o tempo, velhos e novos amigos se juntaram para contar casos de propaganda.

Histórias como esta, acontecida há muito tempo atrás, quando Armando Morais Sarmento, presidente mundial da McCann, foi eleito publicitário do ano nos Estados Unidos. Nunca nenhum publicitário brasileiro chegou tão longe. E o título foi dado após uma pesquisa entre centenas de ilustres publicitários americanos promovida pelo Advertising Age, uma imitação do propmark que eles editam por lá.

Evidentemente a McCann brasileira resolveu fazer uma festança de arromba. Era finalmente os Estados Unidos de joelhos diante do Brasil. O Mozart dos Santos Melo, gerente da filial Rio, juntou a fina flor da agência para preparar uma homenagem à altura do acontecimento. O Armando viria ao Brasil e era preciso aproveitar a ocasião. Uma reunião foi marcada e todos os candidatos a presidente da McCann estavam presentes. Isto é, a agência inteira. Um pouco antes da tal reunião, o Mozart tinha chamado a recepcionista e dado uma enorme bronca porque ela deixava todo mundo entrar na criação: contrabandista, vendedor de livros, fornecedor… A tal reunião para o Sarmento nasceu, portanto, duplamente recomendada para não ser interrompida, a importância da pauta e a violenta bronca do gerente quanto à presença de “pessoas estranhas” nas chamadas dependências de trabalho.

E dá-lhe sugestões. De encontro com o presidente da República a desfile em carro aberto pela Rio Branco, tudo foi pensado, notícia no “Repórter Esso” (o mais fácil, pois era a própria McCann quem cuidava do programa), edição especial da revista Propaganda, entrega do troféu para a Miss Brasil, tudo foi cogitado. O assunto era tão quente que poderia ser até capa de O Cruzeiro, a maior revista da época: “Sarmento, o Rei de Nova York”. A nossa humildade e modéstia de sempre.

As horas iam passando e a recepcionista, que aliás namorava um cara do RTVC e achava trabalhar na McCann o máximo, segurou todo mundo que não era da McCann no corredor sem ar condicionado dizendo que o “seo” Melo tinha dado ordens de não ser interrompido de jeito nenhum.

Foi talvez aconselhada pelo namorado que ela, muito sem jeito, pedindo mil desculpas, entrou na sala de reunião e avisou que tinha um baixinho lá fora, furioso, esperando há duas horas, que começava a ameaçar tomar uma providência mais séria e que talvez fosse importante atender.

Era o Armando de Morais Sarmento. O publicitário do ano em Nova York.